José Afonso

DISCOS E CANÇÕES em actualização

A carreira discográfica de José Afonso durou 32 anos, realizando-se a primeira gravação em 1953, e a última, em 1985.


ÁLBUNS
Baladas e Canções (1964)
Cantares do Andarilho (1968)
Contos Velhos Rumos Novos (1969)
Traz Outro Amigo Também (1970)
Cantigas do Maio (1971)
Eu Vou Ser Como a Toupeira (1972)
Venham Mais Cinco (1973)
Coro dos Tribunais (1974)
Com as Minhas Tamanquinhas (1976)
Enquanto Há Força (1978)
Fura Fura (1979)
Fados de Coimbra e Outras Canções (1981)
Ao Vivo no Coliseu (1981)
Como Se Fora Seu Filho (1983)
Galinhas do Mato (1985)


Baladas e Canções (1964)

É o primeiro longa duração oficial de José Afonso. Editado em 1964 pela Discoteca de Santo António, no Porto (etiqueta Ofir), reúne doze temas da fase de ruptura de Zeca com o tradicionalismo coimbrão, também editados, posteriormente, em três EP's. Acompanhado à viola por Rui Pato, o cantor é identificado, na primeira edição do álbum, ainda como Dr. José Afonso. A influência de Edmundo Bettencourt é sobretudo notória nos temas de maior lirismo, servidos por uma interpretação admirá vel que, mantendo os traços característicos da 'escola' coimbrã, não se limita a ser uma mera demonstração de dotes vocais (ao contrário do que, por vezes, acontecia com outros cantores oriundos de Coimbra), mas se assume inteiramente como mais um elemento da canção, tão importante como o texto ou a música. É esta pureza interpretativa, poética e melódica (patente, de resto, em toda a sua obra) que podemos encontrar em Altos castelos, Canção longe ou Os bravos e, sobretudo, em Ronda dos paisanos, Minha mãe ou O pastor de Bensafrim. O disco inclui ainda Balada Aleixo, Balada de Outono, Trovas antigas, Na fonte está Lianor, Elegia (um belo poema de Luís de Andrade que Adriano Correia de Oliveira também cantou) e o instrumental Canto da Primavera, que mais tarde seria retomado por Zeca para o Coro da Primavera. Na altura da criação destas canções, a actividade de Zeca era ainda mais ou menos solitária (embora Adriano, em Coimbra, Luís Cília e José Mário Branco, em Paris, traçassem já caminhos musicais paralelos aos seus) e os temas deste disco reflectiam ainda uma postura «mais ou menos contemplativa» (palavras do próprio) em relação ao Universo - atitude que o cantor nunca abandonou por completo, nem mesmo nos momentos de maior empenhamento político.
No 10º aniversário da morte de José Afonso, em 1996, a EMI editou pela primeira vez em CD o primeiro álbum de Zeca. Viriato Teles
  1. Canção Longe (Popular açoriana/José Afonso)
  2. Os Bravos (Popular açoriana)
  3. Balada Aleixo (António Aleixo/ José Afonso)
  4. Balada do Outono (José Afonso/instrumental de Rui Pato)
  5. Trovas Antigas (Popular/ José Afonso)
  6. Na Fonte Está Lianor (Luís de Camões/ José Afonso)
  7. Minha Mãe (Popular/ José Afonso)
  8. Altos Castelos (José Afonso)
  9. O Pastor de Bensafrim (José Afonso)
  10. Canto da Primavera (José Afonso/instrumental de Rui Pato)
  11. Elegia (Luís de Andrade/José Afonso)
  12. Ronda dos Paisanos (José Afonso)


Cantares do Andarilho (1968)

