segunda-feira, outubro 31, 2005

Dia Mundial de quê?…

Hoje comemora-se o Dia Mundial da Poupança, mas os portugueses, cujo endividamento passou de 20 por cento do rendimento disponível, em 1990, para 118 ( ! ) por cento, em 2004, não têm dinheiro para festas. E no próximo ano será pior: o Banco de Portugal prevê que a taxa de poupança caia para o valor mais baixo dos últimos seis anos.

A situação é particularmente preocupante para 2123 famílias portuguesas que, por estarem sobreendividadas, não conseguem fazer face às suas dívidas vencidas ou vincendas.

São as dramáticas consequências do desemprego e da precariedade do emprego que assolam a nossa globalizada e frágil economia.

Sem palavras



Pessoas à chuva
Brassaï, 1935

Alguém tem razão para festejar?

Os portugueses estão cada vez mais pessimistas em relação ao futuro da economia. Em resposta ao inquérito sobre a evolução da sua situação económica pessoal e do seu agregado familiar, durante o próximo ano, 58,2% acham que aquela vai piorar, 27% consideram que vai ficar na mesma, e apenas uma minoria de 10,3% acredita que vai melhorar.

Com um Orçamento de Estado para 2006, onde se prevêem cortes na despesa pública, a descida dos salários reais e o aumento dos impostos, será que alguém tem razão para festejar? Só se forem os 10% que se aproveitam da crise…

domingo, outubro 30, 2005

A "singularidade" de um ministro incompreensível

O presidente da Associação Sindical de Juízes diz que o primeiro-ministro deve um pedido de desculpas ao país por ter prestado declarações falsas quando disse que não beneficiava de um regime especial de saúde.

Em resposta, o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, disse textualmente: "Os serviços sociais não são serviços sociais para ministros. Toda a função pública tem serviços sociais complementares e dá-se o caso dos serviços sociais da presidência do Conselho de ministros constituírem o regime geral dos serviços sociais complementares. Aqui a singularidade é mesmo essa."

Perceberam? Não??? Eu também não!… Se calhar foi esse mesmo o objectivo do senhor ministro…

Sem palavras (II)


Domingo de desempregados nas "black-areas"
Gisèle Freund, 1935




Insurreição
Vieira da Silva, 1939

sábado, outubro 29, 2005

Quem não é profissional não merece reforma!

"Quando um candidato diz que não é político profissional, o que é quer que dizer com isso? Não foi político profissional durante os dez anos em que foi primeiro-ministro? Então porque tem direito à reforma de antigo primeiro-ministro?”, interrogou-se hoje Mário Soares, durante a apresentação da Comissão Nacional de Honra da sua candidatura, referindo-se ao candidato da Direita, Cavaco Silva.

Pegando no mote de Soares, é caso para dizer que se Cavaco não se considera um político profissional lá saberá porquê! E nós também…

Dos dez anos da sua "governação", oito foram com maiorias absolutas e condições absolutamente excepcionais e irrepetíveis — fundos comunitários em barda, receitas chorudas da venda das empresas públicas, petróleo ao preço da chuva, dólar barato, economia internacional em expansão — e, apesar disso, enquanto a Irlanda e a Espanha, na altura, ao nosso nível, se desenvolveram a olhos vistos, o melhor que nós conseguimos com o "milagre cavaquista" foi betão, asfalto e corrupção!

Como se vê, apesar da sua laureada sapiência que o levou a proferir a “célebre” frase “raramente tenho dúvidas e nunca me engano”, foi nisto que deu o “profissionalismo” do professor Cavaco. Na realidade, muito pouco para merecer a reforma de antigo primeiro-ministro, paga por todos nós!…

O candidato "independente"

As decisões do PSD e do CDS/PP de apoiar a candidatura de Cavaco Silva à presidência da República, de tão esperadas e inevitáveis, não são propriamente notícias.
Se a Direita não apoiasse o seu candidato, quem mais o faria? Só se fosse José Sócrates que, ao que consta, não desdenharia de o ver em Belém…

São como cristal, as palavras (1)

O dia da criação


Macho e fêmea os criou.
Gênese, 1, 27

I

Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.


Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.


Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.


Vinícius de Moraes

sexta-feira, outubro 28, 2005

Crisis? What crisis? (II)

Os lucros dos quatro maiores bancos privados portugueses – Banco Espírito Santo (BES), Millennium BCP, Banco Português de Investimento (BPI) e Santander Totta – somaram no terceiro trimestre de 2005 mais de 1052 milhões de euros. Uma subida de cerca de 191 milhões de euros face aos lucros registados pelos quatro gigantes em igual período do ano anterior.

Enquanto a economia portuguesa “cresce” a passo de caracol — 0,4 por cento — os lucros da Banca privada subiram em flecha entre os 15,2 por cento do BPI e os 31,2 por cento do Totta.

Uma das estratégias da banca reside na contenção de… salários, pois claro! O Totta, por exemplo, aumentou os seus empregados apenas em um por cento. E chega, que os tempos são de crise!…

Sondagens (II)

Cavaco à primeira com 56,2%???…

Trinta anos após o derrube do fascismo, o povo português parece continuar a sofrer de amnésia, agravada como sempre pelos três F’s (Futebol, Fado e Fátima — a que agora se junta um quarto: Felgueiras) e mais as telenovelas e os “reality sows”.
Será que já esquecemos "o quero, posso e mando" cavaquista, as cargas policiais sobre os trabalhadores, os estudantes e… os polícias, as portagens e a "porrada" na ponte 25 de Abril, a polícia secreta, o “pai” do défice e do “monstro”?


Manuel Alegre com 15,7% e Mário Soares com 10,2%

O povo de Esquerda, os democratas, os cidadãos livres e independentes, unem-se cada vez mais na candidatura de Manuel Alegre contra o regresso do cavaquismo e a “revanche” da Direita!…
A verdadeira "sondagem" será em Janeiro. Até lá será sempre Maio. "Que a voz não te esmoreça, vamos lutar!".

Sem palavras (I)



Nazaré
Jean Dieuzaide, 1950

quinta-feira, outubro 27, 2005

Crisis? What crisis? (I)

Em 2004, os lucros líquidos das 500 maiores empresas em Portugal somaram 3.111 milhões de euros (623,7 milhões de contos), tendo aumentado 42,1% relativamente a 2003. Se se considerar o período 2001-2004, o aumento dos lucros destas empresas atingiu 86,7%. Estes dados mostram que a crise económica não está a afectar as maiores empresas, revelando-se até como anos dourados, contrariamente ao que sucede com as pequenas e médias empresas.

Este aumento dos lucros tem-se verificado simultaneamente com um aumento menor das vendas e do crescimento do VAB (riqueza criada). Por exemplo, em 2004, os lucros cresceram 42,1%, as vendas 7,1% e o VAB 21,3%.
Aquele crescimento dos lucros parece ter sido conseguido, fundamentalmente, pela redução da percentagem do VAB destinada ao pagamento de impostos ao Estado e ao pagamento de remunerações aos trabalhadores.
Mais palavras pra quê?

Riso amarelo

PROGRAMA DA CANDIDATURA DE CACILVA VÁCUO

0) Ida às oficinas de Camarate, com vista a pôr um motor transformado no velho Ford blindado, oferecido pela Baronesa-Sopeira Thatcher, de modo a poder vencer a distância Porto/Lisboa em apenas meia-hora (O TGV dele...)

1) Criação imediata da Ordem das Modistas e Costureiras, com Bastonária vitalícia, Maria Cacilva Vácuo.

