sexta-feira, abril 25, 2008

25 de Abril, sempre!…

Contra o esquecimento, é preciso recordar Abril! E, mais do que isso, é urgente resgatá-lo! Em nome da nossa sobrevivência colectiva.


Grândola Vila Morena: liturgia de Sara Tavares!
Ou, de como não se dá pela falta das palavras quando elas estão
gravadas na nossa memória!…

domingo, abril 20, 2008

Só podemos confiar em nós!

Quando toca a marchar, muitos não sabem que o inimigo marcha à sua frente.
Cartilha de Guerra Alemã, Bertolt Brecht

Travámos uma das lutas mais participadas e intensas de que há memória. Estivemos unidos e mobilizados como nunca. Fizemos a mais grandiosa manifestação de professores que alguma vez aconteceu. Conquistámos as atenções da comunicação social e conseguimos a simpatia da maior parte dos fazedores de opinião. Toda a oposição política, da direita à esquerda, e mesmo algumas personalidades do partido do poder, estiveram connosco. Pusemos o Primeiro-Ministro à beira de um ataque de nervos e a Ministra da Educação com a demissão à vista. Em suma, tivemos tudo para vencer o combate e, afinal, acabámos por morrer na praia.
Quem ganhou em toda a linha foi Sócrates. Segurou Maria de Lurdes Rodrigues e mantém, no essencial, a sua política educativa e o seu modelo de avaliação. Por isso, canta vitória.
Nós, pelo contrário, temos é razões para estar desiludidos, indignados, revoltados. Não apenas porque nenhum dos principais objectivos da nossa luta foi alcançado mas, sobretudo, por termos sido utilizados como moeda de troca e vergonhosamente traídos. De forma calculista, ignóbil, pérfida. Ao mais alto nível, como aqui é relatado.
Caso para perguntar: com dirigentes destes quem precisa de inimigos?
Infelizmente, só podemos confiar em nós. É o que iremos fazer!

sexta-feira, abril 18, 2008

Os ricos que paguem a crise!

Há por aí no planeta (sobretudo nos Estados Unidos e na Europa) uns 10 biliões de US dólares que não valem mais do que as notas do meu Monopólio de infância. Todos os que possuem tais "activos-fantasmas" querem ver-se livres deles, mas não sabem como! Procuram activos de carne e osso onde fundir os seus ficheiros electrónicos desprovidos de qualquer valor, mas este tipo de realidade escapa-se-lhes como enguias. O G7 anda de cabeça perdida e o FMI, tal como o Banco Mundial, estão falidos. Vendem ouro, despedem pessoal, fazem apelos patéticos sobre a trampa que eles próprios criaram, em suma caminham, a par da Reserva Federal americana, para a lata do lixo da história das instituições financeiras do imperialismo saído da segunda guerra mundial. Até que enfim! Entretanto, para sofrermos menos do que o previsível, há que estar atentos e denunciar todas as manobras em curso visando despejar o fardo do colapso nas costas de quem trabalha honestamente. Não devemos confundir a criação de riqueza com as dona-branquices piramidais, com a corrupção dos Estados, nem com a corja que inventou a especulação financeira como estratégia de exploração e expropriação do valor produzido pela maioria da humanidade. OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE!

A direita não perdeu o seu líder

Com o P"S" (Partido de Sócrates) a governar da forma que era suposto caber aos partidos da direita, compreende-se perfeitamente o desnorte e a incapacidade de afirmação do P"SD" perante o seu eleitorado.
Os grandes interesses económico-financeiros sentem-se bem defendidos pelo actual primeiro-ministro e, de resto, agradecem-lhe generosamente com lugares para os amigos nos conselhos de administração das suas empresas.
Neste contexto, a demissão de Luís Filipe Menezes é um facto há muito esperado e absolutamente normal que, enquanto militante da esquerda, não me preocupa.
O que, de facto, me preocupa é que a direita não tenha perdido o seu verdadeiro líder. Na realidade, ele continua a chefiar o governo. E, pelo caminho que as coisas levam, por lá continuará. Para o mal do país.

quinta-feira, abril 17, 2008

Ministério caloteiro

O Governo deveria, em todas as circunstâncias, comportar-se como pessoa de bem e constituir-se como um exemplo de integridade cívica e ética para os cidadãos.
Porém, quando há ministros que se julgam acima da Lei e desafiam as decisões judiciais, é o bom nome do Estado que é posto em causa e o erário público, suportado pelos nossos impostos, que fica a perder.