Músicos: Rui Pato

Editado em 1968, assinala o início da sua ligação à editora Orfeu, de Arnaldo Trindade (onde se manteve durante 14 anos), e da fase mais interveniente, política e culturalmente, da sua arte. A propósito deste álbum, Urbano Tavares Rodrigues escreveu que «José Afonso, trovador, é o mais puro veio de água que torna o presente em futuro, que à tradição arranca a chama do amanhã» e «a primeira voz da massa que avança em lume de vaga, a mais alta crista e a mais terna faúlha de luar na praia cólera da poesia, da balada nova». Nestes cantares, Zeca alia a sua criatividade à mais genuína inspiração popular, quer através da utilização de melodias tradicionais (como Senhora do Almortão ou Resineiro engraçado, posteriormente gravado também por Amália Rodrigues), quer tomando-as apenas como um ponto de partida para a criação de novos temas, mantendo, no entanto, a sua estrutura formal. São os casos, por exemplo, de Natal dos simples, da Balada do sino ou dessa comovente Canção de embalar, sem dúvida um dos mais belos temas de Zeca e, por que não dizê-lo?, do nosso cancioneiro popular.
Cantares do Andarilho regista ainda uma incursão de José Afonso na poesia de Camões (Endechas a Bárbara escrava), um tema da fase que o próprio Zeca classificou de 'franciscana' (O Tecto na Montanha) e também as primeiras experiências de inspiração vagamente surrealista (Chamaram-me cigano) ao jeito de Bettencourt. Regista, por outro lado, uma canção que, a par de Os vampiros, da Trova do vento que passa e, mais tarde, de Grândola vila morena, vai tornar-se uma espécie de hino da geração de 70: Vejam bem. Viriato Teles
  1. Natal dos Simples (José Afonso)
  2. Balada do Sino (José Afonso)
  3. Resineiro Engraçado (Popular/José Afonso)
  4. Canção de Embalar (José Afonso)
  5. O Cavaleiro e o Anjo (José Afonso)
  6. Saudadinha (Tradicional Açoriana/ José Afonso)
  7. Tecto na Montanha (José Afonso)
  8. Endechas a Bárbara Escrava (Luís de Camões/ José Afonso)
  9. Chamaram-me Cigano (José Afonso)
  10. Senhora do Almortão (Popular/José Afonso)
  11. Vejam Bem (José Afonso)
  12. Cantares de Andarilho (António Quadros(pintor)/José Afonso)


Contos Velhos Rumos Novos (1969)

Músicos: Rui Pato, Sousa Colaço, José Fortunato, Adácio Pestana e Teresa Paula Brito

A 'semente' estava definitivamente lançada. São estes 'rumos novos' que José Afonso acompanha, atento aos contos velhos que os senhores da época desejam perpetuar através da tão propagada 'evolução na continuidade'. Este álbum, à semelhança dos anteriores, intercala os temas do cancioneiro tradicional com as inevitáveis palavras de denúncia e resistência. Um texto de José Carlos Ary dos Santos (A cidade) e outro de Luís de Andrade (Era de noite e levaram, uma alusão às prisões arbitrárias da pidesca instituição) são, com Já o tempo se habitua, do próprio Zeca, os exemplos mais elucidativos.
Musicalmente, este álbum (o único em que a designação genérico não corresponde ao título de nenhuma canção) marca também uma mudança significativa no trabalho do compositor. O acompanhamento não se limita já à viola de Rui Pato (que, aqui, toca também marimbas e harmónica), mas estende-se às colaborações de Sousa Colaço (segunda viola), José Fortunato (cavaquinho), Adácio Pestana (trompa) e Teresa Paula Brito, responsável pela voz feminina de Vai, Maria, vai. Viriato Teles
  1. Bailia (Airas Nunes/ José Afonso)
  2. Oh! Que Calma Vai Caindo (Popular Malpica Beira-Baixa/ José Afonso)
  3. S. Macaio (Popular Açoriana/José Afonso)
  4. Qualquer Dia (F. Miguel Bernardes/ José Afonso)
  5. Vai, Maria Vai (José Afonso)
  6. Deus Te Salve, Rosa (Popular Trás-os-montes/ José Afonso)
  7. Lá Vai Jeremias (José Afonso)
  8. No Vale de Fuenteovejuna (Lope de Vega/José Afonso)
  9. Era de Noite e Levaram (Luís de Andrade/José Afonso)
  10. Já o Tempo se Habitua (José Afonso)
  11. A Cidade (José Carlos Ary dos Santos/José Afonso)


Traz Outro Amigo Também (1970)

