domingo, fevereiro 28, 2010

José Afonso, timoneiro da liberdade

Com uma discografia completa que, contando apenas as edições originais, totaliza 28 discos, José Afonso é, em nossa opinião, o maior cantautor português de sempre, não só pela quantidade de trabalhos que gravou durante 32 anos de carreira, mas sobretudo pela qualidade inegável da sua obra e a revolução que ela representou para a nossa música popular.
Porém, Zeca não se limitou a ser um músico e cantor de génio.
Ele foi um cidadão empenhado na luta contra as ditaduras — não só a ditadura salazarista mas também a ditadura capitalista que se instalou na ressaca do 25 de Novembro — pela liberdade e a democracia, mas também por uma sociedade mais justa e solidária, uma sociedade socialista, onde o povo fosse verdadeiramente soberano e dono do seu destino.
Um cidadão que, respeitando seguramente a democracia partidária, privilegiava a Esquerda dos valores, da liberdade, da cidadania. Por isso recusou ser condecorado com a Ordem da Liberdade de um Estado hipócrita que combateu convictamente até ao fim dos seus dias. Por isso apoiou, em 1986, a candidatura presidencial independente de Maria de Lourdes Pintassilgo. Por isso no seu funeral a urna foi coberta por um pano vermelho sem qualquer símbolo, como pediu.
José Afonso, músico incontornável, cidadão vertical, mas sobretudo, timoneiro da liberdade. Cujo exemplo continuaremos a seguir. Sempre.

Utopia, Como Se Fora Seu Filho (1983), José Afonso

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

A Segurança Social à beira do colapso?

De acordo com dados do Relatório do OE2010, entre 2005 e 2008, as dívidas totais à Segurança Social passaram de 2.150 milhões de euros para 5.249,3 milhões de euros, ou seja, aumentaram 144% (2,4 vezes) em apenas três anos.
Estes dados oficiais revelam, contrariamente ao que tem pretendido fazer crer o governo e os media que lhe são afectos, que a não entrega de contribuições assim como a evasão e a fraude contributiva à Segurança Social aumentaram significativamente com os governos de Sócrates.
Mas enquanto pouco faz para recuperar as dívidas à Segurança Social, muitas delas resultantes de descontos nos salários dos trabalhadores que não foram entregues, o mesmo governo prepara-se para conceder um gigantesco perdão às empresas, anulando as suas dívidas à Segurança Social e delapidando assim uma parte importante do seu património.
Assim, no Balanço da Segurança Social 2008 já existe uma "provisão" de 3.592,84 milhões de euros para anular (perdoar) uma parcela significativa das dívidas à Segurança Social reduzindo-as, através de uma simples operação contabilística, de 5.249,31 milhões de euros para apenas 1.650,48 milhões de euros. E é de prever que no Balanço de 2009, que o governo não apresentou, esta provisão tenha sido reforçada com mais milhões […]. Mais um "bónus" concedido às empresas à custa dos trabalhadores e da Segurança Social, a juntar a muitos outros também concedidos por este governo (redução da taxa de contribuição das empresas, concessão de subsídios ditos de apoio à criação de emprego, etc.). (excerto de estudo de Eugénio Rosa)
Por este andar, enquanto políticos e gestores conseguem reformas milionárias, muitas vezes em pouco tempo e nem sempre da forma mais ética, a imensa maioria dos portugueses arrisca-se a ter de trabalhar quase até morrer por uma reforma de miséria que não lhes dará para sobreviver.
Como diria José Mário Branco, o 25 de Abril "foi um sonho lindo que acabou".

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Estarás sempre connosco, Zeca!

Ele bem queria que esta fosse uma terra da fraternidade, uma cidade com gente igual por dentro e gente igual por fora, mas hoje, vinte e três anos após o seu falecimento (e trinta e cinco depois de Abril), quem trepa no coqueiro ainda é o rei e os vampiros continuam a chupar o sangue fresco da manada.
Num tempo em que a injustiça social é mais aguda que nunca e a democracia jamais esteve tão ameaçada, o que faz falta é acordar a malta. Enquanto há força!


