Não voto P”S”
Não voto na Direita
1. Infelizmente, Portugal é um dos países europeus onde a falta de transparência e a corrupção são mais elevadas e manifestam tendência para aumentar (de 2004 para 2008 passámos do 27.º para o 32.º lugar na lista da Transparency International), o que nos atira para a cauda da Europa em matéria de desenvolvimento e justiça social.
2. O caso é de tal modo grave que o vice-presidente do FMI afirmou em 2005 que, não fora a corrupção e Portugal poderia ser tão desenvolvido como a Finlândia!
3. Talvez se trate também de uma questão cultural. Não é por acaso que somos considerados um povo de brandos costumes: aguentámos pacientemente uma ditadura de 48 anos e agora há 30 que nos comportamos como
zombies perante uma
alternância democrática que nos leva a lado nenhum (a não ser uma desgraça cada vez maior).
4.
Alternância democrática eufemisticamente chamada de
centrão ou
bloco central mas que, verdadeiramente, não é mais do que a Direita, quer através de coligações, algumas
contra-natura, como aconteceu em 1978, entre o PS e o CDS, e em 1983, entre o PSD e o PS, ou de governos partidários do PSD ou do PS (que só é de Esquerda quando está na oposição!).
5. De uma forma ou de outra, o regime democrático está transformado numa vergonhosa cleptocracia em que a Direita (CDS, PSD e P”S” governamental) se tem aproveitado do poder político para distribuir prebendas e mordomias de Estado às suas clientelas e assenhorear-se de cargos milionários nos conselhos de administração das empresas públicas.
6. Como pôr um ponto final neste regabofe? Há quem desabafe dizendo que tal só seria possível com um novo 25 de Abril, desta vez a sério, sem cravos nas espingardas. Mas para isso seria precisa uma conjugação de factores que jamais se repetirá. Os militares e as pessoas estão hoje mais preocupados com as suas vidas. O 25 de Abril “foi um sonho lindo que acabou”, cantou um dia, desencantado, J. M. Branco.
7. Resta-nos, portanto, lutar com as forças que nos sobram e os direitos que a Constituição (ainda) nos garante: manifestarmo-nos, protestarmos, fazermos greve. Porém, com um governo autista e autoritário como é o actual, a vitória não é certa, como se tem visto com a luta gigantesca dos professores!
8. Temos, por isso, que democratizar o Poder, enfraquecendo a Direita e reforçando a Esquerda e para tal, é urgente retirar a maioria absoluta, no mínimo, ao Partido de Sócrates.
9. Nesse sentido, votar CDS, PSD ou P”S” está fora de questão. Seria mais do mesmo, ou seja, a continuação da desgraça.
10. Quanto à abstenção, mesmo que alguns disso não tenham consciência, representa a negação da democracia e a crença num regime autocrático e em salvadores-da-pátria (de que já bastaram 48 anos!).
11. Já o voto branco, embora seja uma escolha democrática, se fosse um voto em larga escala, como aconteceu na ficção de Saramago, Ensaio sobre a Lucidez, talvez provocasse um terramoto político de consequências ainda que imprevisíveis certamente mais interessantes do que o pântano em que estamos atolados. Na realidade, porém, trata-se de um voto residual e, mesmo que desta vez tivesse uma expressão ligeiramente maior, não teria qualquer influência nos resultados da eleição, como esclarece a CNE: “
O voto em branco não é válido para efeitos de determinação do número de candidatos eleitos, não tendo influência no apuramento do n.º de votos e da sua conversão em mandatos, nos termos do artigo 16º da Lei nº 14/79. Deste modo, ainda que o número de votos em branco seja maioritário, a eleição é válida, visto que existem votos validamente expressos, só esses contando para efeitos do apuramento.” Na prática, portanto, de nada adianta votar branco.
12. A hipótese de votar em pequenos partidos apenas com o objectivo de diminuir o peso do
centrão (o m.q. Direita), a única coisa que faz é enfraquecer a oposição, pela dispersão de votos que provoca.
13. De tudo isto, resulta que, no actual contexto político e social, as duas únicas opções de voto que se afiguram aconselháveis são o Bloco de Esquerda e a CDU.
14. É entre elas que, no domingo, farei a minha escolha.