domingo, janeiro 29, 2012

O fim

Que o governo da Direita está a destruir inexoravelmente o que resta deste país, com tanta austeridade que nem a troika exigiu, é uma evidência gritante. E de nada adianta Passos Coelho propagandear que "não pediremos mais tempo nem mais dinheiro" porque, por este caminho suicidário de afundamento da economia, é precisamente isso que daqui a alguns meses irá acontecer a troco de um novo pacote de austeridade (leia-se assalto) ainda mais gravoso que o actual.


Com esta política, com esta governação (as quais, de uma forma ou de outra, a maioria dos portugueses aceita ou aceitou), será o fim de Portugal. Mas para que disso não houvesse dúvidas, o governo vende-pátrias do PSD/ CDS decidiu adiantar caminho e extinguir dois dos feriados mais simbólicos da soberania nacional: o 1 de Dezembro, que celebra a restauração da independência em 1640, e o 5 de Outubro, data da implantação da República, em 1910, mas também da fundação de Portugal, com a assinatura do Tratado de Zamora, em 1143. 

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Português suave

Há cento e trinta anos, na "pessoa" de Fradique Mendes", Eça de Queirós caracterizava o povo português "pela morosa paciência de boi manso, pela alegria idílica que lhe poetiza o trabalho, pela calma aquiescência com que depois da vassalagem ao Senhor Rei venera o Senhor Governo." Com a ironia e a verve de enorme escritor, mas seguramente com a tristeza de grande português.
Mais tarde, Salazar percebeu-o perfeitamente quando afirmou que "somos um povo de brandos costumes" e que "aqui, para governar, um safanão a tempo é quanto basta". Lamentavelmente tinha razão: conseguiu submeter o "boi" a uma pesada canga de 48 anos!
Talvez não espante, por isso, que o português, suave e resignado como sempre, pareça continuar a aceitar e até a "aprovar" (como as sondagens, aqui e aqui, aparentemente confirmam), as malfeitorias e iniquidades de que está a ser vítima!…


(Com o devido respeito e solidariedade com a minoria que sempre se inconformou, resistiu, lutou — muitas vezes pagando-o com a prisão ou a vida — e continua hoje a fazê-lo.)

quinta-feira, janeiro 12, 2012

E ainda nos gozam?!…

O ministro da Economia, cuja inacção tem sido um completo deserto de ideias e propostas para contrariar o agravamento da recessão e o aumento do desemprego, e cuja incapacidade para promover a chamada concertação social é sublinhada quer pelas organizações sindicais quer pelo patronato, descobriu finalmente a salvação para a economia portuguesa: o "franchising" do pastel de nata!!!...


Já Passos Coelho, depois da escandalosa partilha da administração da Águas de Portugal pelo P"SD" e pelo C"DS", e do tacho que arranjou para o seu amigo Catroga na EDP — até António Capucho acha que o salário de Mr. Pintelhos é escandaloso e vai reflectir-se na conta da electricidade! —, ainda tem a distinta lata de dizer que que tem cumprido a promessa de libertar o Estado do "amiguismo" e das "clientelas"!!!...


Que cambada!… Não contentes por nos infernizarem a vida, ainda nos gozam?!…


Vale mais tarde do que nunca

Eduardo Galeano não tem dúvidas em relação à democraticidade do sistema em que vivemos: "a liberdade de mercado permite-nos aceitar os preços que nos são impostos", "a liberdade de eleição permite-nos escolher o molho com que seremos devorados". E José Saramago, já há uma dezena de anos, advertia-nos que "a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada," e questionava "como é que podemos falar em democracia se aqueles que efectivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo?".
Agora, o psiquiatra Eurico de Figueiredo, ex-deputado do P"S", reconhece finalmente que "Portugal já não vive em democracia". Demorou a concluir aquilo que é já hoje uma dolorosa evidência, é verdade. Mas vale mais tarde do que nunca.


