quarta-feira, outubro 24, 2012

Agarrem-me que vou vomitar!

Em Portugal, o subsídio de desemprego é dos mais baixos da Europa, constituindo um grave problema para centenas de milhares de pessoas, grande parte das quais obrigada a sobreviver abaixo do limiar da pobreza.


Mas não para este governo, que há dias, numa jogada de propaganda, admitiu vir a pedir uma autorização legislativa para taxar as transacções financeiras — no dia de S. Nunca, é claro! —, mas agora manifesta a intenção de cortar 10 por cento nas magras prestações que os desempregados recebem. É esta a noção de equidade de uma corja de malfeitores cuja imaginação não tem limites quando se trata de desgraçar a vida não apenas de quem trabalha mas até quem nem sequer essa possibilidade tem. Agarrem-me que vou vomitar!

terça-feira, outubro 23, 2012

O regresso ao salazarismo


Não deixa de ser curioso e paradoxal que o FMI, apesar de ser habitualmente o elemento da Troika mais odiado pelos manifestantes, ao contrário do silêncio da Comissão Europeia e do BCE, dominados pela Alemanha, seja a única organização a reconhecer a dificuldade de aplicação dos "programas de ajustamento", tendo mesmo a sua presidente Christine Lagarde afirmado que é preciso pôr um travão na austeridade.
Cavaco Silva, em quem ninguém tem posto a vista em cima, por ter-se esquecido que ainda é o Presidente da República, ou por medo de enfrentar a contestação popular, lembrou-se  que tem uma conta no Facebook e, aproveitando as palavras de Lagarde, foi lá deixar um recadinho, afirmando "esperar que a orientação do FMI chegue aos ouvidos dos políticos europeus dos chamados países credores e de outras organizações internacionais".


Concluindo, quando tanto precisamos de um Presidente da República que utilizasse todos os poderes que a Constituição lhe confere para confrontar o "governo" com a realidade e responsabilizá-lo pela tragédia que está a incubar, parece que voltámos aos tempos do salazarismo: o Ministro das Finanças (foi por aí que Salazar começou antes de ser Presidente do Conselho) manda e o Presidente da República corta fitas ou (com medo) nem isso.

quinta-feira, outubro 18, 2012

A Lusofonia é uma festa da diversidade cultural

O último dia do III Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, em Natal, foi um forrobodó literário, uma verdadeira festa da diversidade cultural e literária da língua de Camões, com os países da lusofonia unidos numa mesma dança a dar ancas às consoantes e devolver seios às vogais (para usar uma expressão de Mia Couto). 


Curiosamente, muito se falou sobre Literatura Oral e Tradicional, de línguas e dialectos que não conhecem expressão escrita, da pluralidade do português e ninguém se lembrou do Acordo Ortográfico. Ainda bem. A Lusofonia e a Língua Portuguesa dispensam-no perfeitamente.

quarta-feira, outubro 17, 2012

Azar e sorte


É um enorme azar, mas percebe-se, que António Borges, um facínora ultra-liberal, seja consultor  da "corja de salteadores" (ministro extra-numerário, como lhe chamou Louçã) e lidere o processo de liquidação do que resta dos recursos nacionais.
Mas é uma enorme sorte, em tempos de tristeza e depressão, termos um palhaço que não se enxerga ao espelho quando acusa os outros de ignorantes e, sempre que fala, só debita asneiras e piadas (ainda que de mau gosto).


É que é mesmo um enorme azar termos um ministro das finanças que tudo tem feito, de forma consciente e ideológica — não, o homem não é louco! — para destruir o país, a economia e a vida da esmagadora maioria dos portugueses, com doses massivas de austeridade e orçamentos impossíveis de executar, porque não passam de gigantescos assaltos à mão armada a quem já pouco mais tem que se lhe roube!
Mas, apesar de tudo, é uma enorme sorte para todos nós que a obsessão do homem consiga pôr todo o país contra ele e leve ao desmoronamento da coligação governamental, à queda do governo e ao chumbo do "arrastão fiscal" para 2013. Já falta pouco…