Trata-se, ao fim e ao cabo, de um problema de impunidade e de falta de pudor. Se lhes saísse da carteira, certamente comportar-se-iam de outra forma.

O discurso do "inimigo principal"

Este acordo deixa-me muito satisfeito e quero felicitar publicamente a senhora ministra da Educação porque valeu a pena perseverar.

Fico muito satisfeito por todos os parceiros sociais terem reconhecido a importância da avaliação dos professores.

A oposição, há um mês atrás, o que queria era que se suspendesse a avaliação e que a ministra saísse do Governo. [Não aconteceu] nem uma coisa nem outra: a ministra está no Governo a conduzir de forma inteligente, capaz, determinada a política de educação e, por outro lado, a avaliação dos professores avança.

O mais importante é que o acordo refere que no próximo ano serão avaliados todos os professores, de acordo com as normas que constam do decreto regulamentar.

Disse muitas vezes que não seria mais um primeiro-ministro que passaria por este lugar sem fazer a avaliação dos professores, que nos últimos 30 anos prosseguiam na carreira sem nenhum tipo de avaliação.


Palavras de José Sócrates, comentando o acordo entre o Governo e os sindicatos, sobre a avaliação dos professores.
Palavras que nos suscitam, forçosamente, uma pergunta muito simples:

Foi para isto que se travou uma das lutas mais vigorosas e participadas de que há memória, no sector do ensino?

Se é professor, adivinho a sua resposta. E a sua desilusão…


Nota

O título desta posta começou por ser "O discurso da vitória" . Porém, depois do saudável debate com o companheiro FJSantos, acho que o actual fica bem melhor!

quarta-feira, abril 16, 2008

Luta dos professores: balanço e perspectivas

Definitivamente, se foram 90 por cento de 50 mil os professores que ontem avalizaram a assinatura do acordo com o ministério, não se pode falar de uma maioria esmagadora, quer no universo de 145 mil docentes existentes em todo o país, quer tendo como referência os 100 mil que participaram na inesquecível Marcha da Indignação. Será uma maioria — porque em democracia só os votos expressos contam — mas apenas relativa, que não pode levar os dirigentes sindicais a ignorar o profundo descontentamento e a enorme desilusão de largos milhares de professores pelo magro resultado alcançado.
Nunca será demais repetir que o acordo (ou entendimento, se preferirem) apenas soluciona, no imediato e pontualmente, o problema dos docentes contratados ou em vias de progressão. Quanto ao resto, que é o principal, nada resolve. O Estatuto da Carreira Docente, fonte de todas as injustiças, continua intocável, e o modelo de avaliação do ministério, burocrático, subjectivo, iníquo e, por que não dizê-lo, antipedagógico, regressará já em 2008/2009. Isto para não acrescentar ainda o novo modelo de gestão e autonomia escolar, mais uma ofensa à dignidade dos professores e à sua importância na vida da escola.


Tenhamos, por isso, consciência que, apesar da grandiosa luta de massas que os docentes têm travado, mesmo que, por enquanto, não tenham sido derrotados, se alguém ganhou esta primeira batalha foi o governo: primeiro, porque resistiu à demissão, a certa altura inevitável, da incompetente Ministra da Educação; segundo, porque Maria de Lurdes Rodrigues pode repetir, até à exaustão, que a avaliação dos professores não foi suspensa. E, quando as eleições começam a emergir no horizonte, trata-se de uma preciosa vitória política de José Sócrates.
Não haja, portanto, quaisquer ilusões quanto ao entendimento — o essencial, ou seja, quase tudo, está por conseguir! Que ele não sirva para anestesiar e manietar os docentes! A luta recomeça em Setembro, mais intensa que nunca…
Até lá, é tempo de contar as espingardas e afinar a táctica. E continuar a protestar, às segundas à noite, para não se apagar a chama, como canta José Afonso.