Estarás sempre connosco, Zeca!

sábado, fevereiro 20, 2010

Afinal quem é, de facto, o candidato da Esquerda?

Embora não se assuma como candidato da Esquerda (nem da Direita ou do "centro"), Fernando Nobre garante que "o seu espaço político é o da liberdade, da justiça social, do humanismo, da ética, da solidariedade, da transparência da vida pública e da adequada, justa e indispensável função redistributiva do Estado" e "propõe-se lutar, promover e incentivar a regeneração ética da vida política do país, apoiar e incentivar todos os esforços do Governo e sociedade civil no caminho da justiça social, e não pactuar com a situação trágica da justiça em Portugal".
Por seu lado, Manuel Alegre, que afirma ser o candidato da Esquerda, apoiou a reeleição de José Sócrates, cujos governos têm ameaçado as liberdades, condicionado a Justiça, fomentado a corrupção e a promiscuidade entre o Estado e os grandes grupos privados, e levado a cabo as políticas mais anti-sociais de que há memória desde o 25 de Abril.
Afinal quem é, de facto, o candidato da Esquerda? A resposta parece-nos óbvia.

Fernando Nobre: Presidente como nós.

Somos de Esquerda. Mas a Esquerda de que somos não é a das confrarias partidárias e das suas tácticas políticas. Somos da Esquerda dos valores, da independência, da livre cidadania. Esquerda da solidariedade, da justiça social, por uma sociedade mais igual.
Por isso apoiamos, inequivocamente, a candidatura de Fernando Nobre à Presidência da República. Porque tem sido um permanente exemplo de humanidade e solidariedade com os mais desfavorecidos, uma referência ética, um cidadão livre e independente que não se acomoda perante a injustiça social.


Mas também apoiamos e votaremos Fernando Nobre para Presidente da República por não querermos que seja reeleito o candidato da Direita, Cavaco Silva. Como fizemos, em 1986, com Maria de Lourdes Pintasilgo que, apesar do seu favoritismo, sem o apoio das máquinas partidárias não conseguiu ganhar, mas tal não impediu que triunfasse um candidato da Esquerda. Portanto, porque temos memória, escusam de vir acusar-nos de estarmos a fazer o jogo da Direita. A história mostrou-nos que não é assim.
Serão muitos a votar Fernando Nobre. A levá-lo à presidência, esperamos. Pelas mais diversas razões.
Pela nossa parte, pela Esquerda dos cidadãos, queremos um Presidente como nós.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Já nada nos espanta

Anda já perto de 400 o número de ex-militares que se dizem prejudicados pela sua participação na revolução do 25 de Abril e estão a ser promovidos ao abrigo de uma lei de 1999, aprovada pela maioria socialista de então. Tem razão o coronel Morais e Silva, um dos capitães de Abril, quando afirma tratar-se de "uma vergonha", "um escândalo", "um roubo", infelizmente demasiado frequente num regime que de democrático pouco mais tem que a designação.
Foi, de resto, essa de completa ausência de valores democráticos que levou, há 21 anos, o então primeiro-ministro Cavaco Silva a recusar conceder a Salgueiro Maia uma pensão por "serviços excepcionais ou relevantes prestados ao país", ao mesmo tempo que a concedia a dois inspectores da criminosa PIDE.
Enfim, já nada nos espanta num país onde a democracia está agrilhoada e o 25 de Abril é apenas uma saudosa memória.

O paraíso fiscal

[…].
De acordo com o Relatório do OE2010, entre 2008 e 2009, o PIB a preços correntes (e é sobre este que incide as taxas de imposto) passou de 166.436,9 milhões € para 164.879,5 milhões €, ou seja, diminuiu em 1.557,4 milhões de euros (em percentagem baixou apenas -0,9%), enquanto as receitas fiscais totais, durante o mesmo período, diminuíram em 5.034 milhões de euros (-13,7%), pois passaram de 36.660,8 milhões de euros para apenas 31.626,8 milhões de euros.

