sábado, janeiro 31, 2009

Ninguém está acima da Lei

Podem afirmar que se inserem em cabalas hediondas, campanhas negras difamantes ou jogadas políticas soezes. Podem mesmo dizer que não passam de estratégias editoriais para incrementar as tiragens dos jornais e as audiências televisivas.
Mas por estas e por outras é que, com investigações que andam a passo de caracol e frequentemente desembocam no arquivamento dos processos, umas violaçõezinhas do segredo de Justiça não fazem nenhum mal. Muito pelo contrário: podem contribuir para a celeridade, a transparência e a equidade na aplicação da Lei.
Não basta afirmar que "Ninguém está acima da Lei", como sustenta, e bem, o senhor PGR. O que é preciso é demonstrá-lo.

De avaliador a avaliado

  1. 1.ª página do Expresso


  2. Conteúdos da 1.ª página do Sol


  3. 1.ª página do Correio da Manhã


  4. Excerto da famosa Carta Rogatória do Serious Fraud Office britânico (obtida aqui) que aponta quatro portugueses como estando sob investigação por alegações de suborno e corrupção no âmbito do "caso Freeport".
    O primeiro chama-se José Sócrates e não há quaisquer dúvidas de que se trata do Primeiro-Ministro de Portugal. Por enquanto…



sexta-feira, janeiro 30, 2009

Demagogia

Considerar ou propalar a consideração de que "quem tem medo da avaliação são os maus professores» seja uma evidência é, isso sim, uma evidente e descarada manobra de reles demagogia e torpe propaganda .
É absolutamente falso que os professores não queiram ser avaliados — pelo contrário, querem-no, desde que, de forma séria, justa, que contribua para a melhoria do seu desempenho profissional e não prejudique as aprendizagens dos alunos nem atente contra a qualidade da Escola Pública. Como despudorada é a mentira de que anteriormente não havia um sistema de avaliação docente quando, na realidade, já existia e só não funcionava em toda a sua plenitude por culpa exclusiva do Ministério da Educação (ver 8.2.9.1. Pre-school education, ensino básico and upper secondary education, na rede Eurydice).
O que os professores, muito especialmente os bons, não admitem é ser "avaliados" de forma burocrática e leviana, em apenas cinco meses, por um "modelo de avaliação", se assim podemos designar o chorrilho de asneiras e perversidades que este ministério dito da educação montou, cujo único propósito é impedir o reconhecimento da excelência e do mérito a mais de dois terços dos docentes.
Vital Moreira, pelo simples facto de também ser professor e um reputado intelectual, não teria qualquer dificuldade em entender e admitir isto, não fora desde sempre ter assumido o papel de comissário político do governo de Sócrates.
É caso para concluir, como escreveu o Pe. António Vieira, que "Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência". Quatrocentos anos volvidos, como isto é hoje tão verdade em Portugal!…

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Licenciatura, licenciamentos e outras "licenciosidades"

Primeiro foi o caso nunca devidamente esclarecido duma licenciatura obtida por processos, no mínimo, pouco ortodoxos que incluíram exames "feitos" ao domingo, provas entregues por fax e outros expedientes duvidosos, numa universidade dita independente que de independente pouco tinha e de universidade ainda menos e que acabou, de resto, por ser encerrada pelo próprio governo.
Agora, apesar de os factos terem ocorrido em 2002, as autoridades de um parceiro comunitário com um governo da mesma família política, as quais não estão certamente empenhadas em montar uma cabala contra o Primeiro Ministro português, consideram que Sócrates é suspeito de ter «solicitado, recebido, ou facilitado pagamentos» no âmbito do licenciamento do Freeport, em Alcochete. Certo é que o empreendimento foi licenciado, numa zona ambiental sensível, de forma invulgarmente rápida e, em nossa opinião, pouco legítima, uma vez que a decisão foi tomada na última reunião de um governo, além do mais, de gestão corrente. Mas parece não haver obstáculos que luvas de quatro milhões de euros não possam remover e, mesmo que elas se tenham esfumado em nebulosos paraísos fiscais sem deixar qualquer rasto, impõe-se averiguar exaustivamente se o "gato", na ânsia de se "esconder", não terá deixado "o rabo de fora" em qualquer e-mail ou conta bancária.

