terça-feira, março 03, 2009

Dois pesos, duas medidas

Muito eloquente e óbvia a promessa de Clinton de que os EUA apoiarão qualquer governo israelita. De resto, outra coisa não seria de esperar de quem apadrinhou e sustentou a fundação do estado sionista à custa da sistemática destruição da nação palestina.
Naturalmente que em relação à outra parte já não adopta semelhante posição, mesmo que o governo do Hamas tenha resultado de eleições tão democráticas e livres quanto as israelitas, e as suas acções terroristas, condenáveis, sem dúvida, sejam incomensuravelmente menos letais que o terrorismo devastador e genocida de Israel.
Ao mesmo tempo promete 900 milhões de dólares para reconstrução daquilo que os seus amigos espatifaram. É o preço para aliviar a má consciência. Aos milhares de vidas criminosamente ceifadas é que não há nada que os pague.
 

Daqui ninguém sai vivo

Não cometo qualquer exagero quando afirmo que o capitalismo está agónico. São cada vez mais devastadoras as evidências dessa realidade.
A História prepara-se para encerrar um capítulo a um tempo grandioso e vergonhoso.
Contra a ganância imoral de uma minoria, temos de ser capazes de construir um Futuro diferente, assente na solidariedade e na justiça social. Senão, como diria Jim Morrison, "daqui ninguém sai vivo"!

segunda-feira, março 02, 2009

A proletarização dos professores

O estabelecimento de quotas para as classificações mais elevadas — "Excelente" e "Muito Bom" — faz tanto sentido na avaliação do desempenho dos docentes (ou de outro qualquer grupo profissional) como na dos alunos, ou seja, nenhum. 
Trata-se, com efeito, de uma grosseira violação do princípio constitucional da igualdade dos cidadãos perante a lei, na medida em que não garante que todos, sem excepção, obtenham a classificação correspondente ao seu efectivo desempenho profissional.
A avaliação, se isso lhe podemos chamar, com todo o cortejo de aberrações e enormidades que a constituem, não prossegue objectivos pedagógicos e formativos. É, isso sim, um filtro para proletarizar a maioria dos professores e, deste modo, reduzir os custos com a Educação.

domingo, março 01, 2009

O congresso da União Nacional

Descontando o PSD, mais preocupado com a pompa e circunstância do Conselho Europeu, toda a oposição foi unânime sobre o verdadeiro interesse do congresso do P"S".
O CDS considerou-o "decepcionante" e "com pouco para o futuro",  o PCP afirma que ele serviu para "esconder a situação desgraçada a que o PS e o Governo conduziram o país", o Bloco de Esquerda diz que "os socialistas estão sem propostas que mobilizem os portugueses" e, para a CGTP, o "P"S" está "mais preocupado em manter poder do que em discutir o país".
Por mais incrível que pareça, todos têm razão. 
Tratou-se apenas de um ritual para exorcizar a campanha negra da comunicação social, um Te Deum de acção de graças ao querido líder José Chico-Esperto Sócrates. A lembrar os tempos do "orgulhosamente sós" da União Nacional salazarista.

A corrupção compensa

Processos de enriquecimento ilícito arquivados por falta de provas e carência de meios? Condenações por corrupção activa com penas de 5 mil euros? Não haja dúvidas de que, em Portugal, há um certo tipo de crime que compensa. E muito.
Maria José Morgado diz aquilo de que todos nós já suspeitávamos, que as leis favorecem a corrupção. E o P"S", que em 2007 impediu a criminalização na lei portuguesa do ‘enriquecimento ilícito’, como propunha João Cravinho, afasta-o da vez da Comissão Nacional. Antes que ele se lembrasse de voltar à carga.
Corruptores activos e passivos podem dormir descansados com o actual poder político.

Portugal às escuras

  1. Quem faz parte de um partido em que muitos dos seus mais destacados dirigentes e militantes, mascarados de socialistas, outra coisa não têm feito senão aproveitar-se da política para tratar da vidinha — julgo não ser preciso citar nomes… — não tem qualquer autoridade moral para acusar outros, sem qualquer fundamento, de usarem máscara e serem parasitas. Antes de falarem, deveriam ver-se ao espelho…

  2. José Sócrates pediu uma nova maioria absoluta e definiu o combate ao desemprego como a primeira prioridade da sua governação.
    Seria bom que os portugueses se lembrassem que, há quatro anos, ele também promete, entre outras coisas, criar 150 000 novos postos de trabalho e o que hoje temos é mais de meio milhão de desempregados.
    É claro que tirar uma licenciatura por fax ou comprar uma casa por metade do preço é bem mais fácil do que resolver os problemas do país mas do que nós verdadeiramente precisamos é de um primeiro-ministro e não de um chico-esperto.

  3. Há uma esquerda no P"S"? Tenho sérias dúvidas…
    Não basta cantar a liberdade como ninguém. Mais do que uma palavra, a liberdade é uma afirmação, um exercício, uma luta permanente (mesmo que silenciosa).

  4. O governo autocrático de Sócrates interrompeu o normal funcionamento da democracia e agravou as condições de vida dos portugueses. A isto chamo eu um apagão. De que brevemente nos livraremos, espero.

sábado, fevereiro 28, 2009

A agonia do capitalismo

A crise é só para alguns. 2008 foi um ano negro para o sector automóvel, mas a Rolls Royce conseguiu […] o melhor ano de vendas em toda a sua história. [Diário Económico]
A crise em que estamos literalmente mergulhados é, muito mais do que financeira e económica, social. Pode mesmo vir a ser mais radical que a Grande Depressão de 1929. Por isso muitos a consideram uma crise sistémica. Com ela, o sistema capitalista e a actual (des)ordem económica internacional têm os dias contados. Mais tarde ou mais cedo, a bem ou a mal. Metade da humanidade a (sobre)viver abaixo do limiar da pobreza e ultrajes como o que a notícia relata reclamam-no.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Viva o Estado de Direito

Violar a Lei e não cumprir ordens judiciais pode, deve, tem de acarretar consequências. Mais ainda quando o infractor é o próprio Estado ou quem o representa. Ainda por cima, de forma incompetente e arbitrária.
Lamentavelmente, às vezes, demasiadas vezes, o Estado de Direito não funciona devidamente. Ainda bem que neste caso tal não aconteceu.

De cavalo para burro

"Entre 2000 e 2004, portanto nos quatro anos anteriores a Sócrates, a população empregada com o ensino básico ou menos diminuiu em Portugal em 200,4 mil, ou seja, à média de 50,1 mil por ano; e a população com o ensino secundário aumentou em 98,4 mil (24,6 mil por ano) e a com o ensino superior cresceu em 204 mil (51 mil por ano). No período 2004-2008, ou seja, nos quatro anos de governo de Sócrates, a população empregada com o ensino básico ou menos, diminuiu apenas em 119,2 mil (29,8 mil por ano), a com ensino secundário aumentou em 93,9 mil (23,5 mil por ano), e a com ensino superior cresceu em 100,3 mil (25,1 mil por ano). Isto significa que Portugal para atingir um nível de escolaridade semelhante ao que tinham os países da OCDE e da UE em 2006, ou seja, a população com um nível de escolaridade igual ou inferior ao básico completo representar apenas 31%, precisaria de 29 anos ao ritmo anterior à entrada em funções do governo de Sócrates, e de 51 anos ao ritmo de diminuição da população com o ensino básico ou menos verificada durante os quatro anos de governo de Sócrates. É claro o retrocesso com Sócrates.