E a situação não vai melhorar em 2010. Entre 2008 e 2010, segundo o governo, o valor do PIB a preços correntes aumenta 930,2 milhões de euros, pois passa de 166.436,9 milhões de euros para 167.367,1 milhões de euros, enquanto as receitas fiscais, durante o mesmo período, diminuem em 4.686,7 milhões de euros (-12,8%), pois passam de 36.660,8 milhões de euros para 31.974,1 milhões de euros. Estes dados do próprio governo, mostram que o descalabro a nível das receitas fiscais não é provocado apenas ou fundamentalmente pela quebra da actividade económica determinada pela crise internacional como pretende fazer crer o governo. Estimamos que, pelo menos, 3.000 milhões € da quebra de receitas é devida ao aumento significativo da evasão e fraude fiscal provocado pelo discurso permissivo do governo e pela falta de acção e de eficácia da Administração Fiscal no combate à evasão e à fraude fiscal. […].
Como consequência a injustiça fiscal continua a aumentar ainda mais em Portugal. […]. E Victor Constâncio — que vai agora tratar da vidinha e tratar-nos da "saúde" como vice-presidente do BCE — veio defender o aumento do IVA. Porque razão não propôs a eliminação da isenção total que continuam a gozar as mais-valias especulativas obtidas na bolsa em Portugal, como já acontece na maior parte dos países da UE? ler mais
Vivemos num inferno mas, para uma minoria, Portugal é um paraíso fiscal.

domingo, fevereiro 14, 2010

Demitir Sócrates, em nome do interesse colectivo

Durante pouco mais de quatro anos, a governação de José Sócrates deu uma decisiva contribuição para a situação calamitosa a que o país chegou (quer ao nível das finanças e da economia quer ao nível social) e para a degradação da actividade política e dos direitos dos cidadãos. Mas mais do que tudo isto, que não é pouco, a imagem que Sócrates tem vindo a revelar ao longo dos anos, através do alegado e sistemático envolvimento nas mais diversas irregularidades e atropelos à lei, a que agora se junta o seu anunciado envolvimento num plano para controlar a comunicação social, é a de alguém com uma gritante falta de ética e de seriedade para ocupar o cargo de Primeiro-ministro, alguém em quem os cidadãos anónimos têm certamente fundadas dúvidas em confiar.
Por isso, a sua urgente demissão seria o melhor serviço que se poderia prestar ao país. Mas podemos ter a certeza de que ele não o fará. E o Presidente da República, que nada diz, também não.
Resta então a Assembleia da República que, através da aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta, pode levar à demissão do governo, abrindo a porta à possibilidade do Presidente da República indigitar outro elemento do partido mais votado a formar um novo governo.
Não seria difícil, nem moroso, nem custoso. Porque não seria preciso (nem conveniente, na actual situação de crise) ir de novo a votos.
Se os partidos da oposição têm a maioria, por que não avançam então? Por receio? Por calculismo? Por agenda? Não acham que o interesse colectivo deve ser posto em primeiro lugar?

Canção da Paciência, Como Se Fora Seu Filho (1983), José Afonso

sábado, fevereiro 13, 2010

Se há um "corno", alguém o "encornou"

Diz o nosso povo, na sua linguagem nua e crua, que o corno é sempre o último a saber, querendo com isso afirmar que quem é traído acaba quase sempre por só ter conhecimento da traição de que é alvo depois dela já andar nas bocas do mundo.