E podíamos ainda acrescentar a tudo isto, actos duvidosos ou politicamente inaceitáveis como as já longínquas "assinaturas de favor" de projectos de habitações do senhor "engenheiro" ou a passividade silenciosa perante as escandalosas negociatas da Banca, do senhor Primeiro-Ministro. Sem esquecer a generosa distribuição de mordomias pelos seus correlegionários na Administração e nas empresas públicas.
José Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal, tão parco em ética e transparência, tão forte com os fracos e tão fraco com os fortes, pretende avaliar os professores, os médicos, os funcionários públicos e extorquir os contribuintes até ao último cêntimo, mas tem pouca legitimidade, se é que tem alguma, e muito menos qualquer superioridade moral, para fazê-lo.
Quem tem todos os motivos para o avaliar de forma profundamente negativa são os portugueses. E, em nome da sua sobrevivência, é urgente deixarem de ser um povo de brandos costumes. De uma vez por todas.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Israel, Estado genocida e impune


Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores pretende acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem autorização.
Perderam a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, perderam tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes.
Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está a ser castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída. Algo semelhante ao que ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.Banhados em sangue, os salvadorenhos expiram o seu mau comportamento e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem
São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com má pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito de Israel à existência, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há anos, o direito à existência da Palestina.
Já pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel está a apagá-la do mapa. Os colonos invadem e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o roubo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerra defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços prosseguem. A devoração justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia concedeu, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações e as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança de Gaza? O governo espanhol não terá podido bombardear impunemente o País Vasco para acabar com a ETA, nem o governo britânico terá podido arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.
Acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provém da potência mandona que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos?
O exército israelense, o de armamento mais moderno e refinado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, conforme o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica.
E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.
Gente perigosa, adverte outro bombardeamento, a cargo dos meios maciços de manipulação, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atómicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irão foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.
A chamada comunidade internacional, existe? Será algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? Será algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se põem quando fazem teatro? Perante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, a declarações ocas, as declarações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.
Perante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça de judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão a pagar, em sangue constante e sonante, uma conta alheia.



[título nosso]

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Presidente Obama

Obama, nos seus múltiplos discursos e entrevistas, disse tanto de si mesmo, com tanta convicção e sinceridade, que a todos já nos parece conhecê-lo intimamente e desde sempre.(*) É por isso que, embora admita que ele possa vir a não acertar sempre, porque errar é próprio do homem, estou certo que o 44.º Presidente dos Estados Unidos intentará resolver os tremendos problemas que herdou da criminosa e pior administração da história da América: uma economia exangue que atirou o mundo para a maior depressão económica de que há memória, depois do colapso de 1929, e uma paranóia securitária e militarista que, em nome de um suposto combate ao terrorismo que, verdadeiramente, serviu para esconder a gula do complexo-industrial americano pelo petróleo e pela venda de armamento, outra coisa não fez senão aumentar a guerra, a insegurança e a incerteza de todos quanto ao futuro.

São todos estes crimes, assim podemos classificar as decisões tomadas pelo genocida, infelizmente inimputável, George W. Bush, que Obama, seguramente tentará reparar. E já hoje, sem tempo para descansar dos festejos da cerimónia da sua investidura, teve um primeiro dia pleno de trabalho e tomou importantes decisões que se destacam pelo seu enorme significado político:
  • a aprovação de leis para garantir a transparência da sua administração;
  • o compromisso em trabalhar activamente para a paz israelo-árabe desde o início do seu mandato; e
  • a suspensão dos julgamentos na prisão de Guantánamo, durante 120 dias, admitindo o seu encerramento dentro de um ano.
Fica claro, se dúvidas ainda houvesse, que Obama é um homem de princípios, valores, convicções e se baterá denodamente por eles. Mais com a força da razão do que, como fez o seu antecessor, usando e abusando da razão da força.
Só assim a América recuperará o seu prestígio e o Mundo ficará, seguramente, melhor.