O fracasso da reforma de ensino do governo de Sócrates e a desorganização que ela tem provocado em todo o sistema levou este governo a uma fuga para a frente. O governo de Sócrates criou um programa a que chamou "Novas Oportunidades" que tem como objectivo dar milhares de diplomas do 12º ano.

É desta forma que o governo pretende alterar as estatísticas sobre o baixo nível de escolaridade da população empregada, e isso é o que parece ser mais importante para este governo, preocupando-se pouco com os efeitos que isso poderá ter futuramente no processo de desenvolvimento do País." (Eugénio Rosa, em resistir.info)

Caso para concluir que, por mais loas que alguns teçam à política educativa de José Sócrates, com o senhor engenheiro andamos de cavalo para burro (salvo seja).
E quanto à farsa das "Novas Oportunidades", outra coisa não seria de esperar de um chico esperto que obteve uma licenciatura recorrendo aos subterfúgios que todos sabemos.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

EUA, uma república das bananas?

"Ao continuar a apoiar os instrumentos do Tesouro americano, a China reconhece a nossa interdependência. Claramente, vamos sair disto juntos ou cair juntos".
Palavras de Hillary Clinton, que pediu à China, que é a primeira detentora de títulos do Tesouro norte-americano, para continuar a comprá-los , numa altura em que a maior economia mundial enfrenta o crescimento da sua gigantesca dívida , há muito tempo financiada pelo investimento de países estrangeiros em obrigações emitidas pela Reserva Federal americana (FED).
Porém, há quem pense que não só a China, mas também o Japão e a Arábia Saudita, países que detêm quantidades enormes de títulos da dívida do Tesouro dos EUA, querem é vendê-los antes que desvalorizem ainda mais. E, como os americanos já não conseguem poupar, só resta à FED imprimir "nota verde" para comprar Títulos do Tesouro e, desse modo, financiar a Administração.
Quando isto acontecer — e receio que não falte muito — o dólar americano deixará de ser divisa de reserva, deixará de ter valor, passará a divisa de uma "república das bananas".
Os EUA deixarão de poder pagar as importações, um problema grave para um país dependente de energia, bens manufacturados e produtos de tecnologia avançada. [cf. Paul Craig Roberts, aqui]
Pensam que isto é ficção? Os próximos meses, sim meses, encarregar-se-ão de mostrar que é muito ténue a fronteira entre a ficção e a realidade.

O governo do "povo" (leia-se polvo)

Ao fim de quatro anos de governo-Sócrates o desemprego atinge 574 200 portugueses, dos quais, apenas 262 300 recebem o correspondente subsídio.
Mesmo considerando que estamos perante uma crise económica generalizada, para quem apregoou que durante esta legislatura iria criar 150 000 novos postos de trabalho, trata-se de um resultado pouco menos do que catastrófico, tanto mais inaceitável quão criminosa é a forma como têm sido esbanjados milhões do erário público para colmatar as obscuras negociatas de banqueiros sem escrúpulos e cobrir os prejuízos dos especuladores.
E diz José Sócrates que o P"S" é o partido socialista da esquerda popular! Olha se não fosse…

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Já bastaram 48 anos de censura!

Depois da proibição do Ministério Público a uma sátira do Carnaval de Torres Vedras ao Magalhães, por causa de um minúsculo autocolante com umas mulheres vagamente desnudadas (proibição que, de tão ridícula que foi, haveria de ser levantada), foi agora a vez da polícia de Braga invadir uma feira de livros e apreender alguns exemplares em cuja capa é reproduzido o quadro "A Origem do Mundo", do pintor realista Gustave Courbet, os quais, para os zelosos agentes, mais não são do que material pornográfico, pelos vistos, mais ofensivo que o estendal de revistas, essas sim, efectivamente pornográficas, que se vendem na maioria dos quiosques do país.

É certo que estamos numa quadra propícia a este tipo de palhaçadas (sem qualquer ofensa aos verdadeiros palhaços, cuja arte aprecio). No entanto, porque já vi este filme noutros tempos, não posso deixar de ficar inquieto. É que não aceito de forma alguma que ignorantes, fardados ou não, se arvorem em polícias de costumes e guardiões da moral pública. Já bastaram 48 anos de censura!

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

O que faz falta é acordar a malta

A carta que há dois anos escrevi ao Zeca, com as palavras que ele nos deixou, permanece dolorosamente actual.
Ele bem queria que esta fosse uma terra da fraternidade mas, vinte e dois anos depois do seu falecimento (e trinta e cinco após Abril), por cá, quem trepa no coqueiro é o rei e os vampiros continuam a chupar o sangue fresco da manada.

Num tempo em que a injustiça social é mais aguda que nunca e a democracia jamais esteve tão adormecida, o que faz falta é acordar a malta.

Estarás sempre connosco, Zeca Afonso!

domingo, fevereiro 22, 2009

Não basta ser sério, é preciso parecê-lo!

Primeiro, a história mal contada da licenciatura por fax. Depois, a telenovela do licenciamento relâmpago do Freeport, as cunhas do tio Júlio e o misterioso desaparecimento de quatro milhões de euros, de luvas. E a assinatura de projectos de moradias, feitos por outros, na Câmara da Guarda. E mais a compra do andar da mãe numa empresa sediada num paraíso fiscal. E ainda a declaração do prédio onde mora por um valor muito inferior ao seu verdadeiro preço. E agora a nomeação de homens de confiança nos cargos mais diversos criando uma rede tentacular de influência. Enfim, cada cavadela, cada minhoca — num país onde a Justiça é lenta e frouxa perante os fortes, ainda bem que a imprensa é livre e corajosa!
Depois de todos estes indícios — e a procissão ainda vai no adro — José Sócrates até pode nem vir a ser constituído arguido e, muito menos, condenado do que quer que seja, mas além de já ser tido por mentiroso, de uma coisa não se livrará mais: a suspeita de um comportamento falho de seriedade e de transparência. E a um primeiro-ministro, como à mulher de César, não basta ser sério, é preciso parecê-lo!

É bom mas não chega!

Na maioria dos casos, as escolas portuguesas não são propriamente locais confortáveis e seguros. No inverno, tirita-se de frio, no verão, assa-se com o calor, e durante todo o ano, as coberturas de amianto põem em risco a saúde de quantos lá estudam ou trabalham.
Mas a sua requalificação, que há muito urgia, vai finalmente acontecer. É bom.
Mesmo que seja apenas a pretexto do combate à crise e ao desemprego.
Mesmo que as obras, decorrendo numa altura crítica do calendário escolar, venham a perturbar, inevitavelmente, as condições de trabalho de alunos e professores.
Mesmo que tudo isto, incluindo a necessária renovação de equipamentos e difusão de novas tecnologias, de nada valha se não for acompanhado de uma política educativa baseada no rigor e exigência das aprendizagens e na valorização dos recursos humanos.
É que, por mais Magalhães que se distribua às crianças, por maior que seja o choque tecnológico, por mais modernas que sejam as nossas escolas, se os professores continuarem a ser desautorizados, ofendidos, humilhados, a Escola Pública não terá futuro. Com tudo o que isso representaria de trágico para o país.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

P"S", do lado errado da história

António Arnault, socialista convicto (uma espécie em vias de extinção, como já aqui referi) que ainda mantém o vínculo ao partido que ajudou a criar e fundador (e utente, como orgulhosamente confessa) do Serviço Nacional de Saúde, defendeu ontem à noite na SIC Notícias, com a frontalidade que o caracteriza, a extinção das taxas moderadoras:
"Faço um apelo veemente à direcção do grupo parlamentar do PS e a todos os deputados para que votem a eliminação das taxas moderadoras respeitantes a cirurgias e internamento [porque] não constituem, verdadeiramente, taxas moderadoras [mas antes] uma forma de co-pagamento, interdito pela Constituição da República."
E acrescentou:
"Não gostaria de ver o meu partido ficar do lado errado da história, num tempo de tantas dificuldades para a grande maioria dos portugueses e quando se aproxima o 30.º aniversário do SNS, de cuja criação se deve orgulhar."