Músicos: Carlos Correia (Bóris), colaboração de Filipe Colaço

No texto de apresentação deste álbum, Bernardo Santareno realçava a 'pureza' como 'a nota maior' da arte de Zeca. Pureza é, de facto, a palavra exacta para definir este disco, um imenso poema de fraternidade a que não falta a raiva de quem se sabe cercado. Uma raiva que tem a sua expressão mais evidente nas interpretações de Os eunucos (cuidadosamente subintitulada No reino da Etiópia. numa tentativa de dar a volta às malhas apertadas da censura) e do soberbo e angustiante poema de Jorge de Sena, Epígrafe para A Arte de Furtar. Gravado nos estúdios da Pye, em Londres, no ano de 1970, Traz Outro Amigo Também não pôde contar com a participação de Rui Pato, entretanto mobilizado para a tropa e com o passaporte apreendido pela PIDE. Em seu lugar estão Carlos Correia (Boris) e Filipe Colaço. As referências a África surgem, pela primeira vez, no trabalho de Zeca (em Avenida de Angola e Carta a Miguel Djéje), a par de temas como a emigração e o exílio (Canção do desterro), de canções populares (Maria Faia e Moda do Entrudo) e de uma nova viagem pelos domínios camonianos (Verdes são os campos). Incómodo e belíssimo, Traz outro amigo também assume-se como um disco de grande maturidade, através do qual, se dúvidas ainda restassem, se tornava claro que já tudo era diferente na música portuguesa. A prova, de resto, fora dada no ano anterior a este disco, durante um programa de televisão igualmente histórico, o 'Zip Zip'. Onde Zeca, curiosamente, nunca participou... Viriato Teles
  1. Traz Outro Amigo Também (José Afonso)
  2. Maria Faia (Moda da Azeitona - Malpica, Beira-Baixa/José Afonso)
  3. Canto Moço (José Afonso)
  4. Epígrafe para a Arte de Furtar (Jorge de Sena/ José Afonso)
  5. Moda do Entrudo (José Afonso)
  6. Os Eunucos (No Reino da Etiópia) (José Afonso)
  7. Avenida de Angola (José Afonso)
  8. Canção do Desterro (Emigrantes) (José Afonso)
  9. Verdes São os Campos (Luís de Camões/José Afonso)
  10. Carta a Miguel Djéje (José Afonso)
  11. Cantiga do Monte (José Afonso)


Cantigas do Maio (1971)

Músicos: Carlos Correia (Bóris), Michel Delaporte, Christian Padovan, Tony Branis, Jacques Granier, Francisco Fanhais e José Mário Branco

O mais histórico e o mais referencial de todos os discos da música popular portuguesa. Gravado no Strawberry Studio, de Michel Magne, em Herouville (França), entre 11 de Outubro e 4 de Novembro de 1971, com arranjos e direcção musical a cargo de José Mário Branco, este disco assinala a primeira viragem de fundo na revolução musical iniciada por Zeca uma dúzia de anos antes. O tratamento instrumental de cada tema, a beleza poética e a subversão temática atingem, aqui um nível nunca anteriormente possível. E, uma vez mais, Zeca recusa a facilidade, incluindo canções onde o surreal é já assumido na sua totalidade (para desespero da direita e de uma certa esquerda, que insistia na necessidade de uma 'definição clara' de Zeca, à luz do 'socialismo científico') como Ronda das mafarricas ou Senhor arcanjo, a par de belíssimos temas de inspiração popular, como Maio, maduro Maio, A mulher da erva ou Cantigas do Maio e de óbvios cantos de resistência, como o Cantar alentejano, dedicado a Cataria Eufémia, camponesa assassinada pela GNR, ou Coro da Primavera. Gravado num tempo recorde e contando apenas com as participações de meia dúzia de músicos (Carios Correia, Michel Delaporte, Christian Padovan, Tony Branis, Jacques Granier e Francisco Fanhais, além de, naturalmente, José Mário Branco e Zeca), este disco seria considerado, em 1978, como o melhor de sempre da música popular portuguesa, numa votação organizada pelo Sete que contou com a participação de 25 críticos e jornalistas. Um tema, no entanto, bastaria para fazer de Cantigas do Maio um marco da história portuguesa: Grândola vila morena, escolhida em 1974 como senha para o arranque do Movimento dos Capitães, que em 25 de Abril derrubou a ditadura fascista. Viriato Teles
  1. Senhor Arcanjo (José Afonso)
  2. Cantigas do Maio (Quadra popular/José Afonso)
  3. Milho Verde (popular/arr. José Mário Branco)
  4. Cantar Alentejano (José Afonso)
  5. Grândola, Vila Morena (José Afonso)
  6. Maio Maduro Maio (José Afonso)
  7. Mulher da Erva (José Afonso)
  8. Ronda das Mafarricas (António Quadros/José Afonso)
  9. Coro da Primavera (José Afonso)