Em Portugal, com a actual governação e a que com ela tem alternado (se de verdadeira alternância podemos falar, tão parecidas que elas são), nada de novo, a não ser o fato Armani do senhor engenheiro Sócrates e as gaffes bolorentas da doutora Ferreira Leite. Por muitos, intermináveis e penosos anos (ou não — está nas nossas mãos!).

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Antes que seja tarde!

Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: “Eu também, eu também.” Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vínhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar. (José Saramago)

Não sei por quê (ou antes, sei!) este texto (especialmente o sublinhado) me faz lembrar Marx (tese 11.ª de Teses sobre Feuerbach, 1845)… — "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.".
É caso para dizer… Vamos a isso! Antes que seja tarde.

terça-feira, janeiro 20, 2009

João Aguardela

Morreu. Ficou a sua obra. Muito interessante, na minha opinião. Não apenas nos Sitiados, mas também nos projectos Megafone, Linha da Frente e A Naifa.
Participámos no projecto Filhos da Madrugada Cantam José Afonso (ele com os Sitiados, eu com a Brigada).
Até sempre, João!

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Um títere sem piada

Para o presidente da Confap, a verdadeira importância da escola resume-se a um espaço que deve estar aberto para que os pais aí deixem os filhos e estes possam tomar as refeições.
O sr. Albino Almeida, mais preocupado com a ocupação e a paparoca dos meninos do que com a educação e as aprendizagens escolares dos alunos, que a desgraçada política educativa do governo que subsidia a sua associação tem levado às ruas da amargura, já veio ameaçar que, em futuras greves de professores, recorrerá aos tribunais para que sejam convocados serviços mínimos. É que "o direito dos professores à greve não pode colidir com o direito dos alunos e das suas famílias", sobretudo se os mauzões dos profes resolverem "realizar uma greve por mês", sentenciou Almeida.

gravura de KAOS

Será que o homenzinho quer mesmo cercear aos professores um direito constitucionalmente consagrado?
Ou será que pretende que os professores, mesmo em greve, sirvam no refeitório e brinquem com os meninos no recreio?
Já não bastava termos de aguentar as calhoadas da pedreira da 5 de Outubro.
Ainda temos de aturar as bojardas do Pai da Nação. Um títere do M"E", bem o sabemos, mas sem piada alguma.
Irra que é demais!!!

A pedreira

A plataforma sindical dos professores afirma que os primeiros dados sobre a adesão à greve de hoje apontam para valores acima de 90 por cento, em todo o país, o que não anda longe daquilo que foi constatado pela insuspeita Lusa, numa ronda por diversos estabelecimentos de ensino — escolas de todo o país a começarem o dia sem aulas ou a funcionarem a meio gás.
Já o Ministério (dito) da Educação, num exercício que seria delírio puro, se não se tratasse, uma vez mais, de uma consciente manobra de ocultação da realidade e de propaganda política, tenta-nos fazer engolir que a greve registou apenas uma adesão de 41 por cento e obrigou ao encerramento de 27 por cento das escolas e agrupamentos. E o secretário de Estado da "Educação", em mais uma das suas habituais sessões de calhoada, afirma ter "muita dificuldade em compreender" estas acções, insistindo na mentira de que os professores não querem ser avaliados e queixando-se de que a greve às aulas assistidas é um boicote à avaliação de desempenho.

Não há dúvida. Os professores terão de continuar a explicar às mentes monolíticas do M"E", de forma paciente mas determinada, como fazem com os seus alunos, que o que de todo recusam é a "avaliação docente", o "estatuto profissional" e a "política educativa" que a pedreira instalada no ministério da 5 de Outubro quer obstinadamente impor.
Estou certo que o farão. E, com isso, todos ficarão a ganhar: não apenas os professores mas, mais do que eles, o País.