As reacções não se fizeram esperar.
O líder do rebanho parlamentar do P"S", dando uma no cravo e outra na ferradura, admitiu a necessidade de discutir a questão das taxas moderadoras, mas classifica as propostas da oposição para a sua revogação como "medidas políticas para criar dificuldades ao Governo". Alberto Martins, que certamente não é utente do SNS, esquece que as taxas moderadoras são, elas sim, medidas políticas que criam dificuldades à população.
Já a Ministra da Saúde, seguindo a táctica habitual do governo de ignorar as críticas e os protestos, não comenta o apelo de Arnaut e insiste que "os portugueses têm que perceber que a saúde é muito cara". Como se os mais pobres, que são cada vez em maior número e não suportam o pagamento das taxas, o não tivessem já percebido há muito tempo!
Enfim, tenho muitas dúvidas que as palavras de António Arnault encontrem eco em políticos desta estirpe. Este P"S" há muito que está "do lado errado da história"!

Assim se "respeita" a autonomia das escolas!…

A Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) contrariou hoje uma decisão do Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura – que decidira fazer a festa de carnaval dentro do estabelecimento – e ordenou ao Conselho Executivo que convoque os professores para fazerem o desfile pelas ruas, amanhã à tarde.
Em tempo, esta imposição da grotesca popota não é apenas um abusivo atentado à autonomia das escolas. Pior do que isso, é um acto absolutamente prepotente e discricionário, inaceitável numa sociedade que se pretende democrática. Mesmo que seja Carnaval.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Falta pouco para chegarmos ao Brasil!

Em 2005, o Banco Mundial asseverava que, não fora a corrupção que existe no nosso país e Portugal poderia atingir o nível de desenvolvimento da Finlândia
Acontece que, lamentavelmente, este verdadeiro crime de lesa-sociedade tem vindo a grassar de tal forma que, de 2005 a 2008, Portugal caiu do 26.º para o 32.º lugar da lista da Transparency International.
É provável que o fenómeno radique no défice de educação e cidadania da nossa população em relação aos nórdicos mas do que não há dúvida é que alguns dos nossos governantes e homens de negócios não são propriamente exemplos de transparência ou mesmo seriedade. Basta recordar os casos em que se envolveram alguns Presidentes de Câmaras Municipais, banqueiros e gestores, e até o Primeiro-Ministro.
E a Justiça, que poderia e deveria dar um decisivo contributo para combater o flagelo, arrasta penosamente os processos, que acabam quase sempre por ser arquivados, enquanto o Ministério Público, em vez de atacar o que devia, se preocupa sobretudo com as fugas de informação para a imprensa e, chega ao ridículo de censurar manifestações carnavalescas!
Com tanto carnaval ao longo do ano, em vez de nos aproximarmos da Finlândia, qualquer dia estamos é ao nível do Brasil!

Chocante

Em Portugal, a maioria dos pais não educa os filhos.  Porque não sabe fazê-lo, não está para se maçar com isso ou não arranja tempo para tal. Limita-se a despejá-los na Escola, raramente lá indo informar-se da sua aprendizagem. Alguns mais depressa lá passam para insultar ou esmurrar professores, prática infelizmente cada vez mais corrente num país cujo nível de educação e cidadania é inversamente proporcional ao número de telemóveis e computadores que as pessoas ostentam, onde o Estado, em vez de defender e valorizar os docentes enquanto pilares insubstituíveis da Educação, os desautoriza, humilha e vilipendia. 
Assim, não há choque tecnológico que nos valha. Que vai ser das novas gerações?

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Façamos de conta…

Os envolvidos no caso Freeport estão a prestar declarações no Departamento de Investigação e de Acção Penal (DCIAP) sobre o eventual pagamento de luvas para o licenciamento do outlet de Alcochete. Mas, se pensam que se trata de José Sócrates ou, ao menos, de Manuel Pedro, Charles Smith ou Júlio Monteiro, tio do Primeiro-Ministro, desenganem-se. Portugal é o país do faz-de-conta. Por isso, como ironiza Mário Crespo, "façamos de conta"…

Últimos capítulos da telenovela Freeportgate

Afinal, Manuel Pedro e Charles Smith foram mesmo interrogados pelo Ministério Público, da parte da manhã, e à tarde, foi a vez de prestar declarações o tio do Primeiro-Ministro
À saída do tribunal, Júlio Monteiro jurou a pés juntos que não foi constituído arguido mas a verdade é que o processo já tem arguidos.
O Zézito, como é tratado pelo tio Júlio, é que não pode ouvir os jornalistas falar em "Freeport". Foge deles como o diabo da cruz!…

Aguardemos pelos próximos capítulos mas não alimentemos demasiadas expectativas. É que o histórico do combate que (não) tem sido feito à corrupção no nosso país não nos deixa muito optimistas.

Imitar o pior

Entre os vinte e sete países da União Europeia, somos o que regista a maior desigualdade na repartição do rendimento, ou seja, aquele onde os ricos são mais ricos e os pobres são mais pobres (cf. Eurostat).
Caso para concluir que, desgraçadamente, Portugal imita o pior da América!

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Bush vive refastelado, Saddam foi enforcado

A invasão do Iraque foi um acto ilegal e prepotente, ao arrepio do Direito Internacional e das Nações Unidas. Mas, pior do que isso, foi um hediondo crime de guerra que redundou na destruição de um país e no genocídio de mais de um milhão de iraquianos.
Tudo a pretexto da pretensa busca de arsenais de armas de destruição em massa, que, na realidade, não existiam, e da destituição de um regime, ditatorial, é certo, mas que nada tinha a ver com Bin Laden e os terroristas da Al Qaeda e não constituía uma ameaça à segurança mundial.
Justificações esfarrapadas que cedo caíram no ridículo, ao mesmo tempo que se tornava claro que o pistoleiro Bush o que pretendia era confiscar o petróleo iraquiano e garantir chorudos negócios ao complexo industrial-militar americano.
Faltava ainda, no entanto, a "cereja em cima do bolo". E ela apareceu.
125 mil milhões de dólares, destinados à reconstrução do Iraque, ter-se-ão esfumado por obra e graça de altas patentes militares dos Estados Unidos, naquela que poderá ser a maior fraude da história americana.
Entretanto, o grande responsável por esta tragédia e, graças à sua desmiolada política, é preciso não esquecê-lo, pela insegurança e a crise que o mundo atravessa, vive refastelado no seu rancho do Texas. Por muito menos do que isso, Saddam Hussein foi enforcado.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Espécie em vias de extinção

No P"S" impera o unanimismo, o medo, a fidelidade canina. É o preço que não hesitam pagar aqueles que apenas pretendem tratar da sua vidinha e alcançar aquilo que pelos seus méritos pessoais, por si só, não conseguiriam.
Mas no partido de Sócrates ainda há militantes com princípios, valores, coluna vertebral, numa palavra, socialistas. Lamentavelmente, uma espécie em vias de extinção. Como o lince da Malcata.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Que socialismo?