Eu Vou Ser Como a Toupeira (1972)

Músicos: Benedicto, Carlos Alberto Moniz, Carlos Medrano, Carlos Villa, Ernesto Duarte, José Dominguez, José Jorge Letria, José Niza, Maite, Maria do Amparo, Pedro Vicedo, Pepe Ébano e Teresa Silva Carvalho

Continuação lógica de Cantigas do Maio, este disco surge numa fase de grande empenhamento político de Zeca - que pouco tempo depois o levará novamente à prisão de Caxias. Apresentado como um trabalho de grupo, com colaborações de Benedicto García, Carlos Alberto Moniz, Carlos Medrano, Carlos Villa, Ernesto Duarte, José Dominguez, José Jorge Letria, José Niza, Maite, Maria do Amparo, Pedro Vicedo, Pepe Ébano e Teresa Silva Carvalho. Pratica mente impedido de cantar em Portugal, Zeca apresenta-se ao vivo em Espanha e em França e tenta dar conta, em disco, do que por cá se passa. Prenúncios da mudança que se avizinhava são temas como Ó ti Alves ou A caminho de Urga. Mas, enquanto o dia novo não chega, Zeca continua a cantar a cólera e o desespero colectivos, através de momentos musicais inesquecíveis como A morte saiu à rua (dedicado a José Dias Coelho, assassinado pela Pide em 1961) e Por trás daquela janela (escrito para Alfredo Matos, antifascista do Barreiro que se encontrava preso), ao mesmo tempo que ironiza com a cadavérica memória salazarista (O avô cavernoso), faz novos apelos à luta (Fui à beira do mar, Eu vou ser como a toupeira) e se diverte com o aparente non sense de Fernando Pessoa (No comboio descendente), afinal a imagem perfeita de um certo laissez faire tão tipicamente lusitano. Viriato Teles
  1. A Morte Saiu à Rua (José Afonso)
  2. Fui à Beira do Mar (José Afonso)
  3. Sete Fadas me Fadaram (António Quadros/José Afonso)
  4. Ó Minha Amora Madura (José Afonso)
  5. O Avô Cavernoso (José Afonso)
  6. Ó Ti Alves (José Afonso)
  7. No Comboio Descendente (Fernando Pessoa/ José Afonso)
  8. Eu Vou Ser Como a Toupeira (José Afonso)
  9. É para Urga (José Afonso)

Venham Mais Cinco (1973)

Músicos: Michel Cron, Alain Noel, André Garradot, Michel Bergés, Janine de Waleyne, Jean Claude Dubois, Jean Claude Naude, Michel Buzon, Michel Grenu, Marcel Perdignon, Michel Delaporte e José Mário Branco

Gravado em finais de 1973, em Paris, novamente com colaboração de José Mário Branco, inclui diversos temas escritos por Zeca durante o seu último período de 'férias' na prisão de Caxias, em Maio desse ano. É o disco em que o cantor conta com a participação de maior número de músicos (18, no total) e onde a poesia de Zeca atinge a sua expressão mais ampla, livre de significados imediatistas e de interpretações lineares. São, por junto, dez cantigas onde o tradicional lirismo de José Afonso se funde com uma grande 'modernidade' semântica (em Era um redondo vocábulo, por exemplo) atravessada em alguns casos por uma 'crueza' ímpar (Paz, poeta e pombas ou Rio largo de profundis) que chega a ser desconcertante (Gastão era perfeito ou Nefretite não tinha papeira) sem nunca perder o sentido daquilo que, para Zeca, foi sempre o fundamental: a agitação sociopolítica que as suas intervenções musicais pos sibilitavam. Exemplos soberbos são Adeus ó Serra da Lapa, A Formiga no Carreiro ou Venham mais cinco, o último dos grandes hinos de Zeca deste período. Viriato Teles
  1. Rio Largo de Profundis (José Afonso)
  2. Era um Redondo Vocábulo (José Afonso)
  3. Nefretite não Tinha Papeira (José Afonso)
  4. Adeus ó Serra da Lapa (José Afonso)
  5. Venham Mais Cinco (José Afonso)
  6. A Formiga no Carreiro (José Afonso)
  7. Que Amor não me Engana (José Afonso)
  8. Paz Poeta e Pombas (José Afonso)
  9. Se Voaras mais ao Perto (José Afonso)
  10. Gastão era Perfeito (José Afonso)