terça-feira, abril 15, 2008

O prato de lentilhas

Ao que parece, boa parte (senão a maioria) dos professores e das escolas não concorda com a assinatura do entendimento entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical.
E na verdade, olhando friamente o que foi conseguido — o ME apenas cedeu na avaliação simplificada dos professores contratados enquanto tudo o resto permanece — pode dizer-se que não passa de uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
De resto, a antiga secretária de Estado da Educação socialista, Ana Benavente, não hesita mesmo em acusar os sindicatos de cederem à chantagem do Governo e afirmar que a avaliação a que chegaram é a que existe (ou seja, a que o ministério quer impor), enquanto o Movimento em Defesa da Escola Pública considera que o acordo entre os sindicatos e o ministério não soluciona nenhum problema e apenas serve para legitimar toda uma política educativa que está na origem do profundo descontentamento dos professores. Até a Fenprof admite não assinar o entendimento com o governo, se não for essa a vontade da maioria.
Certo é que a classe docente, apesar da sua aparente divisão, não dá mostras de querer abrandar a luta. E tem todas as razões para isso. Os 100 000 merecem muito mais do que um prato de lentilhas!

Actualização

Pronto. Afinal os professores aprovaram por maioria o entendimento com o ministério. Não terá sido uma maioria tão esmagadora e, muito menos, um acordo tão significativo mas, enfim, é apenas uma batalha que não põe fim à guerra. Que promete ser longa e difícil. A luta recomeça em Setembro.

Respeitar os professores em nome da Educação

Se o actual Governo tivesse verdadeiramente por objectivo a melhoria do ensino no nosso país, a última coisa que teria feito seria ter transformado os professores em bodes expiatórios da situação a que a Educação chegou em Portugal, a qual se deve, sobretudo, às políticas erráticas do ministério da tutela. Porém, em vez de seguir os bons exemplos dos países europeus mais desenvolvidos como a Islândia, a Finlândia ou a Noruega, onde os docentes não apenas são socialmente respeitados e dignificados, como não são submetidos a qualquer avaliação vexatória (como aqui, aqui e aqui é confirmado), José Sócrates preferiu eleger os professores como inimigo público de estimação e alvo preferencial da sua política economicista de corte nas despesas públicas. Para esse fim, impôs-lhes um estatuto gravoso e humilhante que, entre outras malfeitorias, conduziu à divisão da profissão em duas categorias, estabelece uma prova de ingresso na função e abre a porta a um novo modelo de avaliação (com este objectivo, o primeiro-ministro de Portugal e a sua ministra da Educação não hesitaram, sequer, em afirmar que os professores não eram avaliados o que, como aqui se comprova, não passa de uma despudorada mentira, da qual, se fossem pessoas sérias e decentes, deviam pedir desculpas públicas).
É contra este vergonhoso opróbrio que os professores têm vindo a lutar, como nunca antes acontecera, a ponto de terem feito, em 8 de Março, a maior manifestação de que há memória desde o 25 de Abril.
Por isso o entendimento conseguido entre a Plataforma Sindical e o Ministério, embora não deva ser negligenciado, sabe-lhes a pouco.
Por isso o Dia D' hoje é importante e decisivo para afirmarem que, com ou sem assinatura do entendimento, continuam unidos e dispostos a lutar, não apenas contra a irracionalidade do modelo de avaliação que o Ministério da Educação pretende levar por diante, mas sobretudo por uma profunda revisão do estatuto da carreira docente que o expurgue das injustiças que encerra.
Respeitar os professores é preciso. E urgente. Em nome da Educação. E do desenvolvimento a que o país tem direito.

