domingo, fevereiro 01, 2009

Não há pachorra?!… Pois não…

Da forma como se referiu ao texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano, aqui publicado, o Vítor P., do Câmara de Comuns, mais parece assumir uma postura de lorde, sugerindo "que começa a ser escandalos[a] a escrita deste tipo de textos" e incorrendo num acto de abominável censura que os princípios democráticos que ambos defendemos, creio, reprovam. Mas esta é apenas a questão formal do problema.
A questão material, a meu ver, bem mais importante, prende-se, seguramente, com o conteúdo do texto, de que VP dá a entender não gostar, quando afirma que "já não há pachorra". E aí reside a nossa total discordância.
VP deve achar que Israel tem todo o direito de se defender por todos os meios, por todas as formas, utilisando a máquina de guerra mais poderosa do mundo, contra
"as horrendas matanças de civis causadas pelos terroristas suicidas… Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida, mas [tal como] Israel, ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba." (José Saramago)
Sobretudo quando essas razões são imputáveis ao Estado de Israel.
Começando pela sua abusiva criação em 1948 (contra a qual se insurgiu, prevendo a tragédia que daí adviria, Mahatma Ghandi), com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos e a cumplicidade das grandes potências mundiais, na maior parte (78%) das terras habitadas milenarmente pelo povo palestino (cf. A Palestina, Comissão Justiça e Paz, Portugal, 2002), e prosseguindo com a instalação de colonatos judeus nos exíguos territórios palestinos que sobraram (Cisjordânia e Faixa de Gaza), operações de limpeza étnica, de que ficou tristemente célebre o massacre de Sabra e Shatilla, a edificação de um gigantesco muro e a implantação de cercas electrificadas e de arame farpado e valas, transformando os territórios palestinos em autênticos campos de concentração.
E agora, a solução final, que os sionistas parecem ter aprendido na sua passagem pelos campos de concentração nazis da 2.ª GM. Primeiro, Sharon, o carniceiro de Sabra e Shatilla, retirou os colonatos da faixa de Gaza. A seguir, a "Operação Chumbo Fundido" (o nome diz tudo das "boas" intenções dos israelitas), que semeou a morte e a destruição num pequeno território com a maior densidade populacional do mundo, onde um milhão e meio de pessoas e crianças encurraladas nem sequer podem fugir para qualquer parte (E não se diga que quem abriu as hostilidades foi o Hamas, com os seus morteiros artesanais, porque foi justamente Israel que, mais uma vez, começou. Lá sabia porquê…)

Maio

PS 1 — Aqui podemos escrever literalmente de tudo, incluindo Cuba, Venezuela e mesmo Rússia. O problema é que há apenas um escriba e não tem tempo para tanto. Em todo o caso, o Câmara de Comuns, com uma vasta equipa de colaboradores, não me parece ser um grande exemplo de diversidade de opinião…
PS 2 — Mesmo para acabar… não percebi o que significa isto: "E trabalhar que é bom?". Defeito meu, certamente.

Sem comentários:

Enviar um comentário