É o que terá acontecido com o presidente da PT que garante ter sido o último a saber do envolvimento da empresa num alegado plano do governo para controlar a comunicação social. Não me admira nem sequer choca, portanto, que Henrique Granadeiro tenha afirmado sentir-se encornado. Este tipo de linguagem não me suscita qualquer pudor, mesmo tratando-se do presidente de uma grande empresa. O que me enoja e muito são os factos que levaram o presidente da PT a sentir-se traído. Mesmo que não tenham passado de intenções. E, definitivamente, se há um corno alguém o encornou.

De Quem Foi a Traição, Fura Fura (1978), José Afonso

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

A saída (para a crise)

Não há dúvida. A clique dirigente do PS está muito mais preocupada com a sua consolidação e eternização no poder do que com o combate à crise de que em parte também é responsável. Apesar de estarmos em democracia , ainda que apenas formalmente (ou nem isso), é o regresso às tácticas salazaristas do controlo dos meios de informação e da promiscuidade do poder político com os grandes grupos económicos.
Por isso, perante uma avalanche de indícios que revelam isso mesmo, eles assobiam para o ar e afirmam, com cinismo maquiavélico, que a "substituição de Sócrates resolve-se nas eleições". Sabem que, estranhamente, diga-se, as sondagens lhes continuam a ser favoráveis e alimentam a secreta esperança de reconquistar a maioria absoluta.
Mas este não é um problema de legitimidade democrática. O PS tem uma maioria, relativa, é certo. Exige-se-lhe, por isso, que governe, em nome do interesse colectivo (que não será exactamente o dos grandes grupos económico-financeiros).
Este é um problema de evidente falta de ética política e democrática de um cidadão que, por esse facto, não pode continuar a ser Primeiro-ministro e assim contribuir para o descrédito do país e o aprofundamento da crise que deveria ser o primeiro a procurar resolver.
Este é um problema que só o Presidente da República poderia solucionar, demitindo José Sócrates e indigitando uma nova personalidade do partido mais votado a formar governo. Mas tenho dúvidas que Cavaco o faça. Por calculismo, fraqueza ou seja lá por que razão for. Veremos.

Grândola Vila Morena, Filhos da Madrugada Cantam José Afonso (1994), Vários

O país não pode perder mais tempo

A "face" da alegada tentativa de controlo da comunicação social por parte do governo fica, a partir de hoje, bastante menos "oculta" graças à luz irradiada pelo Sol, através da publicação de novos dados que indiciam fortemente que o governo e, em particular, o Primeiro-ministro, terão estado envolvidos na tentativa não apenas de comprar 30 por cento da TVI, mas também de adquirir um grande grupo de comunicação através da PT (numa primeira fase, a mira estaria apontada para a Cofina/ Correio da Manhã ou a Impresa/ Pinto Balsemão; no fim, para o grupo Controlinveste (DN/JN/TSF), de Joaquim Oliveira).


Se tudo isto, que na perspectiva da investigação configura um crime de "atentado contra o Estado de Direito", for verdade ou não for devidamente explicado, independentemente do processo judicial só resta uma de duas saídas: ou Sócrates demite-se ou é demitido. E leva consigo o "seu" Procurador.
O país não pode perder mais tempo com esta vergonha. Tem uma profunda crise para combater.

Venho Aqui Falar, Pano-cru (1978), Sérgio Godinho

Chegou o momento

"Na altura em que fui Provedor do Público, escrevi uma crónica na qual referia que chegaria um momento de desobediência civil por parte dos jornalistas. Chegou esse momento. As escutas devem ser publicadas, os jornalistas devem esforçar-se por publicá-las e não se deixar intimidar."
"O que está em causa é matéria de interesse público e o interesse público sobrepõe-se aos direitos privados dos cidadãos." (Joaquim Vieira, presidente do Observatório de Imprensa, em declarações ao "Jornal de Negócios")

Absolutamente de acordo.
Se os órgãos competentes tudo fazem para que a verdade não seja apurada, o interesse público e o direito à informação reclamam a divulgação dos factos e
legitimam a chamada violação do segredo de justiça. Afinal é a democracia que está em causa.