O estado a que isto chegou

Depois da contestação ao modelo de avaliação dos professores, o Ministério da Educação no passado dia 5 de Janeiro fez publicar em Diário da República um Decreto Regulamentar (nº1-A/2009) que, segundo os responsáveis da 5 de Outubro, simplifica o modelo de avaliação primitivamente concebido, na medida em que – e isto é assumido pela Ministra – lhe foram retirados os aspectos mais criticáveis. No entanto, logo se acrescenta que no próximo ano lectivo de 2009/2010 se mantêm em vigor os aspectos que agora se retiram nesta simplificação, justamente por serem criticáveis.

Quem me explica esta conversa? Há aqui alguém que, decididamente, pensa que os professores e o povo em geral são parvos. E o pior é que quem assim pensa são os responsáveis pelo Ministério da Educação. Abençoado país que possui governantes deste quilate.

Após análise do citado Decreto Regulamentar cujo objectivo é simplificar, a primeira conclusão a retirar é que complica. Vejamos alguns exemplos transportados para o mundo conhecido por todos para que, efectivamente, todos percebam do que se está a falar.

Imagine o leitor que é médico e que trabalha num centro de saúde dirigido por uma advogado e onde você é o único profissional de saúde, por sinal, reconhecido pela comunidade como excelente. Imagine, ainda, que o governo decidiu que você devia ser avaliado enquanto médico – (se receitava os medicamentos apropriados, se auscultava correctamente os doentes, etc.) – pelo advogado, director do centro de saúde. Perante esta coisa tresloucada seria de esperar que você ficasse quieto e calado? Claro que não. Pois bem, foi o que a classe docente fez quando se apercebeu que um professor de história ia avaliar um professor de educação física e que este avaliaria um de educação visual e assim por diante. E nesta conformidade se manifestaram na rua exigindo uma outra avaliação, no mínimo séria e honesta.

Agora imagine o leitor que o governo, perante a sua crítica, na qualidade de médico, simplificava a avaliação dizendo-lhe: Bem, nós percebemos a sua crítica e, por isso, resolvemos o assunto da seguinte maneira: Desde logo o senhor pode prescindir de ser avaliado na vertente “acto médico”. No entanto, se optar por tal caminho nunca poderá ser classificado com “Muito Bom” ou “Excelente”. Se quiser ter essas altas classificações das duas uma: Ou aceita ser avaliado pelo Advogado, director do centro de saúde, ou requer ser avaliado por um médico, só que, neste caso, não lhe dizemos qual será o médico que o irá avaliar. Pode ser um acabado de entrar na profissão, sem experiência, ou até pode não haver qualquer médico e neste caso a gente não lhe sabe dizer que classificação é que terá.

Convenhamos que para simplificação não está mau de todo. No entanto a questão central é esta: Estaria o leitor disponível para aceitar esta opacidade de procedimentos totalmente aberta ao arbítrio? Penso que não. E um professor de educação visual, arquitecto, tem que estar disponível a tudo isto só para não ser avaliado por um colega de educação física?

Agora imagine o leitor que tem uma empresa de construção civil e que concorre a um concurso aberto pelo Ministério da Educação destinado a construir uma escola em Mértola. São três os concorrentes. A empresa do leitor e mais duas. Agora imagine que o Ministério da Educação delega o poder de avaliar as propostas e de, portanto, decidir quem ganha o concurso, numa empresa sua concorrente no referido concurso? Como reagiria o leitor? Provavelmente clamando que isto era um caso de polícia ou que se estava numa república das bananas. Pois bem, então que dizer dum sistema de avaliação imposto pelo Ministério da Educação onde um professor irá avaliar outro, mas que depois os dois irão ser opositores ao mesmo concurso e à mesma vaga? Pode-se dizer tudo. Que os professores não querem ser avaliados é que não.