PS — Coincidência (ou talvez não): António Borges é o único a vir a público defender Vítor Gaspar; e Alexandre Soares dos Santos, dono do Pingo Doce e o homem mais rico de Portugal, o único a defender o seu "inteligente" administrador!

terça-feira, outubro 16, 2012

Bem-vindos ao neo-fascismo!…

Trabalhadores e pensionistas vão pagar 70 por cento do défice. Carga fiscal vai atingir 36,8 por cento do PIB e será a mais elevada dos últimos 35 anos. 80 por cento da chamada consolidação orçamental (que no fim não acontecerá) vai ser feita do lado da receita. O Governo abre a corrida às reformas até ao final do ano. Protestos em São Bento acabam com carga policial em frente à residência do primeiro-ministro.



O que é que tudo isto tem a ver com a democracia?… Rigorosamente nada!…
Sejam bem-vindos ao neo-fascismo!…




segunda-feira, outubro 15, 2012

A arte de furtar

OE2013: menos 2,7 mil ME na despesa, mais 4 mil ME na receita: Maioria da consolidação é conseguida do lado da receita, ao contrário do que a troika queria.


Sentimos demais na pele, na carne, e até na alma, os efeitos da maldita e inútil austeridade. O caminho não pode ser este!
Mas não deixa de ser "curioso" que a troika defenda que a "consolidação" orçamental se faça sobretudo pelo redução da despesa pública, em particular as gorduras e mama do Estado, e os "salteadores", pelo contrário, prefiram ir sempre e mais à carteira do povo.
O Orçamento é uma obra de arte: a arte de furtar!…

quinta-feira, outubro 11, 2012

Marx estava certo

A agressão dirigida a pessoas no poder pode aumentar, tal como os suicídios, revela a psiquiatria.
O segundo aspecto cremos que é uma dramática consequência da competição, da pressão e do stress a que a vida moderna e o sistema em que a mesma se insere submetem os indivíduos.
Já o primeiro não é senão fruto do sentimento de revolta que se apodera da maioria da sociedade, quando finalmente descobre que o poder estabelecido defende os interesses de uma minoria, em vez de prosseguir o bem comum, como propagandeia.


Ou seja, a luta de classes está viva. Porque este sistema iníquo e imoral enriquece cada vez mais uma minoria de exploradores à custa do empobrecimento cada vez maior e mais generalizado da população. Porque a maioria da sociedade já não acredita (ou tem imensas dificuldades de acreditar) num sistema em que "a liberdade de eleição permite apenas escolher o molho com que seremos devorados."  Porque a minoria que detém o poder e os privilégios nunca deles abdicará, voluntária e pacificamente, em prol duma sociedade mais justa e igualitária. Há 150 anos, Marx estava certo.

segunda-feira, outubro 01, 2012

O ministro extraordinário


Quando um irresponsável é encarregado pelo governo, no âmbito do Memorando da Troika, de vender a pataco o que resta do sector empresarial do Estado, de fazer de conta que anda a renegociar as parcerias público-privado deixando o sorvedouro continuar, de estruturar a Banca (que continua a fechar a torneira do crédito às (pequenas e médias) empresas… Quando tem a obsessão de cortar nos salários (que são já dos mais baixos da União Europeia) para aumentar a competitividade das empresas, estando provado que esse está longe de ser o factor mais importante para o conseguir, além de agravar a recessão da economia pela diminuição do poder de compra das famílias e a destruição do mercado interno… Quando consegue a crítica (quase) unânime da esquerda à direita, dos sindicatos às confederações patronais, da esmagadora maioria dos economistas… 
E, no entanto, do alto da sua presunção, acha que todos os outros não passam de uma cambada de ignorantes, poderíamos pensar que a luminária não é senão uma anedota. 


Acontece porém que a coisa é muito mais grave. O energúmeno, milionariamente pago pelos contribuintes, é conselheiro de Passos Coelho. Uma espécie de ministro extraordinário cuja doutrina económica ultra-liberal pode conduzir este país a um abismo sem retorno.