Coro dos Tribunais (1974)

Músicos: Fausto, Michel Delaporte, Vitorino, Carlos Alberto Moniz, Yório Gonçalves, Adriano Correia de Oliveira e José Niza

Venham ver, Maio nasceu. O sonho de tantos anos torna-se finalmente uma realidade, que Zeca acompanha de perto deslumbrado e com aquela vontade de virar o mundo do avesso que marcou o período mais fascinante das nossas vidas. O tempo, agora, é de preocupações prementes, há (pensamos todos) uma revolução urgente para fazer. Zeca parte para ela com todos os sentidos, ciente de que não bastou derrubar o fascismo: é preciso renovar o país e reconquistar a esperança.
Coro dos Tribunais, gravado no final de 1974, em Londres, com Adriano Correia de Oliveira, Fausto (responsável pelos arranjos e pela direcção musical), Vitorino, Carlos Moniz, José Niza, o francês Michel Delaporte e o brasileiro Yório Gonçalves, é integralmente preenchido por temas escritos e compostos an tes de Abril: Coro dos tribunais, O homem voltou, Ailé! Ailé!, Não seremos pais incógnitos, O que faz falta, Lá no Xepangara, Eu marchava de dia e de noite, Tenho um primo convexo, Só ouve o brado da terra, A presença das formigas.
Recusando-se a alinhar no populismo demagógico, ainda que eventualmente compreensível, que caracterizou algumas criações musicais (e outras) desta época, Zeca coloca-se, uma vez mais, na linha avançada da intervenção artística, através de um disco capaz de, por um lado, corresponder às exigências do seu tempo e, por outro, não alimentar falsas ilusões relativamente ao que estava feito e àquilo que era necessário construir. Viriato Teles
  1. Coro dos Tribunais (B. Brecht/José Afonso)
  2. O Homem Voltou (José Afonso)
  3. Ailé! Ailé! (José Afonso)
  4. Não Seremos Pais Incógnitos (José Afonso)
  5. O Que Faz Falta (José Afonso)
  6. Lá no Xepangara (José Afonso)
  7. Eu Marchava de Dia e de Noite (Canta o Comerciante) (B. Brecht/José Afonso)
  8. Tenho um Primo Convexo (José Afonso)
  9. Só Ouve o Brado da Terra (José Afonso)
  10. A Presença das Formigas (José Afonso)
  11. Coro dos Tribunais (Final) (B. Brecht/José Afonso)

Com as Minhas Tamanquinhas (1976)

Músicos: Vitorino, Cecília Barreira, Fausto, Fernando Gonzalez, José Luis Iglésias, José Niza, Quim Barreiros, Luis Duarte, Michel Delaporte, Ramón Galarza

José Afonso dizia, num misto de provocação e de grande coerência, ser este o seu melhor disco. Gravado em 1976, reflecte as vivências ímpares «desse período maravilhoso que foi o PREC», as lutas das pequenas comunidades, as situações únicas e inesquecíveis da época a que, no discurso politicamente correcto dominante, se chama gonçalvista. Disco comprometido e datado é, no entanto, um trabalho capaz de sobreviver às situações que lhe deram origem. A gravação recente de Os Índios da Meia Praia por Dulce Pontes é a prova disso mesmo.
Verdadeira demonstração da capacidade de intervir artisticamente de forma eficaz, em termos imediatos, sem prejuízo dos valores estético-formais, Com as Minhas Tamanquinhas não cede às tentações mais primárias do chamado 'realismo socialista', a que Zeca nunca ligou grandemente, assumindo-se, contudo, como um trabalho de e para a mudança, na linha das melhores criações de Brecht (Bertolt Brecht (1898-1956) Dramaturgo alemão, fundou o Berliner Ensemble, em 1949, na RDA, e recebeu o Prémio Estaline em 1955. Autor de algumas das mais importantes peças de teatro de intervenção do século XX. José Afonso compôs diversas canções a partir de traduções de alguns dos seus textos) e Maiakovski (Vladimir Maiakovski (1894-1930) Poeta natural da Geórgia foi membro do Partido Bolchevique, a partir de 1908, e participou no movimento futurista russo, cujo primeiro manifesto subscreveu. Teve um papel importante nas grandes transformações artísticas da Revolução de Outubro. Escreveu, entre outros textos célebres, "A Guerra e o Universo" e "Lenine", uma extensa ode ao dedicada ao ideólogo da revolução russa.) Viriato Teles
  1. Os Fantoches de Kissinger (José Afonso)
  2. Teresa Torga (José Afonso)
  3. Os Índios da Meia-Praia (José Afonso)
  4. O Homem da Gaita (José Afonso)
  5. O Dia da Unidade (José Afonso)
  6. Com as Minhas Tamanquinhas (José Afonso)
  7. Chula da Póvoa (José Afonso)
  8. Como se faz um Canalha (José Afonso)
  9. Em Terras de Trás-os Montes (José Afonso)
  10. Alípio de Freitas (José Afonso)