E é este o estado da república em matéria de avaliação de professores. És professor de educação física, toma lá um arquitecto para te avaliar que a bola também faz arcos e a ginástica é pura estética em movimento. Achas isto mal? Não percebes a coisa? Então deixa-te de avaliações e contenta-te com um “Bom” ou um “Suficiente” que a tua mente é de horizontes curtos. Ainda refilas? Então requer lá um professor de educação física para te avaliar que a gente logo vê o que consegue. Pobres e mal agradecidos. Andam todos com a mania que são Ronaldos.
E VIVA PORTUGAL!

in "Diário do Alentejo" de 16/01/09 (via Movimento Escola Pública)

domingo, janeiro 18, 2009

Depois disto…

  • "admito que perdi os professores, mas ganhei a opinião pública" (Mariade Lurdes Rodrigues, Junho/2006)
  • "vocês [deputados do PS] estão a dar ouvidos a esses professorzecos" (Valter Lemos, Assembleia da República, 24/01/2008)
  • "caso haja grande número de professores a abandonar o ensino, semprese poderiam recrutar novos no Brasil" (Jorge Pedreira, Novembro/2008)
  • "quando se dá uma bolacha a um rato, ele a seguir quer um copo deleite!" (Jorge Pedreira, Auditório da Estalagem do Sado, 16/11/2008)
  • "[os professores são] arruaceiros, covardes, são como o esparguete (depois de esticados, partem), só são valentes quando estão emgrupo!" (Margarida Moreira - DREN, Viana do Castelo, 28/11/2008)

… só mesmo quem aceite ser humilhado e tratado abaixo de cão não fará greve, amanhã.

O semeador

O professor é um semeador.
De saberes, essenciais à transformação de estudantes inexperientes em profissionais qualificados e competentes.
De valores, indispensáveis à educação de crianças e jovens, quantas vezes sem referências e princípios, para que um dia venham a ser adultos conscientes e responsáveis.
De exemplos — de dignidade, de coragem, de cidadania — que podem levar à conversão de um rebanho de gente resignada numa sociedade de mulheres e homens livres.

É por isto que, mais do que uma profissão, ser professor é uma missão. Difícil, sem dúvida, mas muito nobre.
Há quem a queira transformar num calvário insuportável. Mais tarde ou mais cedo pagará por isso…

sábado, janeiro 17, 2009

Libertem a Palestina

Free Palestine…



Can you, President Obama?

Now we hope you keep saying…
Yes, we can!

Quantos seremos?



QUANTOS SEREMOS?


Não sei quantos seremos

mas que importa?!

Um só que fosse

e já valia a pena

Aqui no mundo

alguém que se condena

A não ser conivente

Na farsa do presente

Não podemos mudar a hora da chegada

Nem talvez a mais certa

A da partida.

Mas podemos fazer a descoberta

Do que presta

E não presta

Nesta vida.

E o que não presta é isto

esta mentira

Quotidiana.

Esta comédia desumana

E triste

Que cobre de soturna maldição

A própria indignação

Que lhe resiste.

Miguel Torga, Câmara Ardente


19 JANEIRO, GREVE NACIONAL DOS PROFESSORES

Se eu pudesse falar contigo e dizer-te como é importate que faças esta Greve. Como ela te ajuda a vencer os medos. Como ela faz de nós seres importantes e nos mostramos importantes aos olhos de todos.

Começámos a incomodar e o poder a perceber que não faz de nós objectos, simples recursos de um mundo que não quero.

Se ao menos também tu quiseres fazer parte de um novo SER PROFESSOR. Em que não nos esmagam todos os dias nos normativos, nos discursos dos nossos governantes, nas reuniões partidárias de auto-elogio, nos debates de surdos no nosso parlamento.

Se ao menos quiseres combater "esta mentira quotidiana".

A GREVE é, sim, um acto político. E o que o não é? E é ao escrevê-lo que marcamos a história e construímos o futuro.

Espero encontrar-te segunda feira, ao lado de tantos que, como Torga, não se resignam.

Anónimo

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Acordem, professores!