2) Promoção de Katia Guerreiro a Amália Rodrigues II, com correcção da História, falsificação das fotos, e enxertos nos cds da Amália de material genético da Katia (choque tecnológico)

3) Atribuição da Grã-Cruz da Liberdade a José Sócrates, por se ter atrevido a fazer, em seis meses, tudo aquilo com que o Aníbal sonhou, durante Dez Anos, e não se atreveu, não fosse cair-lhe algum garrafão da Ponte em cima.

4) Fim imediato dos processos lesivos de pessoas de bem, como o Apito Dourado, o Casa Pia, o Furacão, o Felgueiras, e a obrigação dos familiares dos mortos com lotes de plasma contaminado, a indemnizarem a Doutora Leoneza Bolor, por danos morais prolongados.

5) Reconversão de todas as estradas posteriores ao IP5 em estradas de modelo IP5: curvas para serem mais longas, contra-curvas para quem está farto de curvas se debruçar nas contra-curvas, inclinações fora da lei e 3cms a menos na camada de betume para os cofres de empreiteiros e donos de obra apoiantes da candidatura.

6) Criação da Cidade de Boliqueime, e sua imediata candidatura a Património da Humanidade, junto da U.N.E.S.C.O.


7) Entrega de todas as obras em curso, no país, à tutela do Arq. Tomás Taveira, com vista a serem cumpridas todas as directivas comunitárias que obrigam à existência, na porta das traseiras (cof, cof, cof) de rampas de acesso para cidadãos de mobilidade reduzida (deus me perdoe...)

8) Eliminação imediata de todos os blogues, espaços de comentários e chats onde se possa dizer mal do Grande Timoneiro e de todos os que lhe são próximos.

9) Retirada dos arquivos do estado, depósitos televisivos, e rusgas-surpresa em domicílios onde possa haver vestígios de vídeos, fotos, ou dvd’s onde se veja o Salvador da Pátria a mascar a célebre fatia de bolo-rei com a suas mandíbulas de aligator financeiro.

10) Substituição das refeições servidas nos refeitórios das escolas básicas pelo meio queque que o vovô Cavaco dá aos netinhos, na pastelaria "O Meu Ninho Doce", da Rua do Possidónio.

11) Renovação da Praça do Terreiro do Paço, que deverá passar-se a chamar Terreiro do Cavaco, ou Praça Mariani (a decidir após a "eleição", cof, cof, cof...). A medonha estátua de D. José deverá ser substituída por uma réplica, em ferro fundido, da bomba de gasolina paternal, em Boliqueime.

12) Substituição da velha anedota "Qual a diferença entre Deus e Mário Soares? -- é que Deus está em toda a parte, e o Soares já lá esteve", por uma versão séc. XXI, que rezará o seguinte "Qual a diferença entre Deus e o Professor Aníbal? -- é que Deus está em toda a parte, e o Aníbal gostaria de estar, mas ninguém o convida porque não é conhecido".

13) Correcção, em todos os livros de História, da expressão "deficit gigantesco", associado aos anos do GREAT PORTUGUESE DISASTER (1985/1995) pela expressão "ligeiro desequilíbrio das contas".

14) Revisão do projecto do TGV, cujo percurso deverá incluir a Figueira da Foz, onde o desastre começou, escala em Cidade de Boliqueime, evitar Madrid, enquanto lá estiver o Zapatero, e o resto fica em aberto.

15) Dividir Portugal, entre os que apoiaram estas medidas e as que acham que só podiam vir da cabeça de alguém muito perturbado.

A Bem da Nação
Aníbal Cacilva Vácuo,
pai do GREAT PORTUGUESE DISASTER


(Arrebenta, leitor do Expresso on line)

Sondagens (I)

O sebastianismo lusitano, infelizmente, não morreu em Alcácer-Quibir. Nem desapareceu com a queda de Salazar. Nem tampouco foi esquecido com os dez anos do logro cavaquista.
A maioria — por enquanto ainda não absoluta — dos portugueses continua a acreditar, estupidamente, no regresso d' “O Desejado”.