Enquanto Há Força (1978)

Músicos: Michel Delaporte, Pintinhas, Guilherme Scarpa, Fausto, José Luis Iglésias, Manuel Guerreiro, João Rodrigues, João Magalhães, Ermenegildo, Paulo Godinho, Dimas Pereira, Yório, Alfredo Vieira de Sousa, Cecília, Grupo de Cantigas do Centro Cultural de Anadia, Guilherme Inês, Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Rão Kyao, Luís Duarte, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho e Pedro Afonso na voz solo de "Maravilha, maravilha"

Ainda sob a influência dos tempos áureos de 75, mas já com as marcas do retrocesso do processo político provocado pelo 25 de Novembro, este álbum mistura a esperança com o humor, a denúncia com o fervor revolucionário e transforma todos estes ingredientes» numa obra plena, daquelas que só a genialidade pode conceber. «Enquanto há força/ no braço que vinga / que venham ventos / virar-nos as quilhas»: a irreverência e o desafio, uma vez mais, a par de um certo desencanto (patente, por exemplo, em A Acupunctura em Odemira, um tema anterior a 74 que Zeca recupera para este disco) e de uma ironia subtil, expressa nos versos quase ingénuos da segunda versão de Viva o Poder Popular.
Pela primeira vez, José Afonso reparte com ou tro compositor a autoria de duas canções: Eu, o Povo, sobre texto do poeta moçambicano Barnabé João (Mutiatimi Barnabé João, aliás João Pedra Grabato Dias, aliás António Quadros (Pintor). Pseudónimos de António Augusto de Meio Lucena e Quadros (1933-1994). pintor. escultor e poeta. que tem vários textos musicados por Zeca e, mais recentemente, por Amélia Muge), e A Acupunctura em Odemira, ambas musicadas de parceria com Fausto, que com Zeca assume também a direcção musical do disco. Entre a lista dos colabo radores escolhidos para a sua concretização, podem ver-se os nomes de Michel Delaporte (que assina, aqui, a sua última participação em gravações de José Afonso), Pintinhas, Guilherme Inês, José Luís Iglésias, Carlos Zíngaro, Pedro Caldeira Cabral, Rão Kyao, Luís Duarte, Paulo Godinho, Yório Gonçalves, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, Alfredo Vieira de Sousa e do próprio filho de Zeca, Pedro Afonso, entre outros. Viriato Teles
  1. Enquanto Há Força (José Afonso)
  2. Tinha uma Sala Mal Iluminada (José Afonso)
  3. Um Homem Novo Veio da Mata (José Afonso)
  4. Ali Está o Rio (José Afonso)
  5. Arcebispíada (José Afonso)
  6. Barracas Ocupação (José Afonso)
  7. Eu, o Povo (José Afonso)
  8. A Acupunctura em Odemira (José Afonso)
  9. Viva o Poder Popular (José Afonso)

Fura Fura (1979)

Músicos: Júlio Pereira, Trovante, António Chaínho, José Maria Nóbrega, Naomi Anner, Carlos Zíngaro, Celso de Carvalho, Né Ladeiras, Artur Costa, Guilherme Inês, Tomás Pimentel, Rui Cardoso