Definitivamente, não adianta pedir, reclamar ou mesmo exigir a suspensão do modelo de avaliação, se assim podemos designar a maquinação engendrada pelo ministério dito da educação para domesticar os professores. Mesmo que sejam 139 presidentes de conselhos executivos de escolas a fazê-lo.
Quem há-de acabar com o pesadelo serão os próprios professores.
Basta apenas acordarem, concentrarem-se na sua inestimável missão de ensinar e ignorarem de vez as ameaças veladas dos fantasmas que ainda habitam o mi(ni)stério da 5 de Outubro e as patéticas ordens de serviço dos seus obedientes cães de fila.
Acredito que é o que está a acontecer!

domingo, janeiro 11, 2009

Por que aplaudo a iniciativa dos 139 PCE's


"[…] Para alguns professores, as decisões saídas do encontro de ontem souberam a pouco. Não concordo com essa apreciação negativa. Explico porquê.
  1. Os PCEs definiram um calendário de reuniões com o objectivo de manterem a luta e agregarem mais PCEs ao protesto. No dia 7 de Fevereiro, haverá nova reunião. Provavelmente, com mais adesões.
  2. A hipótese da demissão colectiva não foi descartada. Poderá ser equacionada num futuro próximo.
  3. 139 PCEs são 10% dos PCEs do país. É um número significativo atendendo ao amadorismo da organização. O encontro foi promovido por um grupo de PCEs de 20 escolas da zona de Coimbra. A estratégia de divulgação foi amadora: emails e blogs.
  4. O manifesto aprovado na reunião exige a suspensão da avaliação e insiste na confusão e instabilidade criadas pelo modelo burocrático. É dito que o modelo burocrático é impraticável e desvia as energias e os recursos das escolas daquilo que é essencial: o ensino.
  5. Os mais críticos da falta de resultados da reunião de ontem são os que esperariam ver os outros a resolver um problema que é de todos. Cada um tem de fazer a sua parte. No dia 19 de Janeiro, cada professor terá oportunidade de fazer a sua. Aderindo à greve, sem desculpas e sem atirar para cima dos outros a responsabilidade de cada um."

Coragem, mas pouca!

Afinal os 139 presidentes dos conselhos executivos reunidos em Santarém resolveram adiar o pedido de demissão.
Optaram por "solicitar uma audiência à ministra da Educação a fim de pedir a suspensão do actual modelo de avaliação dos professores", propósito que se nos afigura pouco menos que surrealista pois, por um lado, vai ser difícil encontrar Maria de Lurdes Rodrigues, em quem há muito tempo ninguém consegue pôr a vista em cima e, por outro lado, à semelhança de centenas de petições que esbarraram na prepotência da 5 de Outubro, a esta acontecerá, oxalá esteja enganado, o mesmo.
Num momento em que os professores são ameaçados e coagidos pelo governo como em 35 anos de democracia alguma vez se viu, esperava-se um pouco mais de coragem e de determinação daqueles cujos mandatos lhes foram confiados pelos seus colegas, se ainda os consideram como tal, tanto mais que não é somente a avaliação perversa a que querem submeter professores que está em causa, mas sobretudo os seus nefastos efeitos no funcionamento da Escola Pública.
Enfim, registe-se que "a análise da resposta [da Ministra (!)] e de outras medidas a tomar será feita numa segunda reunião, marcada para 7 de Fevereiro". Veremos então se haverá a coragem que agora faltou e se a coerência não será uma palavra vã!…
Até lá, os professores têm de continuar a resistir. Só assim serão dignos da profissão, chamemos-lhe antes missão, que desempenham. Só assim serão um exemplo de cidadania e uma referência ética para os seus alunos. Sem isso não há Educação.

sábado, janeiro 10, 2009

O massacre de Gaza

O massacre está em curso, assistindo-se na comunicação social a tão curiosos como ridículos esforços para distinguir entre vítimas civis e militares. Em Gaza, para que conste, não há militares, a não ser os invasores. Existem restos da polícia autonómica, militantes do Hamas armados e organizados como milícias. O resto é milhão e meio de desempregados, famintos e humilhados. Tal é o inimigo de Israel que lançou alguns morteiros, por exemplo contra a cidade de Asqelon, que em 1948 se chamava Al-Majdal e era uma aldeia árabe cuja população, vítima da limpeza étnica em que assentou a criação do Estado de Israel, se refugiou em Gaza.