Maré Alta, Três Cantos (2009), José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O governo dos ricos

Se Sócrates não comenta possibilidade de congelar os salários reais da função pública até 2013, Jorge Lacão diz que se trata de especulações e Teixeira dos Santos, sobre a matéria, se remete ao silêncio, não é difícil perceber que é precisamente isso que irá acontecer. E que os empresários, seguindo o exemplo do Estado, farão o mesmo.
Fica, portanto, claro, se dúvidas houvesse, que serão uma vez mais os funcionários públicos a pagar o défice e os trabalhadores em geral a suportar uma crise de que não foram causadores. Graças a um governo indevidamente chamado de socialista que sempre se revelou forte com os fracos e fraco, ou mesmo colaborante, com os fortes.

Queremos Ver Tudo Diferente, Um Beco Com Saída (1975), Fausto

O que resta da democracia

Depois da licenciatura obtida por processos duvidosos numa universidade tão credível que acabou por ser encerrada no rescaldo do caso, depois do alegado envolvimento no estranho licenciamento do Freeeport de Alcochete, e da compra da sua casa no edifício Heron Castilho por um montante muito abaixo do preço de mercado, ou da assinatura de projectos de moradias na Covilhã sem para isso possuir a necessária habilitação, o Primeiro-ministro, sempre ele, surge agora envolvido, de alguma forma, no processo Face Oculta.


Como se vê, portanto, o vasto currículo de trapalhadas de José Sócrates é inversamente proporcional ao seu magro currículo académico.
Mas, valha a verdade, sempre tem conseguido escapar ileso a todo este rosário de irregularidades, o que só pode acontecer num país em que "o centro da corrupção está no poder político", o qual se blinda contra toda e qualquer suspeita que sobre ele recaia.
Isso explica a benevolência do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Procurador-Geral da República com o Primeiro-ministro, o silêncio do Presidente da República, a satisfação do Presidente da Assembleia da República e, curiosamente, a tentativa de criminalização e silenciamento da divulgação das escutas levada a cabo pelo jornal Sol.
Vivemos hoje numa plutocracia, regime em que o poder não é do povo mas dos grandes interesses económicos, afirma sabiamente Saramago. Mas esta situação, já de si grave, torna-se insustentável quando o poder político, que devia combatê-la, é conivente com ela e fica impune perante e Lei.
Por tudo isto, o povo tem de acordar, vai acordar, mais tarde ou mais cedo.

Eu, o povo, Enquanto Há Força (1978), José Afonso

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Até quando, Sócrates, teremos de te suportar?

[…]
Não conheço precedente na nossa História para a cadeia de escândalos maiúsculos em que surge envolvido o actual Primeiro-ministro. Ela é tão alarmante que os primeiros, desde o mistério do seu diploma de engenheiro, obtido numa universidade fantasmática (já encerrada), aparecem já como coisa banal quando comparados com os mais recentes.
O último é nestes dias tema de manchetes na Comunicação Social e já dele se fala além fronteiras. É afinal um escândalo velho, que o Presidente do Supremo Tribunal e o Procurador-geral da República tentaram abafar, mas que retomou actualidade quando um semanário divulgou excertos de escutas do caso Face Oculta.
Alguns despachos do procurador de Aveiro e do juiz de instrução criminal do Tribunal da mesma comarca com transcrições de conversas telefónicas valem por uma demolidora peça acusatória reveladora da vocação liberticida do governo de Sócrates para amordaçar a Comunicação Social.


