De um ponto de vista puramente contabilístico e estático, a receita de Sócrates para reduzir o défice orçamental, que tem o apoio dos eurocratas de Bruxelas e das sanguessugas dos
mercados financeiros, parece fazer sentido: o aumento do IVA renderia mais receita, ao passo que o corte nos salários da função pública e a redução dos abonos e dos subsídios contribuiriam para diminuir a despesa. Sucede que a economia é dinâmica e não é mera contabilidade. Na verdade, estas medidas iriam inevitavelmente diminuir o consumo das famílias e, em consequência disso, provocar a queda do investimento, do emprego e da produção, conduzindo a economia a nova recessão e levando uma vez mais a uma queda das receitas fiscais. O sacrifício, além de injusto, seria inútil.
Sócrates só pode, portanto, querer tomar-nos por parvos quando insiste que não há outro caminho para combater o défice. Obviamente que existe e não é o seu. Só os cinco principais bancos portugueses averbaram cinco milhões de euros de lucro, por dia, mas os lucros do capital são um bezerro de ouro sagrado que o governo não ousa tocar. Como não toca nas mais-valias bolsistas, não impõe uma taxa especial aos lucros dos grandes grupos económicos, e nada faz para evitar o desperdício e as mordomias do Estado. Este sim, seria o caminho para uma verdadeira política orçamental. Porque, desta forma, o combate ao défice não hipotecaria o crescimento económico. E, já agora, a justiça social.
Não há dúvida, Sócrates mente, há outro caminho.