Que os grandes grupos económicos são o "ambiente propício" para o uso de expedientes que levam à perda de receita fiscal do Estado e, por isso, "deverão constituir o alvo prioritário da administração fiscal", como refere um relatório da Inspecção-Geral de Finanças, nós já sabíamos.
O que também agora ficamos a saber é que as medidas adoptadas pelo Governo para combater essa situação ficaram aquém das propostas da IGF.
Por alguma razão Portugal continua ser um dos países europeus com maior desigualdade social.
Apesar de ter um governo que se autoproclama socialista.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

'Fonte de males'

O ex-ministro da Educação, Marçal Grilo defendeu ontem que a Educação em Portugal necessita de "menos Ministério e mais escola e, entre outras tarefas, é necessário mobilizar os professores". E acrescentou que "as escolas têm que ser ouvidas, os sindicatos devem ter o papel de pugnar pelos interesses sindicais dos professores e os professores têm que ter uma voz no seu relacionamento com os pais e com os estudantes".
Nada de mais verdadeiro e urgente. Mas impraticável, com a o actual governo.
Do que já duvido é que "finalmente, o país e as famílias [tenham percebido] que não basta andar na escola e passar de ano, [e] é preciso saber"…
É que, também aí, a trupe da 5 de Outubro tem grossas culpas, com a sua política educativa virada para um sucesso escolar meramente estatístico e assente numa cultura de facilitismo, de falta de rigor e de exigência.
António Barreto chamou-lhe, há tempo, "fonte de males". É, por isso, imperioso e inadiável isolar aqueles fulanos por um cordão sanitário. A bem do interesse nacional e da saúde das escolas portuguesas.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Os fora-da-lei

Os 21 dias da ofensiva israelita contra Gaza, destinada a pôr fim ao disparo de “rockets” contra o seu território, saldou-se na morte de 1300 palestinianos, na sua maioria civis, entre eles centenas de crianças. Entre as acções mais contestadas está o ataque contra uma escola gerida pelas Nações Unidas, em Jabaliya, que provocou a morte de 40 civis que ali estavam refugiados. A Amnistia Internacional acusou também Israel de ter lançado bombas de fósforo branco, cujo uso é proibido em zonas com “concentrações de civis”.
Entretanto,
o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI) fez saber que está a proceder a um “exame preliminar” das queixas relativas a crimes de guerra cometidos por Israel na Faixa de Gaza, [mas] faz questão de sublinhar que “este exame preliminar não significa que vai ser aberto um inquérito”.
Perante tamanha e evidente monstruosidade, o senhor procurador-geral do TPI pensa… pensa… pensa… e nada me admiraria que decidisse mesmo não abrir inquérito. Sobretudo porque o alegado criminoso não é um estado qualquer. É Israel, que, tal como os Estados Unidos da América e a China (todos bons rapazes!), não é signatário do Tratado de Roma, que instituiu o TPI.
Enfim, como já se tinha comprovado com a invasão do Iraque, o Direito Internacional e o TPI não são como o sol, que quando nasce, é para todos!

E se Chavez fizesse o mesmo?…

A pretexto de uns morteiros artesanais — raramente provocam vítimas ou estragos de monta — que, em abono da verdade, começaram por responder à violação da trégua por parte de Israel e mais não são do que o estertor de alguém a quem praticamente tudo é negado, uma das máquinas de guerra mais poderosas do mundo não hesita em bombardear cegamente um "campo de concentração" de apenas 360 quilómetros quadrados onde sobrevive, estoicamente, encurralado, cerca de 1 milhão e meio de seres humanos.
Os israelitas não aprenderam nada com a 2.ª GM. Ou antes, aprenderam. A comportar-se como os seus algozes.
E depois ainda acusam Chavez???… De quê?… Só se for de ter dito a verdade?!… Imaginem o que seria se o presidente venezuelano se "lembrasse" de fazer, aos 15 mil judeus que vivem na Venezuela, o mesmo que os sionistas fazem aos palestinos de Gaza!!!…
Claro que isso nunca acontecerá! O homem pode ter lá as suas coisas mas o seu cadastro está sumamente mais limpo do que o dos carniceiros Ariel Sharon, Ehud Barak ou Ehud Olmert.
De resto, Chavez até já condenou o assalto à sinagoga de Caracas, como reconhece o jornal israelita Haaretz!

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Partido de Quê?…

O P"ND" (as aspas são muito importantes…) é o que é: para além do eufemismo "nova democracia", nada. Ou, para ser mais exacto, um montículo de dejectos da extrema-direita.
Pelos vistos, no entanto, alguns ainda são mais fétidos e não hesitam em conspurcar a Liberdade.
Só espero que o Tribunal Constitucional não permita tal opróbrio, uma vez que os portugueses, com os problemas que já têm de enfrentar, vão-lhes dar a devida resposta: ignorá-los.

domingo, fevereiro 01, 2009

Rio de indignação

Do rio, que tudo arrasta na sua passagem, dizem que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
Fotografia de Luís Garção Nunes (Fotomomento)

O Mondego dá-nos o exemplo. Galguemos as margens! Sejamos um rio de indignação!

Não há pachorra?!… Pois não…

Da forma como se referiu ao texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano, aqui publicado, o Vítor P., do Câmara de Comuns, mais parece assumir uma postura de lorde, sugerindo "que começa a ser escandalos[a] a escrita deste tipo de textos" e incorrendo num acto de abominável censura que os princípios democráticos que ambos defendemos, creio, reprovam. Mas esta é apenas a questão formal do problema.
A questão material, a meu ver, bem mais importante, prende-se, seguramente, com o conteúdo do texto, de que VP dá a entender não gostar, quando afirma que "já não há pachorra". E aí reside a nossa total discordância.
VP deve achar que Israel tem todo o direito de se defender por todos os meios, por todas as formas, utilisando a máquina de guerra mais poderosa do mundo, contra
"as horrendas matanças de civis causadas pelos terroristas suicidas… Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida, mas [tal como] Israel, ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba." (José Saramago)
Sobretudo quando essas razões são imputáveis ao Estado de Israel.
Começando pela sua abusiva criação em 1948 (contra a qual se insurgiu, prevendo a tragédia que daí adviria, Mahatma Ghandi), com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos e a cumplicidade das grandes potências mundiais, na maior parte (78%) das terras habitadas milenarmente pelo povo palestino (cf. A Palestina, Comissão Justiça e Paz, Portugal, 2002), e prosseguindo com a instalação de colonatos judeus nos exíguos territórios palestinos que sobraram (Cisjordânia e Faixa de Gaza), operações de limpeza étnica, de que ficou tristemente célebre o massacre de Sabra e Shatilla, a edificação de um gigantesco muro e a implantação de cercas electrificadas e de arame farpado e valas, transformando os territórios palestinos em autênticos campos de concentração.
E agora, a solução final, que os sionistas parecem ter aprendido na sua passagem pelos campos de concentração nazis da 2.ª GM. Primeiro, Sharon, o carniceiro de Sabra e Shatilla, retirou os colonatos da faixa de Gaza. A seguir, a "Operação Chumbo Fundido" (o nome diz tudo das "boas" intenções dos israelitas), que semeou a morte e a destruição num pequeno território com a maior densidade populacional do mundo, onde um milhão e meio de pessoas e crianças encurraladas nem sequer podem fugir para qualquer parte (E não se diga que quem abriu as hostilidades foi o Hamas, com os seus morteiros artesanais, porque foi justamente Israel que, mais uma vez, começou. Lá sabia porquê…)

