Há um ano e pouco, a crise do euro era o equivalente a uma mera infecção no calcanhar (de Aquiles, pelos vistos). Com os antibióticos adequados, a cura era barata e relativamente fácil. Em vez de antibióticos, dissemos ao paciente para fazer exercício. A infecção ficou feia e alastrou. Daqui a pouco a perna vai gangrenar e teremos de amputar (ou seja: dizer a alguns países para saírem do euro). Mas nessa altura a nossa infecção de há um ano pode já ser uma septicemia. Se a crise do euro atingir alguns órgãos vitais (a Espanha, a Itália, a França) o que seria apenas irresponsável virou fatal. Aquilo que eu quero dizer com esta metáfora arrevesada é que, com a evolução da doença, os remédios que poderiam resultar numa fase inicial, ou mesmo intermédia, podem ser ineficazes num futuro próximo.
Mesmo para a mutualização da dívida europeia — que permitiria neutralizar a crise das dívidas soberanas — é essencial que a futura emissão de eurobonds (que tenho defendido aqui desde o início da crise) seja absolutamente credível e que tenha notação máxima. Se daqui a uns tempos a notação francesa for rebaixada, até isso pode estar em risco.
Mesmo para a mutualização da dívida europeia — que permitiria neutralizar a crise das dívidas soberanas — é essencial que a futura emissão de eurobonds (que tenho defendido aqui desde o início da crise) seja absolutamente credível e que tenha notação máxima. Se daqui a uns tempos a notação francesa for rebaixada, até isso pode estar em risco.
O mundo de hoje já não é o de há umas semanas atrás. No mundo de hoje nem os EUA têm um rating máximo unânime, provando que a incapacidade do poder político é uma variável crucial na equação económica. E neste mundo, a União Europeia está perdida com as lideranças que tem. (Título nosso para excerto do artigo de Rui Tavares)
Banda sonora — Década de Salomé, José Afonso
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