A austeridade segue dentro de momentos

Em cima do acontecimento estabeleceu-se animada discussão cruzada, indirecta, entre o ministro das Finanças e o governador do Banco de Portugal. A discussão, por entre eufemismos e hipérboles, apóstrofes e circunlóquios, resume-se simplesmente ao seguinte: a austeridade causando a recessão vai exigir austeridade adicional para que haja ainda mais recessão o que implica ainda mais austeridade, etc.?
As coisas não estão a correr bem. Reina mesmo uma grande confusão. Os patrões rejeitam a meia hora de trabalho a mais receitada aos trabalhadores pelo Governo. Juristas duvidam da eficácia da lei das rendas. E tribunais começaram a desmoronar o edifício de suspeitíssima legalidade erguido pelo poder político em resposta ao caderno de encargos da 'troika'. O que vai valendo à maioria PSD/ CDS é a muleta do PS, tentando travar a todo o custo a fiscalização sucessiva do Orçamento.
Mas se havia crise, agora vislumbra-se crise na crise. Se as medidas decididas pelo Governo começam a desmoronar-se, que fazer para salvar a crise? É que por este andar o país arrisca-se a ficar sem austeridade e, pior ainda, sem crise. Talvez seja essa a ocasião para reconhecer, com o velho Bertolt Brecht, que "a exploração e a mentira são coisas que custam a aprender". E que a crise, bem vistas as coisas, não é mais que um modo de fazer uns poucos ainda mais ricos, à custa de milhões de novos pobres, e de acabar de vez com a cultura social, fundadora de uma defunta ideia de Europa. João Paulo Guerra
Caso para lembrarmos uma antiga frase televisiva adaptada: "Pedimos desculpa por esta confusão, a austeridade segue dentro de momentos!" Disso podemos ter a certeza.


O monstro na primeira página

A ideia de que pessoas com mais de 70 anos só têm direito à vida, que é o que representa um tratamento extremo como a hemodiálise, pagando — independentemente de terem, durante anos e anos, entregue ao Estado parte substancial dos seus rendimentos para garantir o seu direito a assistência na doença — talvez seja aceitável vindo da mesma mente tortuosamente contabilística que em tempos também defendeu a suspensão da democracia. Que mentes dessas tenham púlpito num canal de televisão só se compreende pela política do "monstro na primeira página" que domina hoje o jornalismo português. ler mais
Manuel António Pina


terça-feira, janeiro 10, 2012

Auto-estrada para o inferno

O ministro das Finanças disse hoje que "não serão necessárias quaisquer medidas adicionais de austeridade" em 2012 (devido à transferência dos fundos de pensões da banca, e apenas por esse motivo). No mesmo dia em que o Banco de Portugal admitiu que os objectivos orçamentais do país poderão exigir novas ”medidas de consolidação” em 2012 ou 2013, num cenário de projecções pessimistas que pressupõe uma “contracção sem precedentes” da economia portuguesa!
A realidade pode vir a desmentir (ou melhor, clarificar) cruelmente as palavras dúbias de Vítor Gaspar. Já estamos a ser fritos em lume brando mas, por este andar, é bem provável que venhamos a ser estorricados.
A austeridade é a auto-estrada para o inferno.


domingo, janeiro 08, 2012

O Titanic

Em 2012, o serviço da dívida das maiores economias do mundo (os países do G7 mais a China, a Índia, o Brasil e a Rússia), deve atingir qualquer coisa como 8,3 biliões de dólares, dos quais 700.000 milhões são só de juros. No entanto, enquanto à banca o dinheiro é emprestado a 0,25% (pela Reserva Federal dos EUA) ou a 1% (pelo BCE), os governos são obrigados a suportar custos financeiros que podem ir dos 7%, como acontece no caso italiano, aos 50%, como se passa na Grécia! Esta usura criminosa obrigará a refinanciar boa parte da dívida, num momento em que a economia mundial começa uma nova e perigosa desaceleração. fonte: esquerda.net
Afinal, ao contrário do que nos pretendem fazer crer, a crise das dívidas soberanas não é apenas um problema dos PIIGS "esbanjadores"! A verdade é que o sistema capitalista, (do)minado pelos "mercados financeiros" e pela "economia de casino", é um Titanic à deriva que, por este navegar, dificilmente se manterá à tona.

sábado, janeiro 07, 2012

Só a tiro?