Maio

PS 1 — Aqui podemos escrever literalmente de tudo, incluindo Cuba, Venezuela e mesmo Rússia. O problema é que há apenas um escriba e não tem tempo para tanto. Em todo o caso, o Câmara de Comuns, com uma vasta equipa de colaboradores, não me parece ser um grande exemplo de diversidade de opinião…
PS 2 — Mesmo para acabar… não percebi o que significa isto: "E trabalhar que é bom?". Defeito meu, certamente.

sábado, janeiro 31, 2009

Ninguém está acima da Lei

Podem afirmar que se inserem em cabalas hediondas, campanhas negras difamantes ou jogadas políticas soezes. Podem mesmo dizer que não passam de estratégias editoriais para incrementar as tiragens dos jornais e as audiências televisivas.
Mas por estas e por outras é que, com investigações que andam a passo de caracol e frequentemente desembocam no arquivamento dos processos, umas violaçõezinhas do segredo de Justiça não fazem nenhum mal. Muito pelo contrário: podem contribuir para a celeridade, a transparência e a equidade na aplicação da Lei.
Não basta afirmar que "Ninguém está acima da Lei", como sustenta, e bem, o senhor PGR. O que é preciso é demonstrá-lo.

De avaliador a avaliado

  1. 1.ª página do Expresso


  2. Conteúdos da 1.ª página do Sol


  3. 1.ª página do Correio da Manhã


  4. Excerto da famosa Carta Rogatória do Serious Fraud Office britânico (obtida aqui) que aponta quatro portugueses como estando sob investigação por alegações de suborno e corrupção no âmbito do "caso Freeport".
    O primeiro chama-se José Sócrates e não há quaisquer dúvidas de que se trata do Primeiro-Ministro de Portugal. Por enquanto…



sexta-feira, janeiro 30, 2009

Demagogia

Considerar ou propalar a consideração de que "quem tem medo da avaliação são os maus professores» seja uma evidência é, isso sim, uma evidente e descarada manobra de reles demagogia e torpe propaganda .
É absolutamente falso que os professores não queiram ser avaliados — pelo contrário, querem-no, desde que, de forma séria, justa, que contribua para a melhoria do seu desempenho profissional e não prejudique as aprendizagens dos alunos nem atente contra a qualidade da Escola Pública. Como despudorada é a mentira de que anteriormente não havia um sistema de avaliação docente quando, na realidade, já existia e só não funcionava em toda a sua plenitude por culpa exclusiva do Ministério da Educação (ver 8.2.9.1. Pre-school education, ensino básico and upper secondary education, na rede Eurydice).
O que os professores, muito especialmente os bons, não admitem é ser "avaliados" de forma burocrática e leviana, em apenas cinco meses, por um "modelo de avaliação", se assim podemos designar o chorrilho de asneiras e perversidades que este ministério dito da educação montou, cujo único propósito é impedir o reconhecimento da excelência e do mérito a mais de dois terços dos docentes.
Vital Moreira, pelo simples facto de também ser professor e um reputado intelectual, não teria qualquer dificuldade em entender e admitir isto, não fora desde sempre ter assumido o papel de comissário político do governo de Sócrates.
É caso para concluir, como escreveu o Pe. António Vieira, que "Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência". Quatrocentos anos volvidos, como isto é hoje tão verdade em Portugal!…

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Licenciatura, licenciamentos e outras "licenciosidades"

Primeiro foi o caso nunca devidamente esclarecido duma licenciatura obtida por processos, no mínimo, pouco ortodoxos que incluíram exames "feitos" ao domingo, provas entregues por fax e outros expedientes duvidosos, numa universidade dita independente que de independente pouco tinha e de universidade ainda menos e que acabou, de resto, por ser encerrada pelo próprio governo.
Agora, apesar de os factos terem ocorrido em 2002, as autoridades de um parceiro comunitário com um governo da mesma família política, as quais não estão certamente empenhadas em montar uma cabala contra o Primeiro Ministro português, consideram que Sócrates é suspeito de ter «solicitado, recebido, ou facilitado pagamentos» no âmbito do licenciamento do Freeport, em Alcochete. Certo é que o empreendimento foi licenciado, numa zona ambiental sensível, de forma invulgarmente rápida e, em nossa opinião, pouco legítima, uma vez que a decisão foi tomada na última reunião de um governo, além do mais, de gestão corrente. Mas parece não haver obstáculos que luvas de quatro milhões de euros não possam remover e, mesmo que elas se tenham esfumado em nebulosos paraísos fiscais sem deixar qualquer rasto, impõe-se averiguar exaustivamente se o "gato", na ânsia de se "esconder", não terá deixado "o rabo de fora" em qualquer e-mail ou conta bancária.

E podíamos ainda acrescentar a tudo isto, actos duvidosos ou politicamente inaceitáveis como as já longínquas "assinaturas de favor" de projectos de habitações do senhor "engenheiro" ou a passividade silenciosa perante as escandalosas negociatas da Banca, do senhor Primeiro-Ministro. Sem esquecer a generosa distribuição de mordomias pelos seus correlegionários na Administração e nas empresas públicas.
José Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal, tão parco em ética e transparência, tão forte com os fracos e tão fraco com os fortes, pretende avaliar os professores, os médicos, os funcionários públicos e extorquir os contribuintes até ao último cêntimo, mas tem pouca legitimidade, se é que tem alguma, e muito menos qualquer superioridade moral, para fazê-lo.
Quem tem todos os motivos para o avaliar de forma profundamente negativa são os portugueses. E, em nome da sua sobrevivência, é urgente deixarem de ser um povo de brandos costumes. De uma vez por todas.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Israel, Estado genocida e impune


Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores pretende acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem autorização.
Perderam a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, perderam tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes.
Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está a ser castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída. Algo semelhante ao que ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.Banhados em sangue, os salvadorenhos expiram o seu mau comportamento e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com má pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito de Israel à existência, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há anos, o direito à existência da Palestina.
Já pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel está a apagá-la do mapa. Os colonos invadem e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o roubo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerra defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços prosseguem. A devoração justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia concedeu, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança de Gaza? O governo espanhol não terá podido bombardear impunemente o País Vasco para acabar com a ETA, nem o governo britânico terá podido arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.
Acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provém da potência mandona que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos?
O exército israelense, o de armamento mais moderno e refinado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, conforme o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica.
E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.
Gente perigosa, adverte outro bombardeamento, a cargo dos meios maciços de manipulação, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atómicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irão foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
A chamada comunidade internacional, existe? Será algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? Será algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se põem quando fazem teatro? Perante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, a declarações ocas, as declarações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.
Perante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça de judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão a pagar, em sangue constante e sonante, uma conta alheia.