Mas ainda é tempo de impedir a tragédia!
São cada vez mais os portugueses que acreditam que a Democracia não tem donos e que o Futuro lhes pertence! Alegremente

Cantiga de Maio (1)

Só ouve o brado da terra


Só ouve o brado da terra

Quem dentro dela
Veio a nascer
Agora é que pinta o bago
Agora é qu'isto
vai aquecer

Cala-te ó clarim da morte
Que a tua sorte
Não hei-de eu querer
Mal haja a noite assassina
E quem domina
Sem nos vencer

Cobrem-se os campos de gelo
Já não se ouve
O galo cantor
Andam os lobos à solta
Pega no teu
Cajado, pastor

Homem de costas vergadas
De unhas cravadas
Na pele a arder
É minha a tua canseira
Mas há quem queira
Ver-te sofrer

Anda ver o Deus banqueiro
Que engana à hora e
que rouba ao mês
Há milhões no mundo inteiro
O galinheiro é de
dois ou três

Zeca Afonso, Coro dos Tribunais, 1975

quarta-feira, outubro 26, 2005

Respeitar o professor é preciso! Urgentemente...

A violência, a indisciplina e a falta de autoridade apoderaram-se das escolas, o que em determinadas ocasiões desemboca na humilhação e no escárnio público dos professores, denunciou, em Buenos Aires, o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, durante a primeira conferência sobre Educação organizada pela Fundação Santillana. O escritor acrescentou que a sociedade prefere não abordar o problema "e olha para o lado porque seria demasiado doloroso admitir o que está a acontecer".


Saramago considera que foi um erro substituir a palavra "instrução" por "educação" e assegura que "a escola pode instruir os seus alunos mas não pode educá-los porque não tem meios para isso nem é essa a sua finalidade". Exemplificando, o escritor lembrou como famílias com pais analfabetos podem educar os seus filhos, ainda que estes possam não ter instrução, ao passo que jovens instruídos, frequentemente, não têm educação.

José Saramago acrescentou que o problema que as sociedades modernas enfrentam é que a Escola deixou de instruir as crianças e os jovens porque caiu numa anarquia motivada pela perda de autoridade dos professores, os quais se sentem impotentes para estabelecer as condições necessárias para transmitir o saber aos alunos.

Numa altura em que os professores são vítimas da sanha pretensamente justiceira do Governo e o estatuto social da classe docente nunca foi tão vilipendiado, ainda bem que alguém com a estatura moral e intelectual de Saramago não “olha para o lado”! Por mais “doloroso” que seja “admitir o que está a acontecer"...

terça-feira, outubro 25, 2005

Agora vão-se os anéis. A seguir ficamos sem os dedos!…

O Banco de Portugal (BP) anunciou ter vendido nos últimos meses mais 35 toneladas de ouro das suas reservas. Anteriormente, ao longo de 2004, o BP já vendera 55 toneladas.

Assim, as reservas de ouro de Portugal reduzem-se assustadoramente. Em 1974, no ano da Revolução, eram muito superiores a 800 toneladas. Em 31 de Dezembro de 2002 estavam reduzidas a 591. Hoje serão de pouco mais de 400.



Se estivéssemos num país decente, o BP deveria explicar as razões porque tem vendido o ouro, o que tem feito com o produto das vendas e qual a sua política quanto às reservas. Como vivemos no reino da impunidade, nem os governos nem o governador do BP, Vítor Constâncio, julgam necessário dar explicações aos contribuintes acerca do que estão a fazer.

É que, se se trata de recompor as reservas substituindo activos sólidos, como o ouro, por activos monetários que se desvalorizam, como o dólar americano, trata-se de uma decisão, no mínimo, irresponsável que, a julgar pelo estado da economia real do país, próxima da estagnação, não augura nada de bom.

Oxalá estejamos enganados!…

segunda-feira, outubro 24, 2005

Abaixo el-rei Sebastião

É preciso enterrar el-rei Sebastião
é preciso dizer a toda a gente
que o Desejado já não pode vir.
É preciso quebrar na ideia e na canção
a guitarra fantástica e doente
que alguém trouxe de Alcácer Quibir.