Desta vez o Primeiro-ministro ficou exposto sem defesa. As vozes de gente sua articulando projectos de controlo de uma emissora de televisão e de afastamento de jornalistas incómodos estão gravadas. Não há desmentidos que possam apagar a conspiração. Um mar de lama escorre dessas conversas, envolvendo o Primeiro-ministro. A agressiva tentativa de defesa deste afunda-o mais no pântano. Impossibilitado de negar os factos, qualifica de "infame" a divulgação daquilo a que chama "conversas privadas". Basta recordar que todas as gravações dos diálogos telefónicos de Sócrates com o banqueiro Vara, seu ex-ministro foram mandadas destruir por decisão (lamentável) do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, para se ter a certeza de que seriam muitíssimo mais comprometedoras para ele do que as "conversas privadas" que tanto o indignam agora, divulgadas aliás dias depois de, num restaurante, ter defendido, em amena "conversa" com dois ministros seus, a necessidade de silenciar o jornalista Mário Crespo da SIC Noticias.
Não é apenas por serem indesmentíveis os factos que este escândalo difere dos anteriores que colocaram José Sócrates no banco dos réus do Tribunal da opinião pública. Desta vez a hipótese da sua demissão é levantada em editoriais de diários que o apoiaram nos primeiros anos e personalidades políticas de múltiplos quadrantes afirmam sem rodeios que não tem mais condições para exercer o cargo.
O cidadão José Sócrates tem mentido repetidamente ao País, com desfaçatez e arrogância, exibindo não apenas a sua incompetência e mediocridade, mas, o que é mais grave, uma debilidade de carácter incompatível com a chefia do Executivo.
Como pode tal criatura permanecer como Primeiro-ministro?
— Até quando, Sócrates, teremos de te suportar?

O Charlatão, Os Sobreviventes (1971), Sérgio Godinho

terça-feira, fevereiro 09, 2010

O pior cego é o que não quer ver

Pinto Monteiro afirmou que quer ele "quer o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, não viram indícios de atentado ao Estado de direito nas certidões do processo Face Oculta. O PGR (ou será Procurador Geral do Governo?) disse também que não viu indícios de tentativa de controlo da comunicação social por parte do primeiro-ministro ou do Governo nas escutas reveladas pelo "Sol".


Sem ofensa a quem infelizmente sofre de cegueira, é caso para concluir que não há pior cego do que aquele que não quer ver. Por mais sol que faça.

Toca a todos

Um estudo da docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, Raquel Ribeiro, demonstra que a actual crise económica encontra eco nos jovens da classe média, entre os 19 e os 45 anos, que temem pelo nível de vida dos seus filhos num futuro próximo.
O aumento das desigualdades sociais e a consequente queda do nível de vida, aliadas à precariedade no emprego, a uma maior competitividade e a um acelerado ritmo profissional, constituem os grandes receios destes jovens.
A autora acrescenta que "o prolongamento da escolarização, a banalização dos diplomas e a precariedade laboral e afectiva vão possivelmente penalizar a independência e a abastança económica dos mais jovens[…]".
Pois é, toca a todos: aos proletas e à classe "média", que acabará também por ser proletarizada.
Como disse Marx, há 200 (!) anos, já todos compreendemos o mundo. O que importa agora é transformá-lo. Estaremos dispostos a isso?

Queixa das Almas Jovens Censuradas, Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1971), José Mário Branco

Que mal fiz eu para ter de aguentar isto?

Durão Barroso está "feliz" e "orgulhoso" pelo apoio recebido do Parlamento Europeu para um novo mandato de cinco anos. É normal. Está a tratar da vidinha. Para mais, quando todos os seus colegas criminosos — Bush, Blair e Aznar — de uma forma ou de outra, já foram arrumados na prateleira…


Eu é que já não posso dizer o mesmo. Estou triste e pesaroso por ter de gramar este funcionário reles e oportunista na liderança executiva da UE por 10 intermináveis anos! Sem ter culpa alguma…
Que mal fiz eu para ter de aguentar Sócrates em Portugal e Barroso em Bruxelas?

Os eunucos, Traz Outro Amigo Também (1970), José Afonso

Prémio Nobel… da Guerra

A politica da administração Obama, o Prémio Nobel da Paz (não o esqueçamos), ameaça a humanidade.
Dito desta forma, nua e crua, parece impossível de acreditar. Mas é Miguel Urbano Rodrigues, com a sabedoria e a frontalidade que se lhe reconhecem, que explica por quê.