[título nosso]

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Presidente Obama

Obama, nos seus múltiplos discursos e entrevistas, disse tanto de si mesmo, com tanta convicção e sinceridade, que a todos já nos parece conhecê-lo intimamente e desde sempre.(*) É por isso que, embora admita que ele possa vir a não acertar sempre, porque errar é próprio do homem, estou certo que o 44.º Presidente dos Estados Unidos intentará resolver os tremendos problemas que herdou da criminosa e pior administração da história da América: uma economia exangue que atirou o mundo para a maior depressão económica de que há memória, depois do colapso de 1929, e uma paranóia securitária e militarista que, em nome de um suposto combate ao terrorismo que, verdadeiramente, serviu para esconder a gula do complexo-industrial americano pelo petróleo e pela venda de armamento, outra coisa não fez senão aumentar a guerra, a insegurança e a incerteza de todos quanto ao futuro.

São todos estes crimes, assim podemos classificar as decisões tomadas pelo genocida, infelizmente inimputável, George W. Bush, que Obama, seguramente tentará reparar. E já hoje, sem tempo para descansar dos festejos da cerimónia da sua investidura, teve um primeiro dia pleno de trabalho e tomou importantes decisões que se destacam pelo seu enorme significado político:
  • a aprovação de leis para garantir a transparência da sua administração;
  • o compromisso em trabalhar activamente para a paz israelo-árabe desde o início do seu mandato; e
  • a suspensão dos julgamentos na prisão de Guantánamo, durante 120 dias, admitindo o seu encerramento dentro de um ano.
Fica claro, se dúvidas ainda houvesse, que Obama é um homem de princípios, valores, convicções e se baterá denodamente por eles. Mais com a força da razão do que, como fez o seu antecessor, usando e abusando da razão da força.
Só assim a América recuperará o seu prestígio e o Mundo ficará, seguramente, melhor.

Em Portugal, com a actual governação e a que com ela tem alternado (se de verdadeira alternância podemos falar, tão parecidas que elas são), nada de novo, a não ser o fato Armani do senhor engenheiro Sócrates e as gaffes bolorentas da doutora Ferreira Leite. Por muitos, intermináveis e penosos anos (ou não — está nas nossas mãos!).

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Antes que seja tarde!

Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: “Eu também, eu também.” Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vínhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar. (José Saramago)

Não sei por quê (ou antes, sei!) este texto (especialmente o sublinhado) me faz lembrar Marx (tese 11.ª de Teses sobre Feuerbach, 1845)… — "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.".
É caso para dizer… Vamos a isso! Antes que seja tarde.

terça-feira, janeiro 20, 2009

João Aguardela

Morreu. Ficou a sua obra. Muito interessante, na minha opinião. Não apenas nos Sitiados, mas também nos projectos Megafone, Linha da Frente e A Naifa.
Participámos no projecto Filhos da Madrugada Cantam José Afonso (ele com os Sitiados, eu com a Brigada).
Até sempre, João!

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Um títere sem piada

Para o presidente da Confap, a verdadeira importância da escola resume-se a um espaço que deve estar aberto para que os pais aí deixem os filhos e estes possam tomar as refeições.
O sr. Albino Almeida, mais preocupado com a ocupação e a paparoca dos meninos do que com a educação e as aprendizagens escolares dos alunos, que a desgraçada política educativa do governo que subsidia a sua associação tem levado às ruas da amargura, já veio ameaçar que, em futuras greves de professores, recorrerá aos tribunais para que sejam convocados serviços mínimos. É que "o direito dos professores à greve não pode colidir com o direito dos alunos e das suas famílias", sobretudo se os mauzões dos profes resolverem "realizar uma greve por mês", sentenciou Almeida.

gravura de KAOS

Será que o homenzinho quer mesmo cercear aos professores um direito constitucionalmente consagrado?
Ou será que pretende que os professores, mesmo em greve, sirvam no refeitório e brinquem com os meninos no recreio?
Já não bastava termos de aguentar as calhoadas da pedreira da 5 de Outubro.
Ainda temos de aturar as bojardas do Pai da Nação. Um títere do M"E", bem o sabemos, mas sem piada alguma.
Irra que é demais!!!

A pedreira

A plataforma sindical dos professores afirma que os primeiros dados sobre a adesão à greve de hoje apontam para valores acima de 90 por cento, em todo o país, o que não anda longe daquilo que foi constatado pela insuspeita Lusa, numa ronda por diversos estabelecimentos de ensino — escolas de todo o país a começarem o dia sem aulas ou a funcionarem a meio gás.
Já o Ministério (dito) da Educação, num exercício que seria delírio puro, se não se tratasse, uma vez mais, de uma consciente manobra de ocultação da realidade e de propaganda política, tenta-nos fazer engolir que a greve registou apenas uma adesão de 41 por cento e obrigou ao encerramento de 27 por cento das escolas e agrupamentos. E o secretário de Estado da "Educação", em mais uma das suas habituais sessões de calhoada, afirma ter "muita dificuldade em compreender" estas acções, insistindo na mentira de que os professores não querem ser avaliados e queixando-se de que a greve às aulas assistidas é um boicote à avaliação de desempenho.

Não há dúvida. Os professores terão de continuar a explicar às mentes monolíticas do M"E", de forma paciente mas determinada, como fazem com os seus alunos, que o que de todo recusam é a "avaliação docente", o "estatuto profissional" e a "política educativa" que a pedreira instalada no ministério da 5 de Outubro quer obstinadamente impor.
Estou certo que o farão. E, com isso, todos ficarão a ganhar: não apenas os professores mas, mais do que eles, o País.

O estado a que isto chegou

Depois da contestação ao modelo de avaliação dos professores, o Ministério da Educação no passado dia 5 de Janeiro fez publicar em Diário da República um Decreto Regulamentar (nº1-A/2009) que, segundo os responsáveis da 5 de Outubro, simplifica o modelo de avaliação primitivamente concebido, na medida em que – e isto é assumido pela Ministra – lhe foram retirados os aspectos mais criticáveis. No entanto, logo se acrescenta que no próximo ano lectivo de 2009/2010 se mantêm em vigor os aspectos que agora se retiram nesta simplificação, justamente por serem criticáveis.

Quem me explica esta conversa? Há aqui alguém que, decididamente, pensa que os professores e o povo em geral são parvos. E o pior é que quem assim pensa são os responsáveis pelo Ministério da Educação. Abençoado país que possui governantes deste quilate.

Após análise do citado Decreto Regulamentar cujo objectivo é simplificar, a primeira conclusão a retirar é que complica. Vejamos alguns exemplos transportados para o mundo conhecido por todos para que, efectivamente, todos percebam do que se está a falar.

Imagine o leitor que é médico e que trabalha num centro de saúde dirigido por uma advogado e onde você é o único profissional de saúde, por sinal, reconhecido pela comunidade como excelente. Imagine, ainda, que o governo decidiu que você devia ser avaliado enquanto médico – (se receitava os medicamentos apropriados, se auscultava correctamente os doentes, etc.) – pelo advogado, director do centro de saúde. Perante esta coisa tresloucada seria de esperar que você ficasse quieto e calado? Claro que não. Pois bem, foi o que a classe docente fez quando se apercebeu que um professor de história ia avaliar um professor de educação física e que este avaliaria um de educação visual e assim por diante. E nesta conformidade se manifestaram na rua exigindo uma outra avaliação, no mínimo séria e honesta.