segunda-feira, abril 14, 2008

Portugal tomado de assalto

Houve um elemento que se destacou na "Quadratura do Círculo" quando José Pacheco Pereira "enunciou" o "problema" da ida de Jorge Coelho para a Mota-Engil. Foi o silêncio de Jorge Coelho. Ouviu coisas terríveis a seu respeito e ouviu-as impávido. Foram enunciadas sugestões de compadrio, sinecura, favoritismo e até incompetência para o lugar que vai assumir. Jorge Coelho manteve-se esfíngico não manifestando ter sentido qualquer ofensa. Se a sentiu ou não, não sei. Sei que não a manifestou. Conseguiu manter-se imperturbado enquanto era apregoado um terrível libelo de incoerências da vida pública em Portugal com ele no epicentro de impropriedades de comportamento. Nada de ilegal, mas tudo impróprio.
O antigo ministro do Equipamento Social de António Guterres não clamou nem inocência, nem ultraje. Olhou de frente o seu acusador e, com o silêncio, deu a única resposta que saiu do seu empedernido semblante e que eu traduzo como querendo dizer "É assim!". E é mesmo assim em Portugal. Perde-se o pudor, fica-se com o poder.

excerto de Perdido o pudor fica o poder, de Mário Crespo, JN

Petróleo, biocombustíveis e fome

Quando em 1956, o até então prestigiado investigador Marion King Hubbert previu que o pico global da exploração petrolífera iria acontecer aproximadamente cinquenta anos depois, ninguém o quis levar a sério. A comunidade científica ridicularizou-o e votou-o ao ostracismo e os políticos, inebriados numa orgia de crescimento económico desregrado, esqueceram por completo que estavam a lidar com um recurso natural não renovável o qual, mais tarde ou mais cedo, viria inevitavelmente a esgotar-se.
Infelizmente Hubbert não se enganou e, embora não haja uma unanimidade total em relação ao preciso momento da sua ocorrência, todos reconhecem que o pico do petróleo está a acontecer. As suas consequências começam a ser demasiado evidentes e dramáticas para as ignorarmos.
A era do petróleo barato acabou. A partir de agora as reservas caminham para uma inexorável depleção e o preço do crude não mais deixará de subir.

Em consequência disso, instalou-se a paranóia da corrida aos biocombustíveis, cuja produção e utilização está longe de ser isenta de riscos ambientais e sociais. Primeiro, porque parecem ser ainda mais poluentes que o petróleo; segundo, porque poderão levar a uma redução da área de cultivo dos bens alimentares, com a consequente diminuição da sua produção e o inevitável aumento do seu preço.
Se não se arrepiar urgentemente caminho, a humanidade pode estar à beira de uma tragédia de dimensões incalculáveis. Isso explica que o FMI, um dos sustentáculos da ordem mundial capitalista, venha agora alertar para os perigos duma situação a que o capitalismo ultra-liberal e sem escrúpulos não é, de forma alguma, alheio. Quem diria?!…

domingo, abril 13, 2008

Que democracia?…

Em Itália, o neo-fascismo prepara-se para retomar o poder. Pela via eleitoral. Na pessoa do vigarista e corrupto Sílvio Berlusconi que, após os dois anteriores mandatos, os italianos parecem ainda não conhecer devidamente.
A democracia é, de facto, muito frágil. De tal forma que, quando o eleitorado não passa de um rebanho dócil e sem ponta de cidadania, pode até dar muito jeito para legitimar as situações mais absurdas. Ou mesmo trágicas. Como aconteceu com a eleição de Adolfo Hitler.

Corrupção: o Terceiro Mundo é aqui!

Alguém afirmou que, não fora o problema da corrupção e Portugal poderia ser um país tão desenvolvido como a Finlândia.
Embora aceite a afirmação como verdadeira, entendo que também podemos ver esta relação causa-efeito de modo inverso. Ou seja, a meu ver, é por sermos um país com um apreciável défice de desenvolvimento — a que não são alheias as nossas carências em matéria de alfabetização, escolaridade e educação, e as fragilidades da nossa cidadania, tão indulgente com as arbitrariedades e os desmandos do poder político e a sua promiscuidade com o poder económico — que a corrupção encontra em Portugal terreno propício para grassar, alimentando fortunas fáceis, ao mesmo tempo que impede o país de se desenvolver.