Recentes iniciativas do Governo dos EUA confirmam que a actual Administração, longe de renunciar a uma estratégia de dominação mundial, se propõe a ampliá-la em múltiplas frentes. Aquilo que parecia impossível há um ano está a acontecer: a política externa de Obama é mais agressiva e perigosa para a Ásia, África e América Latina do que a de George Bush. Mas essa realidade não se tornou ainda evidente para as grandes maiorias, influenciadas pela campanha de âmbito mundial que apresenta o presidente dos EUA como um político progressista e um defensor da paz. Os actos desmentem-lhe, porém, as promessas e a oratória. Os media ocidentais dedicam atenção mínima a iniciativas que se integram na expansão planetária do militarismo estado-unidense. Mas esse silêncio não impede que ela seja uma realidade. ler tudo aqui

Guerra e Paz, Três Cantos (ao vivo), José Mário Branco - Sérgio Godinho - Fausto Bordalo Dias

O capitalismo está em coma

Muitos inquietam-se com o rápido crescimento da dívida dos EUA e estão a pedir uma solução para o problema. O que eles não percebem é que, com o actual sistema financeiro, pura e simplesmente não há solução. Neste momento é já matematicamente impossível para o governo americano liquidar a sua dívida nacional porque ela ultrapassa a quantidade de dólares realmente existentes. Se o governo actuasse hoje e tomasse cada cêntimo de todos os bancos, negócios e contribuintes americanos, ainda assim não seria capaz de liquidar a dívida nacional. E se assim fizesse, obviamente a sociedade americana deixaria de funcionar porque ninguém teria dinheiro para comprar ou vendar fosse o que fosse.
Não há dúvida que o capitalismo, como o conhecemos, está em coma. Só não sabemos quando lhe vão desligar a máquina. ler tudo aqui

O avô cavernoso, Eu vou ser como a toupeira (1972), José Afonso

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Corrupção, coisa de "pouca monta"

Um comunicado do Ministério das Obras Públicas refere textualmente que "vinte e duas das entidades tuteladas pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações nunca se relacionaram com empresas do 'Grupo Godinho', sete relacionaram-se dentro dos parâmetros legais e em cumprimento dos procedimentos contratuais, e apenas em cinco casos foram detectadas irregularidades nos procedimentos".
Com efeito, a Inspecção-Geral de Obras Públicas apenas detectou irregularidades nas relações das empresas Estradas de Portugal, Metropolitano de Lisboa, Refer, Transtejo e CP com empresas do sucateiro de Ovar. Coisa de pouca monta, como se vê. Podemos ficar descansados.

Os vampiros, Baladas de Coimbra (1963), José Afonso

A verdade a que temos direito

O Bloco de Esquerda anunciou ontem que vai propor a constituição de uma comissão de inquérito parlamentar sobre a alegada intervenção do Governo na intenção de compra de parte da TVI pela PT. O PCP, embora defenda que o mais importante é encontrar uma forma "expedita de obter esclarecimentos" (sem explicar qual), não exclui a realização de um inquérito parlamentar. O PSD também "não exclui" a possibilidade da comissão de inquérito proposta pelo Bloco.
Já que a Justiça não funciona, ou antes, funciona como capa protectora do poder, ao menos que a Assembleia faça alguma coisa. Apesar de os resultados práticos destas comissões serem, por sistema, nulos, sempre ficamos mais perto da verdade dos factos. Verdade a que temos direito.