Eu digo que está morto.
Deixai em paz el-rei Sebastião
deixai-o no desastre e na loucura.
Sem precisarmos de sair do porto
temos aqui à mão
a terra da aventura.
























Vós que trazeis por dentro
de cada gesto
uma cansada humilhação
deixai falar na nossa voz a voz do vento
cantai em tom de grito e de protesto
matai dentro de vós el-rei Sebastião.

Quem vai tocar a rebate
os sinos de Portugal?
Poeta: é tempo de um punhal
por dentro da canção.
Que é preciso bater em quem nos bate
é preciso enterrar el-rei Sebastião.


(Manuel Alegre, O canto e as armas)

domingo, outubro 23, 2005

Ainda bem que já não tenho filhos em idade escolar!…

É sabido que as escolas públicas não podem seleccionar os seus alunos, estando obrigatoriamente abertas a todos os jovens que nelas pretendam matricular-se. Naturalmente que, por esse facto, os seus resultados dependem da área geográfica onde estão situadas e são, em larga medida, condicionados pela situação sócio-económica das famílias dos seus alunos.

Acresce que as escolas públicas têm normalmente uma dimensão muito superior às escolas privadas, sendo o seu rácio alunos/ professor (ou sala) geralmente mais elevado que o das suas congéneres, o que também não funciona propriamente a favor de uma mais fácil aprendizagem dos seus alunos.

Dito isto, elaborar um
ranking das escolas supostamente “objectivo” e, pior do que isso, pretender analisá-lo “friamente” sem levar em linha de conta aqueles condicionalismos, parece-nos incorrecto, para não dizer que é pouco sério e que outra coisa não visa senão, mais uma vez, fazer um “julgamento popular” à escola pública, condenando-a como culpada de todos os males do ensino, no nosso país.

Pelas razões acima enunciadas, compreende-se perfeitamente que os primeiros lugares do ranking sejam ocupados por escolas privadas. O contrário é que seria de admirar.
Mas, nesta onda descabelada de ataque a tudo o que é serviço público, será que alguém quer saber que “se regista, ao longo dos anos, uma evolução positiva da representatividade das instituições públicas”? Que “este ano, no «top 10», constam três escolas do Estado, mais uma que no ano passado”? Que “enquanto em 2004 havia 29 escolas públicas nas 50 primeiras posições, este ano aquele número sobe para 31, o que traduz uma representação claramente maioritária de 62% de instituições estatais”? Que as escolas públicas, apesar de serem assim tão “más”, conseguiram alcançar os melhores resultados nas disciplinas de Física e de Português-B? Será que alguém quer saber que, apesar das vantagens que desfrutam, há imensas escolas privadas nos últimos lugares do ranking?


E, qual "cereja no cimo do bolo", a primeira classificada da lista é uma minúscula escola com apenas 25 candidatos submetidos a exame, exclusiva para meninas, que se dá ao luxo de ter turmas com apenas 8 alunas, papás da classe média alta que não têm problemas em desembolsar 400 € de mensalidade e mamãs “domésticas” cuja única tarefa é procriar e “educar” os filhos, Religião e Moral (Católica, bem entendido) obrigatória (que os santinhos também ajudam). Não sei se as meninas têm aulas de Lavores e Actividades Domésticas mas usam farda. Só não estão inscritas na Mocidade Portuguesa Feminina porque acabou em 1974, suponho eu!…

É esta a Educação e a Escola que querem para as nossas crianças e os nossos jovens? Se é — e desculpem o meu egoísmo — ainda bem que já não tenho filhos em idade escolar!…

sábado, outubro 22, 2005

Cavaco trepa no coqueiro!… (*)

Bem me diziam
Bem me avisavam
Como era a lei
Na minha terra
Quem trepa
No coqueiro
É o rei

A gente ajuda
Havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira
Deitar abaixo
O que eu levantei




















Se tem má pinta
Dá-lhe um apito
E põe-no a andar
De espada à cinta
Já crê que é rei
Dàquém e Dàlém Mar

A bucha é dura
Mais dura é a razão
Que a sustem
Só nesta rusga
Não há lugar
Pr'ós filhos da mãe

(Venham mais cinco, Zeca Afonso)


"Dá-lhe um apito e põe-no a andar", porque, como diz Manuel Alegre, "em democracia não há coroações, há eleições"!