Não admira, por isso, que Portugal tenha registado, em 2007, um dos maiores níveis de corrupção entre os países da OCDE, tendo ficado na 28.ª posição da classificação da Transparency International, atrás de países como Singapura, Hong Kong, Chile, Barbados, Santa Lúcia, Uruguai e Eslovénia e, pior do que isso, evidenciando uma tendência para o agravamento da situação durante o mandato do actual governo. Talvez isto ajude a perceber as escandalosas nomeações de ex-"governantes" e destacados militantes do P"S" para os conselhos de administração das grandes empresas… As negociatas com o Estado não precisam de administradores com currículo profissional desde que eles tenham peso político, não é verdade?

Ó Portugal Oculto, de que é que tu estás à espera?

O Portugal Oculto é, também, aquele cujos contornos permitem a promiscuidade entre a política e os grandes empresários.
[…]
O que vai restando das nossas esperanças de uma sociedade mais justa está a ser seriamente danificado. Não é de mais repeti-lo. E as frases bem boleadas, as declarações de princípio cheias de bons sentimentos não chegam para ocultar o que exalta, indigna e fere o […] outro Portugal.
[…]
[“] Creio que o estado a que as coisas chegaram é assustador. A fragmentação social indica-nos que a experiência do “mercado” não contém, em si, a panaceia para resolver a pobreza, nem é o único processo de desenvolvimento. Nunca o mundo possuiu tamanho grau de conhecimento. Nunca o conhecimento consentiu tamanho grau de miséria, desolação e sofrimento. O “mercado”, ao contrário do que proclamam os seus turiferários, não estruturou uma economia pública, nem estimulou um crescimento mais aberto. No caso português, então, a soma é pavorosa, e chega, até, à degradação.
O Portugal Oculto existe como uma chaga dos desamados e cresce com o ressentimento dos excluídos contra aqueles que só têm criado obstruções e alimentado um clima de violência – que deixou de ser latente para constituir uma ameaça e uma desafronta.

excerto de O Portugal da desafronta, de Baptista Bastos

sábado, abril 12, 2008

A escolha é nossa

Especialistas insuspeitos asseguram que, até ao fim de 2008, vamos assistir a uma derrocada sem precedentes dos fundos de pensões a nível mundial.
Se a este dramático descalabro financeiro acrescentarmos a queda livre do dólar americano em relação ao Euro, ao Yen e ao Yuan, as subidas imparáveis do preço do ouro e do petróleo, as quedas acentuadas das bolsas mundiais e o fracasso da última tentativa da Reserva Federal para travar a crise financeira dos bancos americanos, facilmente perceberemos que os fundamentos da ordem económico-financeira das últimas décadas estão a entrar vertiginosamente em colapso e começam a estar reunidos todos os sinais de uma profunda crise do capitalismo mundial.

As experiências comunistas do século passado, com os graves erros que cometeram, já pertencem à História mas, mais cedo do que muitos supunham, a realidade vem provar, de forma incontestável, que o futuro da humanidade não está na selva capitalista. Afinal Marx tinha razão quando afirmava que o capitalismo contem em si os germes da sua própria destruição.
Mais do que nunca, as alternativas continuam a ser o socialismo ou a barbárie. A escolha, como sempre, é nossa!

sexta-feira, abril 11, 2008

Ressuscitar Abril!

Apesar do autêntico euromilhões proveniente de duas décadas de fundos comunitários, trinta anos de alternância democrática do P"SD" e do P"S" na governação não fizeram melhor do que manter Portugal no pelotão dos países mais pobres e menos desenvolvidos da União Europeia. Os dois milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza e o nosso afundamento no 17.º lugar da UE27, infelizmente, aí estão para atestá-lo.
Mas, se esta situação é já de si deveras grave, é absolutamente inaceitável que, enquanto a maioria da população é flagelada pela crise, uma minoria dela se aproveite para locupletar-se imoralmente com o suor alheio, fazendo de Portugal um dos países com pior repartição do rendimento da UE27, tendo apenas abaixo de si a Letónia!