Foi graças a este disco (e ao tão substimado Histórias de Viajeiros, de Fausto, também de 1979) que os Trovante começaram a ganhar a força que necessitavam para sair do circuito mais ou menos fechado das actuações em comícios do PC, que até então frequentavam. O grupo de Baile no Bosque é, de facto, o grande suporte musical deste trabalho, evidenciando também o empenhamento de Zeca (notório, de resto, em todos os seus trabalhos) no apoio às novas gerações de músicos. Incluem-se, aqui, os temas que Zeca escreveu para a peça 'Zé do Telhado', do Grupo de Teatro A Barraca, e duas canções escritas para a 'Guerra do Alecrim e Manjerona', da Comuna. Com arranjos distribuídos por Júlio Pereira, Trovante e JoséAfonso, este álbum marca o regresso do cantor a algumas formas de expressão utilizadas nos seus primeiros álbuns, enriquecidas, no entanto, por toda a experiência adquirida, humana e artisticamente. Viriato Teles
  1. Quanto É Doce (José Afonso)
  2. As Sete Mulheres do Minho (José Afonso)
  3. O Cabral Fugiu para Espanha (José Afonso)
  4. De Quem Foi a Traição (José Afonso)
  5. Quem Diz Que É pela Rainha (José Afonso)
  6. Na Catedral de Lisboa (José Afonso)
  7. Achégate a Mim, Maruxa (Tradicional galega /José Afonso)
  8. Senhora Que o Velho (José Afonso)
  9. De Sal de Linguagem Feita (José Afonso)
  10. Não É Meu Bem (José Afonso)
  11. De Não Saber o Que Me Espera (José Afonso)
  12. Fura Fura (José Afonso)

Fados de Coimbra e Outras Canções (1981)

Músicos: Octávio Sérgio, Durval Moreirinhas, Júlio Pereira, Janita Salomé

O regresso às origens, 20 anos depois. Não chegou a ser a reconciliação, pelo simples facto de nunca ter havido da parte de Zeca um repúdio da tradição coimbrã, mas apenas uma evolução natural derivada do 'corte epistemológico' que o cantor decidiu fazer com a praxe mais severa. Ao reassumir a sua condição de 'cantor de Coimbra' no início da década de 80, José Afonso não se limita a ser corajoso, mas está a contribuir novamente para tornar coerente a sua preocupação de sempre: manter viva a cultura portuguesa, o que não pode nem deve ser confundido com quaisquer intuitos de revivalismo saudosista. Voltando a cantar fados de Coimbra, José Afonso assume todo o seu trabalho, define-lhe os contornos, e, de novo, posiciona-se uma vez mais como provocador de emoções e agitador de mentalidades. Ao mesmo tempo, presta homenagem a Edmundo Bettencourt (este é o seu primeiro e único disco com dedicatória expressa) e ao seu contributo para a renovação e dignificação da música popular. Participação musical de Durval Moreirinhas e Octávio Sérgio. A foto da contracapa, não assinada nas diversas edições deste disco, é de Fernando Negreira. Viriato Teles
  1. Saudades de Coimbra (Afonso de Sousa/Mário Faria Fonseca)
  2. Fado D'Anto (António Nobre/Francisco Menano)
  3. Senhora do Almortão (Popular Beira-Baixa)
  4. Mar Alto (Edmundo Bettencourt/Mário Faria Fonseca)
  5. Fado da Sugestão (Felisberto Ferreirinha)
  6. Balada de Outono (José Afonso)
  7. Inquietação (Edmundo Bettencourt/Alexandre Resende)
  8. Fado dos Olhos Claros (Edmundo Bettencourt/Mário M. Fonseca)
  9. Vira de Coimbra (Popular)
  10. Crucificado (Edmundo Bettencourt/Fortunato R. Fonseca)


Ao Vivo no Coliseu (1983)

Músicos: Octávio Sérgio, António Sérgio, Lopes de Almeida, Durval Moreirinhas, Rui Pato, Fausto, Júlio Pereira, Guilherme Inês, Rui Castro, Rui Júnior, Sérgio Mestre e Janita Salomé