Primeiro foi D. Carlos, a 1 de Fevereiro de 1908, e agora foi o pórtico da A22, a 12 de Dezembro de 2011. O assassinato político voltou a Portugal.
[…]
O novo modelo de atentado, dirigido a objectos inanimados, tem apenas um inconveniente: por ser muito menos grave do que os homicídios, e também menos eficaz, tende a ser mais frequente. É possível que, a partir de hoje, quem se insurja contra o aumento do IVA na restauração dê dois tiros na conta do café; que quem se exalte com a meia hora de trabalho adicional dispare sobre o relógio de ponto; que aqueles que se indignam com o corte nos salários fuzilem o recibo do vencimento. Portugal inteiro vai parecer a noite de fim de ano na Madeira: estampidos e cheiro a pólvora. Embora, muito provavelmente, seja mais barato abater a tiro todas as portagens do país do que pagar cinco minutos de fogo-de-artifício na Madeira. E ligeiramente menos criminoso. ler tudo
Ricardo Araújo Pereira

A ordem é rica

Quando uma mente brilhante da administração pública portuguesa decidiu fechar a Maternidade de Elvas e determinar que futuros portugueses da região nascessem para lá da fronteira não lhe terá passado pela cabeça que, mais dia, menos dia, o Hospital de Badajoz iria apresentar a conta.
Não seria tanto porque entre Portugal e Espanha reinasse algum nacional-porreirismo mas porque em Portugal se faziam contas ao dia: fecha, risca no Orçamento, depois se verá mas, em princípio, não há crise. Acontece que agora o Hospital de Badajoz enviou mesmo a fatura: são 2 milhões e trezentos mil euros. E é assim, parcela em cima de parcela, que Portugal precisa de 20 por cento do PIB só para pagar juros e dívida.
E não é que o poder político — seja qual for a coloração — não tenha sido avisado dos efeitos da política do "rapa, tira, corta e fecha": sofrimento para as populações, desemprego e endividamento do País. Desde o fecho da Maternidade de Elvas tem nascido um bebé português por dia na cidade de Badajoz. É mais caro, enfraquece-se o SNS e agride-se o direito elementar que cada família portuguesa tem de ver nascer os seus filhos em Portugal. Apenas se consegue iludir um problema de caixa. Até que um dia, o credor apresenta a fatura.
Por falar disso, preparem-se: um dia destes, os serviços de Saúde da Galiza apresentam a conta das urgências de doentes portugueses no centro de atendimento em Tui. Ou um alcaide da raia envia a conta dos funerais dos portugueses mandados morrer longe por razões de contabilidade.
A tempo: chega-me a notícia, do jornal espanhol "as", que a seleção portuguesa de futebol é a que vai pagar preços mais elevados de hotelaria no Europeu deste ano: 33.174 euros por dia. Espanha é a que menos paga: 4.700 euros. Em Portugal, a ordem é rica.

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Constatar o óbvio

O discurso [de Ano Novo] do chefe de Estado só tem, nesta conjuntura, a surpresa da surpreendente constatação do óbvio: a falta de "sensibilidade" da política do Executivo abrirá possivelmente caminho a que a "situação social" possa "tornar-se insustentável". De maneira que a grande preocupação do chefe de Estado não é tanto a vida de tremendas dificuldades que aguarda a vasta maioria da população, ameaçada com miséria iminente, mas o perigo de a situação social, tornando-se "insustentável", se tornar "explosiva". A próxima preocupação do chefe de Estado será a explosão. texto original
 João Paulo Guerra

domingo, janeiro 01, 2012

Por qué no te callas?

Na mensagem de Ano "Novo", o Presidente da República veio lembrar que, sem crescimento e emprego, a situação social pode tornar-se insustentável. Mas esqueceu que, há apenas três dias, sem pestanejar, promulgou o Orçamento do Estado e as Grandes Opções do Plano para 2012, que vão originar mais recessão e desemprego.
Se tivesse um pingo de vergonha e de decência, Cavaco Silva teria ficado calado…