A crise está aí, sem dúvida, mas não atinge a maior parte dos políticos, mais expeditos e preocupados em tratar das suas vidas e governar para quem os recompensa.
A crise está aí, sem dúvida, mas não afecta os oligarcas da alta finança e os empresários dos grandes grupos económicos.
A crise está aí, sim, para os trabalhadores, os pequenos e médios empresários, a classe média (ou o que dela resta), para quem os sonhos e as promessas da Revolução dos Cravos se esvaneceram quase completamente.
Com o consentimento, porventura ingénuo, de muitos de nós, o bloco central matou Abril e arrumou as suas conquistas nas prateleiras da História. Por isso, só nos restam duas alternativas: carpir a memória do ente querido ou ressuscitá-lo. A escolha parece-me óbvia e há situações em que devemos ser crentes!…

A lista "dourada"

Em Portugal, para muitos, a política em geral e a governação em particular, mais do que um serviço, uma missão ou qualquer coisa de nobre é, sobretudo, um meio fácil de ganhar a vida (para o qual, diga-se de passagem, nem sequer é exigida grande competência ou mesmo honestidade, como os factos têm vindo a comprovar ao longo dos anos).
Para outros tantos, porém, trata-se apenas de um placa giratória que, mais tarde ou mais cedo, lhes permitirá voar muito mais alto e com muito mais proveito.

A lista é imensa.
Sem procurarmos ser exaustivos, aqui vão os casos principais:

  • Fernando Nogueira, ex-Ministro da Presidência, Justiça e Defesa, actual Presidente do BCP Angola
  • José de Oliveira e Costa, ex-Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, actual Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)
  • Rui Machete, ex-Ministro dos Assuntos Sociais, actual Presidente do Conselho Superior do BPN e Presidente do Conselho Executivo da FLAD
  • Armando Vara, ex-Ministro adjunto do Primeiro Ministro, actual Vice-Presidente do BCP
  • Paulo Teixeira Pinto, ex-Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, ex-Presidente do BCP (Depois de 3 anos de "trabalho", saiu com 10 milhões de indemnização e mais 35.000 € por mês até morrer...)
  • António Vitorino, ex-Ministro da Presidência e da Defesa, actual Vice-Presidente da PT Internacional e Presidente da Assembleia Geral do Santander Totta
  • Celeste Cardona, ex-Ministra da Justiça, actual vogal do CA da CGD
  • José Silveira Godinho, ex-Secretário de Estado das Finanças, actual Administrador do BES
  • João de Deus Pinheiro, ex-Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros, actual vogal do CA do Banco Privado Português.
  • Elias da Costa, ex-Secretário de Estado da Construção e Habitação, actual vogal do CA do BES
  • Ferreira do Amaral, ex-Ministro das Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira à Lusoponte) e actual Presidente da… [claro!…] Lusoponte
  • António Pires de Lima, ex-deputado do CDS e actual CEO da Unicer
  • Pina Moura, ex-Ministro das Finanças e actual presidente da Média Capital e da Iberdrola
  • Manuela Ferreira Leite, ex-Ministra das Finanças e actual administradora do Santander
  • João Cravinho, ex-Ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território e deputado do PS, actual administrador do BERD, em Londres
  • Fernando Gomes, ex-Ministro da Administração Interna e ex-Presidente da Câmara do Porto, actual administrador da Galp Energia
  • Jorge Coelho (a estrela mais recente da constelação), ex-Ministro da Administração Interna e do Equipamento Social, Vice-Presidente do Conselho de Administração e CEO da Mota Engil
Em actualização (infelizmente!).

quinta-feira, abril 10, 2008

O Ministério da Confusão

Se a ministra da Educação quisesse verdadeiramente avaliar o desempenho dos professores, a primeira e urgente medida que deveria tomar seria suspender o modelo de avaliação que a sua delirante equipa ministerial engendrou, trapalhada sem precedentes que apenas serviu para acrescentar mais confusão aquela que já havia nas escolas.
Mas, como já aqui disse, isso nunca irá acontecer porque, com as eleições a surgirem no horizonte, tal facto constituiria uma derrota de consequências imprevisíveis para os planos hegemónicos de José Sócrates.
Assim, para Maria de Lurdes Rodrigues, the show must go on, que é como quem diz, siga a avaliação! E que cada escola faça como entender, avalie à sua maneira e segundo os seus próprios métodos e critérios! Mesmo que os professores, numa atitude absolutamente legítima e responsável, não estejam pelos ajustes e exijam seriedade no processo e uniformidade no tratamento.
De confusão em confusão, a ministra vai alijando responsabilidades — as escolas lá estão para arcar com elas! — e ganhando tempo. Quem perde são os professores. Mas também os alunos e as suas famílias e, ao fim e ao cabo, o país.
A propósito, o que é feito do Presidente da República?