Agora imagine o leitor que o governo, perante a sua crítica, na qualidade de médico, simplificava a avaliação dizendo-lhe: Bem, nós percebemos a sua crítica e, por isso, resolvemos o assunto da seguinte maneira: Desde logo o senhor pode prescindir de ser avaliado na vertente “acto médico”. No entanto, se optar por tal caminho nunca poderá ser classificado com “Muito Bom” ou “Excelente”. Se quiser ter essas altas classificações das duas uma: Ou aceita ser avaliado pelo Advogado, director do centro de saúde, ou requer ser avaliado por um médico, só que, neste caso, não lhe dizemos qual será o médico que o irá avaliar. Pode ser um acabado de entrar na profissão, sem experiência, ou até pode não haver qualquer médico e neste caso a gente não lhe sabe dizer que classificação é que terá.

Convenhamos que para simplificação não está mau de todo. No entanto a questão central é esta: Estaria o leitor disponível para aceitar esta opacidade de procedimentos totalmente aberta ao arbítrio? Penso que não. E um professor de educação visual, arquitecto, tem que estar disponível a tudo isto só para não ser avaliado por um colega de educação física?

Agora imagine o leitor que tem uma empresa de construção civil e que concorre a um concurso aberto pelo Ministério da Educação destinado a construir uma escola em Mértola. São três os concorrentes. A empresa do leitor e mais duas. Agora imagine que o Ministério da Educação delega o poder de avaliar as propostas e de, portanto, decidir quem ganha o concurso, numa empresa sua concorrente no referido concurso? Como reagiria o leitor? Provavelmente clamando que isto era um caso de polícia ou que se estava numa república das bananas. Pois bem, então que dizer dum sistema de avaliação imposto pelo Ministério da Educação onde um professor irá avaliar outro, mas que depois os dois irão ser opositores ao mesmo concurso e à mesma vaga? Pode-se dizer tudo. Que os professores não querem ser avaliados é que não.

E é este o estado da república em matéria de avaliação de professores. És professor de educação física, toma lá um arquitecto para te avaliar que a bola também faz arcos e a ginástica é pura estética em movimento. Achas isto mal? Não percebes a coisa? Então deixa-te de avaliações e contenta-te com um “Bom” ou um “Suficiente” que a tua mente é de horizontes curtos. Ainda refilas? Então requer lá um professor de educação física para te avaliar que a gente logo vê o que consegue. Pobres e mal agradecidos. Andam todos com a mania que são Ronaldos.
E VIVA PORTUGAL!

in "Diário do Alentejo" de 16/01/09 (via Movimento Escola Pública)

domingo, janeiro 18, 2009

Depois disto…

  • "admito que perdi os professores, mas ganhei a opinião pública" (Mariade Lurdes Rodrigues, Junho/2006)
  • "vocês [deputados do PS] estão a dar ouvidos a esses professorzecos" (Valter Lemos, Assembleia da República, 24/01/2008)
  • "caso haja grande número de professores a abandonar o ensino, semprese poderiam recrutar novos no Brasil" (Jorge Pedreira, Novembro/2008)
  • "quando se dá uma bolacha a um rato, ele a seguir quer um copo deleite!" (Jorge Pedreira, Auditório da Estalagem do Sado, 16/11/2008)
  • "[os professores são] arruaceiros, covardes, são como o esparguete (depois de esticados, partem), só são valentes quando estão emgrupo!" (Margarida Moreira - DREN, Viana do Castelo, 28/11/2008)

… só mesmo quem aceite ser humilhado e tratado abaixo de cão não fará greve, amanhã.

O semeador

O professor é um semeador.
De saberes, essenciais à transformação de estudantes inexperientes em profissionais qualificados e competentes.
De valores, indispensáveis à educação de crianças e jovens, quantas vezes sem referências e princípios, para que um dia venham a ser adultos conscientes e responsáveis.
De exemplos — de dignidade, de coragem, de cidadania — que podem levar à conversão de um rebanho de gente resignada numa sociedade de mulheres e homens livres.

É por isto que, mais do que uma profissão, ser professor é uma missão. Difícil, sem dúvida, mas muito nobre.
Há quem a queira transformar num calvário insuportável. Mais tarde ou mais cedo pagará por isso…

sábado, janeiro 17, 2009

Libertem a Palestina

Free Palestine…



Can you, President Obama?

Now we hope you keep saying…
Yes, we can!

Quantos seremos?



QUANTOS SEREMOS?


Não sei quantos seremos

mas que importa?!

Um só que fosse

e já valia a pena

Aqui no mundo

alguém que se condena

A não ser conivente

Na farsa do presente

Não podemos mudar a hora da chegada

Nem talvez a mais certa

A da partida.

Mas podemos fazer a descoberta

Do que presta

E não presta

Nesta vida.

E o que não presta é isto

esta mentira

Quotidiana.

Esta comédia desumana

E triste

Que cobre de soturna maldição

A própria indignação

Que lhe resiste.

Miguel Torga, Câmara Ardente


19 JANEIRO, GREVE NACIONAL DOS PROFESSORES

Se eu pudesse falar contigo e dizer-te como é importate que faças esta Greve. Como ela te ajuda a vencer os medos. Como ela faz de nós seres importantes e nos mostramos importantes aos olhos de todos.

Começámos a incomodar e o poder a perceber que não faz de nós objectos, simples recursos de um mundo que não quero.

Se ao menos também tu quiseres fazer parte de um novo SER PROFESSOR. Em que não nos esmagam todos os dias nos normativos, nos discursos dos nossos governantes, nas reuniões partidárias de auto-elogio, nos debates de surdos no nosso parlamento.

Se ao menos quiseres combater "esta mentira quotidiana".

A GREVE é, sim, um acto político. E o que o não é? E é ao escrevê-lo que marcamos a história e construímos o futuro.

Espero encontrar-te segunda feira, ao lado de tantos que, como Torga, não se resignam.

Anónimo

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Acordem, professores!

Definitivamente, não adianta pedir, reclamar ou mesmo exigir a suspensão do modelo de avaliação, se assim podemos designar a maquinação engendrada pelo ministério dito da educação para domesticar os professores. Mesmo que sejam 139 presidentes de conselhos executivos de escolas a fazê-lo.
Quem há-de acabar com o pesadelo serão os próprios professores.
Basta apenas acordarem, concentrarem-se na sua inestimável missão de ensinar e ignorarem de vez as ameaças veladas dos fantasmas que ainda habitam o mi(ni)stério da 5 de Outubro e as patéticas ordens de serviço dos seus obedientes cães de fila.
Acredito que é o que está a acontecer!

domingo, janeiro 11, 2009

Por que aplaudo a iniciativa dos 139 PCE's


"[…] Para alguns professores, as decisões saídas do encontro de ontem souberam a pouco. Não concordo com essa apreciação negativa. Explico porquê.
  1. Os PCEs definiram um calendário de reuniões com o objectivo de manterem a luta e agregarem mais PCEs ao protesto. No dia 7 de Fevereiro, haverá nova reunião. Provavelmente, com mais adesões.
  2. A hipótese da demissão colectiva não foi descartada. Poderá ser equacionada num futuro próximo.
  3. 139 PCEs são 10% dos PCEs do país. É um número significativo atendendo ao amadorismo da organização. O encontro foi promovido por um grupo de PCEs de 20 escolas da zona de Coimbra. A estratégia de divulgação foi amadora: emails e blogs.
  4. O manifesto aprovado na reunião exige a suspensão da avaliação e insiste na confusão e instabilidade criadas pelo modelo burocrático. É dito que o modelo burocrático é impraticável e desvia as energias e os recursos das escolas daquilo que é essencial: o ensino.
  5. Os mais críticos da falta de resultados da reunião de ontem são os que esperariam ver os outros a resolver um problema que é de todos. Cada um tem de fazer a sua parte. No dia 19 de Janeiro, cada professor terá oportunidade de fazer a sua. Aderindo à greve, sem desculpas e sem atirar para cima dos outros a responsabilidade de cada um."