(*) Observem a fotografia com atenção porque é mesmo ele, o Pau de Boliqueime!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Prós e Contras, não! Prós e Prós…

No último programa Prós e Contras da televisão que é paga por nós, não há dúvida que tudo foi "bem preparado" para dar mais uma sova mestra no movimento sindical e imolar os funcionários públicos, quais bodes expiatórios, no altar do alegado saneamento das contas públicas.

A "preparação" e o "ritmo" do programa — que bem podia chamar-se Prós e Prós — foram tais que o "diversificado" painel de doutos economistas passou o tempo a cantar hossanas, a uma só voz, ao "governo" de José Sócrates e ao Orçamento de 2006. O mar estava de tal forma pejado de tubarões que outra coisa não restou ao desamparado José Ernesto Cartaxo, da CGTP-IN, senão saltar fora de água…


E pronto. Ficámos de uma vez por todas a saber que, em nome da "igualdade" e da "sustentabilidade" da segurança social, a sanha "justiceira" do governo será implacável: todos os funcionários públicos, sem excepções, terão de trabalhar até aos 65 anos. Mesmo que tenham de andar de bengala por causa do reumático, usar fralda para a incontinência ou tomar fósforo para a perda de memória.
A queda progressiva da produtividade devido ao envelhecimento não interessa nada! O que importa agora é poupar uns milhões, mais tarde ver-se-á.
Entretanto, os portugueses (ou melhor, os tugas, que os portugueses são uma espécie em vias de extinção…), designadamente os trabalhadores do sector privado, toldados por um congénito e mesquinho sentimento de inveja, aplaudem, não querendo nem sequer saber que há profissões que, por lidarem com pessoas, vidas, sentimentos, são particularmente exigentes, não só do ponto de vista físico, mas sobretudo, do ponto de vista intelectual e emocional. Claro que, se lhes sair na rifa um funcionário caquéctico como professor dos filhos, médico da família ou polícia de giro, já não irão achar tanta "piada"!

O que não nos disseram (mas nós sabemos) é que a "sustentabilidade" da segurança social há muito foi posta em causa por dezenas, centenas, milhares de empresários que, criminosamente, não entregaram as suas comparticipações e, mais criminosamente ainda, se abotoaram com os descontos dos trabalhadores!

O que não nos disseram (mas nós sabemos) é que dezenas, centenas, milhares de empresários não cumprem as suas obrigações fiscais enquanto aos trabalhadores por conta de outrem nem um cêntimo de IRS é perdoado!

O que não nos disseram (mas nós sabemos) é que dezenas, centenas, milhares de "boys" foram desavergonhadamente contemplados com mordomias, prebendas e sinecuras de toda a espécie por uma "governação" que não tem um pingo de pudor em exigir todos os sacrifícios sempre aos mesmos!

Mas é claro que, para o Governo e para os seus "comissários políticos", tudo isto são minudências sem qualquer importância!!!

Enfim, Mário Soares ficou tristemente célebre por ter metido o socialismo na gaveta!
Agora Sócrates criou o "socialismo oblíquo": sacrifícios para a plebe; regabofe e privilégios para uma minoria. Ou não fosse Portugal, como foi confirmado no dia Mundial da Erradicação da Pobreza, o país da UE com maior desigualdade social, onde os ricos são os mais ricos e os pobres são os mais pobres, e um quinto da população vive no limiar da pobreza!…