quarta-feira, abril 09, 2008

A feira de vaidades

Portugal é o segundo país onde o Governo atribui mais importância às Tecnologias de Informação.

À partida, até que seria caso para estarmos contentes. Porém, num país em que a corrupção e o compadrio são um modo de vida, com um sistema educativo onde imperam o laxismo e a indulgência, uma economia anémica mais virada para o lucro fácil do que para a criação sustentada de emprego e riqueza, um empresariado desde sempre habituado a viver à sombra dos subsídios e favores do Estado, uma governança inepta, minada pelo carreirismo e o tachismo, enfim, numa sociedade de que a cidadania e a solidariedade andam cada vez mais arredias e, pelo contrário, em que a população se deixa embriagar mais e mais numa orgia de consumismo exacerbado, a pergunta que todos devemos fazer é: Afinal, para que é que isso serve?
Decididamente, o choque tecnológico é uma feira de vaidades!

Avaliação do Governo, precisa-se!

Desde cedo se percebeu que Sócrates não iria querer perder a guerra com os professores, que a sua incompetente e inábil ministra da Educação comprou. Mesmo que estes tenham sido capazes desafiá-lo com a participação em peso na maior manifestação de que há memória desde o 25 de Abril. Depois de ter batido em retirada face à contestação popular ao fecho das urgências e servido a cabeça de Correia de Campos, era certo que não aceitaria ser derrotado outra vez, a pouco mais de um ano das eleições, ainda por cima, por uma corporação de professorzecos.
Por isso, Maria de Lurdes Rodrigues não será demitida, já o sabemos. E, ao fim e ao cabo, é bom que não o seja. É bom que se mantenha, qual lancinante ferida em carne viva, na memória de todos os professores, para que, na hora de votar, não esqueçam o vilipêndio e a humilhação de que foram vítimas.

Também por isso, a famigerada avaliação dos professores não será suspensa. Mesmo que, na prática, seja isso que vai (está a) acontecer. Na realidade, de cedência em cedência, a ministra quer agora que se faça, ao menos, uma avaliação simplex dos professores contratados e dos que estão em vias de progressão, os quais serão avaliados a sério, como todos os outros, no próximo ano.
Deste modo, o Ministério e o Governo salvam a face perante a opinião pública. Brilhante!
O que se pergunta é se é aceitável que se tenham arrogado a perturbar o funcionamento das escolas e o desempenho dos professores, durante um ano, através de um braço-de-ferro tanto mais estúpido e incompreensível quanto serviu verdadeiramente para coisa nenhuma?!… Obviamente que não. E, num país de cidadãos atentos e exigentes, isso teria consequências políticas. Em Portugal, infelizmente, tenho as minhas dúvidas…

terça-feira, abril 08, 2008

Conversa da treta

1. Vítor Constâncio, do alto da sua bem paga sapiência, afirma que o crescimento da economia portuguesa, em 2008 e 2009, afinal vai ser mais baixo que o anteriormente previsto pelo Banco de Portugal. Ainda assim, garante que será convergente com o da Zona Euro que, segundo disse, será inferior a dois por cento. Depois dos sacrifícios a que a grande maioria dos portugueses tem vindo a ser submetida é caso para dizer que se trata de uma grande proeza!

2. Por seu lado, o Ministro das Finanças propagandeia que a economia portuguesa atingiu o ponto mais forte dos últimos 30 anos e por isso é capaz de enfrentar as incertezas nos mercados internacionais.
O principal problema parece ser o facto de os portugueses não estarem tão optimistas quanto o senhor ministro. Com efeito, para Teixeira dos Santos, a grande ameaça ao crescimento é a queda dos níveis de confiança dos portugueses. Somos uns ingratos, é o que é!