Coragem, mas pouca!

Afinal os 139 presidentes dos conselhos executivos reunidos em Santarém resolveram adiar o pedido de demissão.
Optaram por "solicitar uma audiência à ministra da Educação a fim de pedir a suspensão do actual modelo de avaliação dos professores", propósito que se nos afigura pouco menos que surrealista pois, por um lado, vai ser difícil encontrar Maria de Lurdes Rodrigues, em quem há muito tempo ninguém consegue pôr a vista em cima e, por outro lado, à semelhança de centenas de petições que esbarraram na prepotência da 5 de Outubro, a esta acontecerá, oxalá esteja enganado, o mesmo.
Num momento em que os professores são ameaçados e coagidos pelo governo como em 35 anos de democracia alguma vez se viu, esperava-se um pouco mais de coragem e de determinação daqueles cujos mandatos lhes foram confiados pelos seus colegas, se ainda os consideram como tal, tanto mais que não é somente a avaliação perversa a que querem submeter professores que está em causa, mas sobretudo os seus nefastos efeitos no funcionamento da Escola Pública.
Enfim, registe-se que "a análise da resposta [da Ministra (!)] e de outras medidas a tomar será feita numa segunda reunião, marcada para 7 de Fevereiro". Veremos então se haverá a coragem que agora faltou e se a coerência não será uma palavra vã!…
Até lá, os professores têm de continuar a resistir. Só assim serão dignos da profissão, chamemos-lhe antes missão, que desempenham. Só assim serão um exemplo de cidadania e uma referência ética para os seus alunos. Sem isso não há Educação.

sábado, janeiro 10, 2009

O massacre de Gaza

O massacre está em curso, assistindo-se na comunicação social a tão curiosos como ridículos esforços para distinguir entre vítimas civis e militares. Em Gaza, para que conste, não há militares, a não ser os invasores. Existem restos da polícia autonómica, militantes do Hamas armados e organizados como milícias. O resto é milhão e meio de desempregados, famintos e humilhados. Tal é o inimigo de Israel que lançou alguns morteiros, por exemplo contra a cidade de Asqelon, que em 1948 se chamava Al-Majdal e era uma aldeia árabe cuja população, vítima da limpeza étnica em que assentou a criação do Estado de Israel, se refugiou em Gaza.

Os dirigentes de Israel asseguram que os «civis» serão poupados durante a invasão. Tal como aconteceu em 1982 em Beirute, onde os militares comandados por Ariel Sharon, fundador do partido de Ehud Olmert e Tzipi Livni, destruíram o sector ocidental da cidade, acabando por patrocinar os massacres de Sabra e Chatila. Ou em 1996, quando Shimon Peres, actual presidente israelita, foi responsável pelo massacre de Canan, também no Líbano, e mesmo assim perdeu as eleições parlamentares.

Gaza, ainda assim, será diferente de Sabra e Chatila. Agora, os soldados israelitas sujam mesmo as mãos com o sangue das populações indefesas – salpicando inevitavelmente os hipócritas que os defendem. (ler mais aqui)

José Goulão (jornalista)

Das pedras de David aos tanques de Golias

1. […] Tanto quanto estamos autorizados a concluir do desenvolvimento deste edificante episódio, David, nas muitas batalhas que fizeram dele rei de Judá e de Jerusalém e estenderam o seu poder até à margem direita do rio Eufrates, não voltou a usar a funda e as pedras.

2. Também não as usa agora. Nestes últimos cinquenta anos cresceram a tal ponto a David as forças e o tamanho que entre ele e o sobranceiro Golias já não é possível reconhecer qualquer diferença, podendo até dizer-se, sem ofender a ofuscante claridade dos factos, que se tornou num novo Golias. David, hoje, é Golias, mas um Golias que deixou de carregar com pesadas e afinal inúteis armas de bronze. Aquele louro David de antanho sobrevoa de helicóptero as terras palestinas ocupadas e dispara mísseis contra alvos inermes, aquele delicado David de outrora tripula os mais poderosos tanques do mundo e esmaga e rebenta tudo o que encontra na sua frente, aquele lírico David que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a “poética” mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinos para depois negociar com o que deles restar. Em poucas palavras, é nisto que consiste, desde 1948, com ligeiras variantes meramente tácticas, a estratégia política israelita. Intoxicados pela ideia messiânica de um Grande Israel que realize finalmente os sonhos expansionistas do sionismo mais radical; contaminados pela monstruosa e enraizada “certeza” de que neste catastrófico e absurdo mundo existe um povo eleito por Deus e que, portanto, estão automaticamente justificadas e autorizadas, em nome também dos horrores do passado e dos medos de hoje, todas as acções próprias resulatantes de um racismo obsessivo, psicológica e patologicamente exclusivista; educados e treinados na ideia de que quaisquer sofrimentos que tenham infligido, inflijam ou venham a infligir aos outros, e em particular aos palestinos, sempre ficarão abaixo dos que sofreram no Holocausto, os judeus arranham interminavelmente a sua própria ferida para que não deixe de sangrar, para torná-la incurável, e mostram-na ao mundo como se tratasse de uma bandeira. Israel fez suas as terríveis palavras de Jeová no 'Deuteronómio': “Minha é a vingança, e eu lhes darei o pago”. Israel quer que nos sintamos culpados, todos nós, directa ou indirectamente, dos horrores do Holocausto, Israel quer que renunciemos ao mais elementar juízo crítico e nos transformemos em dócil eco da sua vontade, Israel quer que reconheçamos 'de jure' o que para eles é já um exercício 'de facto': a impunidade absoluta. Do ponto de vista dos judeus, Israel não poderá nunca ser submetido a julgamento, uma vez que foi torturado, gaseado e queimado em Auschwitz. Pergunto-me se esses judeus que morreram nos campos de concentração nazis, esses que foram trucidados nos pogromes, esses que apodreceram nos guetos, pergunto-me se essa imensa multidão de infelizes não sentiria vergonha pelos actos infames que os seus descendentes vêm cometendo. Pergunto-me se o facto de terem sofrido tanto não seria a melhor causa para não fazerem sofrer os outros.

As pedras de David mudaram de mãos, agora são os palestinos que as atiram. Golias está do outro lado, armado e equipado como nunca se viu soldado algum na história das guerras, salvo, claro está, o amigo norte-americano. Ah, sim, as horrendas matanças de civis causadas pelos terroristas suicidas… Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida, mas Israel ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.

José Saramago, O Caderno de Saramago

sexta-feira, janeiro 09, 2009