Garrett perguntava-se, no século XIX, quantos pobres são precisos para fazer um rico e, sobre a Espanha pré-republicana (que a rebelião de Franco viria a repor), Neruda escrevia em "España en el corazón", um dos poemas mais comoventes do século XX: "Espanha pobre/ por culpa dos ricos". O que, na crueza dos números, significava 8 milhões de pobres, metade do país nas mãos de meia dúzia de pessoas e províncias inteiras propriedade de um só homem, enquanto o salário médio era de 1 a 3 pesetas por dia (um quilo de pão custava 1 peseta). Angola é hoje um bom exemplo de como a riqueza de alguns se alimenta da pobreza de muitos. Os jornais publicavam ontem duas notícias de Angola: a de que todos os anos ali morrem com diarreia 20 mil crianças de menos de 5 anos, 600 mil não têm peso suficiente e 900 mil sofrem de subnutrição, e a de que, além de Isabel dos Santos, mais dois filhos do presidente angolano estão a investir milhões em Portugal. A vacina contra a gastroenterite custa umas poucas de dezenas de euros.
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