O Governo da ilegalidade

A redução cega e obsessiva das despesas públicas em sectores de relevante importância social tem sido uma das pedras de toque da actual (des)governação, tudo valendo para atingir esse objectivo, mesmo e principalmente através da criação de dificuldades de toda a ordem aos profissionais das diversas áreas que, em muitos casos, se vêem coagidos a uma aposentação antecipada não desejada e financeiramente penalizadora, como forma de fugirem a uma situação cada vez mais insustentável.
É o que tem vindo a acontecer com a classe docente, designadamente com a sua divisão, de forma pouco menos que arbitrária e discricionária, através do rocambolesco Concurso para Professor Titular, que outro objectivo não teve senão o de limitar ou mesmo impedir o acesso ao topo da carreira a milhares de excelentes profissionais. Concurso enviezado, capcioso, hipócrita. E profundamente injusto. Cuja injustiça o Tribunal Constitucional se encarregou agora de pôr a nú!

segunda-feira, abril 07, 2008

Homenagem e agradecimento

Estive uns dias hospitalizado, situação que me impediu de postar com a regularidade com que tento e gosto de fazer.
Mas, ao invés, esse facto permitiu-me acompanhar, de perto e por dentro, a forma a um tempo missionária e heróica como homens e mulheres, sejam eles médicos, enfermeiros ou auxiliares, desempenham a sua humanitária acção, mantendo viva, apesar da sanha economicista do Governo, uma das conquistas mais emblemáticas de Abril, o Serviço Nacional de Saúde.
A minha sentida homenagem e o meu sincero agradecimento a todos eles!

terça-feira, abril 01, 2008

Felizmente há… Brasil!

O Governo venezuelano decidiu incluir a língua portuguesa como disciplina de opção no currículo oficial do próximo ano lectivo mas a falta de professores portugueses foi considerada um obstáculo para a iniciativa.
No entanto, o Brasil, que não brinca em serviço, resolve o problema.
Mais danos colaterais em consequência da obsessiva redução do défice orçamental!…

Sozinha

Acho espantoso que sobre a ocorrência na Carolina Michaelis várias opiniões insistam que a professora não devia ter entrado em "braço-de-ferro" com a aluna por causa do telemóvel. Não houve "braço-de-ferro" nenhum. A Professora recusou-se a capitular. Não deixou que lhe tirassem à força algo que, no exercício das competências em que está investida, tinha achado por bem confiscar. E não cedeu face a pressões selváticas. E não capitulou face a agressões verbais. E manteve-se digna no posto que lhe foi confiado pela sociedade, com elevação e consistência, cumprindo as expectativas depostas na sua missão. A Dra. Adozinda Cruz é um modelo de coragem que o país tem que aplaudir. Que a nossa confusa sociedade precisa de aplaudir porque é uma sociedade carente de pessoas como ela. A Professora de francês fez aquilo que tinha que ser feito. Sozinha. Porque trabalha numa escola onde o Conselho Directivo tolera que a placa com nome do estabelecimento, baptizado em honra de uma excepcional pedagoga que foi a primeira mulher portuguesa a conseguir leccionar numa universidade, esteja conspurcada, num muro com inenarráveis graffitis que mandam cá para fora a mensagem que lá dentro tolera-se a bandalheira. Numa escola onde durante minutos se ouviu a algazarra infernal dessa bandalheira, onde ela estava a ser agredida e nenhum colega ou funcionário ou aluno se atreveu a abrir a porta e ver se podia ajudar. Foi dessa cobardia geral e conformismo abúlico que a Dra. Adozinda Cruz se demarcou quando não deixou que a desautorizassem. É por isso funesto não lhe reconhecer a coragem e diminuí-la num bizarro processo de culpabilização da vítima. Estar a tentar encontrar fragilidades comportamentais num ambiente de tal hostilidade é injusto. E o facto é que não fora a louvável e pronta actuação do Procurador-geral da República a Dra Adozinda Cruz ficaria sozinha.