Os dirigentes de Israel asseguram que os «civis» serão poupados durante a invasão. Tal como aconteceu em 1982 em Beirute, onde os militares comandados por Ariel Sharon, fundador do partido de Ehud Olmert e Tzipi Livni, destruíram o sector ocidental da cidade, acabando por patrocinar os massacres de Sabra e Chatila. Ou em 1996, quando Shimon Peres, actual presidente israelita, foi responsável pelo massacre de Canan, também no Líbano, e mesmo assim perdeu as eleições parlamentares.

Gaza, ainda assim, será diferente de Sabra e Chatila. Agora, os soldados israelitas sujam mesmo as mãos com o sangue das populações indefesas – salpicando inevitavelmente os hipócritas que os defendem. (ler mais aqui)

José Goulão (jornalista)

Das pedras de David aos tanques de Golias

1. […] Tanto quanto estamos autorizados a concluir do desenvolvimento deste edificante episódio, David, nas muitas batalhas que fizeram dele rei de Judá e de Jerusalém e estenderam o seu poder até à margem direita do rio Eufrates, não voltou a usar a funda e as pedras.

2. Também não as usa agora. Nestes últimos cinquenta anos cresceram a tal ponto a David as forças e o tamanho que entre ele e o sobranceiro Golias já não é possível reconhecer qualquer diferença, podendo até dizer-se, sem ofender a ofuscante claridade dos factos, que se tornou num novo Golias. David, hoje, é Golias, mas um Golias que deixou de carregar com pesadas e afinal inúteis armas de bronze. Aquele louro David de antanho sobrevoa de helicóptero as terras palestinas ocupadas e dispara mísseis contra alvos inermes, aquele delicado David de outrora tripula os mais poderosos tanques do mundo e esmaga e rebenta tudo o que encontra na sua frente, aquele lírico David que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a “poética” mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinos para depois negociar com o que deles restar. Em poucas palavras, é nisto que consiste, desde 1948, com ligeiras variantes meramente tácticas, a estratégia política israelita. Intoxicados pela ideia messiânica de um Grande Israel que realize finalmente os sonhos expansionistas do sionismo mais radical; contaminados pela monstruosa e enraizada “certeza” de que neste catastrófico e absurdo mundo existe um povo eleito por Deus e que, portanto, estão automaticamente justificadas e autorizadas, em nome também dos horrores do passado e dos medos de hoje, todas as acções próprias resulatantes de um racismo obsessivo, psicológica e patologicamente exclusivista; educados e treinados na ideia de que quaisquer sofrimentos que tenham infligido, inflijam ou venham a infligir aos outros, e em particular aos palestinos, sempre ficarão abaixo dos que sofreram no Holocausto, os judeus arranham interminavelmente a sua própria ferida para que não deixe de sangrar, para torná-la incurável, e mostram-na ao mundo como se tratasse de uma bandeira. Israel fez suas as terríveis palavras de Jeová no 'Deuteronómio': “Minha é a vingança, e eu lhes darei o pago”. Israel quer que nos sintamos culpados, todos nós, directa ou indirectamente, dos horrores do Holocausto, Israel quer que renunciemos ao mais elementar juízo crítico e nos transformemos em dócil eco da sua vontade, Israel quer que reconheçamos 'de jure' o que para eles é já um exercício 'de facto': a impunidade absoluta. Do ponto de vista dos judeus, Israel não poderá nunca ser submetido a julgamento, uma vez que foi torturado, gaseado e queimado em Auschwitz. Pergunto-me se esses judeus que morreram nos campos de concentração nazis, esses que foram trucidados nos pogromes, esses que apodreceram nos guetos, pergunto-me se essa imensa multidão de infelizes não sentiria vergonha pelos actos infames que os seus descendentes vêm cometendo. Pergunto-me se o facto de terem sofrido tanto não seria a melhor causa para não fazerem sofrer os outros.

As pedras de David mudaram de mãos, agora são os palestinos que as atiram. Golias está do outro lado, armado e equipado como nunca se viu soldado algum na história das guerras, salvo, claro está, o amigo norte-americano. Ah, sim, as horrendas matanças de civis causadas pelos terroristas suicidas… Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida, mas Israel ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.

José Saramago, O Caderno de Saramago

sexta-feira, janeiro 09, 2009