Já o tempo se habitua, Contos Velhos Rumos Novos (1969), José Afonso

Para bom entendedor…

D. Manuel Clemente, bispo do Porto, cuja atribuição do Prémio Pessoa 2009, segundo o escritor Mário Cláudio, constituiu uma" lufada de ar fresco" para a cultura da Igreja Católica e, nas palavras do júri do prémio, é "uma referência ética para a sociedade portuguesa nos tempos difíceis como os que vivemos actualmente", comentou hoje o alegado plano do Governo para controlar a comunicação social, considerando que as personalidades públicas têm responsabilidades acrescidas de se justificar publicamente. Para bom entendedor…
Por falar em 'bom entendedor', parece que só mesmo os apoiantes de Sócrates, parafraseando Bertolt Brecht, "não sabem que o inimigo marcha à sua frente".

No comboio descendente, Eu vou ser como a toupeira (1972), José Afonso

Magalhães

Magalhães, o navegador, ficou na história por ter realizado a primeira viagem de circum-navegação à Terra, há mais de quinhentos anos.
Magalhães, o computador, em pleno século XXI, não consegue chegar aos Açores.

"Notícias"

Os operários da Oliva ficaram sem trabalho, o país está de tanga, o governo ameaça a liberdade e a democracia, mas o que é que tudo isso importa? Isto e isto sim, são "notícias". Bah…

O país vai de carrinho, Como se fora seu filho, José Afonso

sábado, fevereiro 06, 2010

O nosso drama

Afinal, segundo a imprensa que se recusa a ser voz-do-dono, as escutas do processo "Face Oculta" parecem revelar que os "amigos" Sócrates e Vara, com currículos já bastante recheados de trapalhadas e jogadas de seriedade muito duvidosa, terão agora, alegadamente, planeado criar uma crise política com o objectivo de antecipar as eleições legislativas para 2011, financiar a campanha com dinheiro de empresas públicas e controlar a comunicação social, e, simultâneamente, atingir o Presidente da República através de ataques políticos ou usando os interesses económicos do seu genro.
Na opinião dos responsáveis pela investigação, trata-se de um crime que tem uma moldura penal de 2 a 8 anos de prisão, se for consumado, e de 1 a 4 anos, na forma tentada. Por isso o Juiz de Aveiro enviou as escutas ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que, como já todos sabemos, as mandou destruir por, em seu entender, não revelarem "ilícito penal"!!!

Como facilmente se percebe de tudo isto, este primeiro-ministro, com a evidente protecção do STJ e da Procuradoria Geral da República, nunca será julgado pelo que quer que seja.
Restaria apenas saber o que faria o Presidente da República mas já se viu que não fará nada de especial, mais que não seja para deixar Sócrates fritar no lume brando da crise. Por isso não o demitirá. De resto, se o fizesse e fôssemos novamente a votos, palpita-me que ficaria tudo rigorosamente na mesma. É esse o nosso drama.

Coro dos Tribunais, álbum "Coro dos Tribunais", José Afonso

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

O país dos três "efes"

A economia está de rastos, o desemprego é uma chaga que alastra e a desigualdade e a injustiça nunca foram tão gritantes, estamos endividados até às orelhas e sem crédito no exterior e o governo, perante a tragédia que, em parte, a sua política originou, faz chantagem e ameaça bater em retirada. Mas que importa tudo isso, se as peregrinações a Fátima estão mais concorridas que nunca, o Fado nunca esteve tão na moda e no pontapé-na-bola, às vezes à rasca, é certo, não deixamos os créditos por mãos alheias (apurámo-nos para a final do mundial na África do Sul e agora fomos escolhidos como cabeças-de série para o Euro-2012)?…
Como há 50 anos, continuamos a ser o  país dos três efes e isso nos basta.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

A coisa está preta

A coisa está preta mas ou me engano muito ou o pior ainda está para vir. Parece que para os "espertos" das agências de rating as medidas anunciadas para a redução do défice ainda são pouco ambiciosas e agora os holofotes do mercado apontam para nós.
Definitivamente, a selvajaria capitalista e a especulação bolsista são uma maldição.

O certo é que Portugal está a ser olhado como (mau) exemplo a evitar. Está finalmente à vista — tarde de mais! — a tragédia da governação de Sócrates!