Mais que um registo, este duplo-álbum é o retrato de uma vida e de um percurso musical e poético extremamente rico, parte integrante da história de todos e de cada um de nós. Desde os sonhos adolescentes das margens do Mondego até às utopias desejadas do presente, da inquietação de Os vampiros à esperança colectiva de Grândola, da simplicidade da Canção de embalar à raiva de A morte saiu à rua, é um José Afonso vivo e actuante, ainda contemplativo e por vezes até ingénuo que encontramos neste disco, lembrança memorável daquela noite de 29 de Janeiro de 83, quando Lisboa se pareceu novamente com uma «cidade sem muros nem ameias». É também, um José Afonso muito humano, já afectado pela doença, mas disposto a resistir, que se comove com os primeiros versos de Saudades de Coimbra e se entusiasma com Um homem novo veio da mata, é principalmente este Zeca muito verdadeiro que se encontra ao longo destas 17 canções. Um disco perfeito? Longe disso. Mas é precisamente essa 'imperfeição' que faz dele um documento autêntico, precioso, gratificante. Como todas as memórias das pequenas emoções (As reedições posteriores em CD são francamente piores do que o original em vinil. A primeira, ainda da responsabilidade da editora Sassetti, divide as canções com sucessões de fade-outs sem o mínimo rigor estético ou técnico. A segunda, já com o selo da Strauss, pelo contrário, inclui a gravação integral do espectáculo. Curioso como documento, mas de duvidosa legitimidade, já que não apenas adultera o trabalho de Eduardo Paes Mamede, responsável pela produção do disco original, como desrespeita a vontade do próprio Zeca, que foi, em última análise, quem decidiu as canções que deveriam ou não ser Incluídas no disco.) Viriato Teles
  1. Balada do Mondego (Artur Paredes)
  2. Saudades de Coimbra (Afonso de Sousa/Mário Faria Fonseca)
  3. Senhora do Almortão (Popular Beira-baixa)
  4. Dor na Planície (Octávio Sérgio)
  5. Balada do Outono (José Afonso)
  6. Canção de Embalar (José Afonso)
  7. Natal dos Simples (José Afonso)
  8. Os Vampiros (José Afonso)
  9. A Morte Saiu à Rua (José Afonso)
  10. No Comboio Descendente (Fernando Pessoa/José Afonso)
  11. Um Homem Novo Veio da Mata (José Afonso)
  12. Milho Verde (Popular)
  13. Murinheira (Instrumental)
  14. Era um redondo vocábulo (José Afonso)
  15. Utopia (José Afonso)
  16. Venham Mais Cinco (José Afonso)
  17. O Que Faz Falta (José Afonso)
  18. Grândola, Vila Morena (José Afonso)
  19. À proa (Gravação de estúdio)



Como Se Fora Seu Filho (1983)

Músicos: Júlio Pereira, Janita Salomé, Fausto, José Mário Branco, Sérgio Mestre, Carlos Zíngaro, Pedro Casaes, Pedro Wallenstein, Pedro Caldeira Cabral, Rui Júnior, Pintinhas, Edgar Caramelo, Rui Cardoso, Maria do Amparo, Guida, Cristina, Lena, Formiga, Isabel, Toinas, Francisco Fanhais e elementos do "Cantaril"

O último disco em que José Afonso participou activa e integralmente. Passou despercebido a muita gente (que, provavelmente, achou terem sido suficientes as lágrimas vertidas por altura do espectáculo do Coliseu) e, no entanto, é um testemunho espantoso de vitalidade e lucidez criativa. Gravado entre Novembro de 82 e Abril de 83, com arranjos repartidos por Júlio Pereira, José Mário Branco e Fausto (concebidos, em boa parte dos casos, a partir de ideias de Zeca, como, de resto, aconteceu com a grande maioria das suas composições), constitui um verdadeiro olhar em volta, amadurecido e calmo, só possível por parte de quem viveu a vida com muita intensidade, com muita paixão.
Uma autêntica viagem entre a utopia e o desencanto, é o que nos oferece Zeca Afonso neste álbum magnífico, onde é possível descobrir todas as memórias cruzadas dos tempos vividos, os desejos insatisfeitos, os sonhos. Onde pode descobrir-se, por exemplo, um dos mais belos poemas sobre o 25 de Abril (Papuça), uma reflexão serena e quase existencial sobre o que se fez e o que ficou por fazer (Canção da Paciência), uma certa angústia que não renega, antes reforça, tudo aquilo por que se passou (Eu Dizia). E, também, a crítica acutilante (O Pais Vai de Carrinho), o prazer dos sons e das novas experiências (Canarinho), a esperança que não morre (Utopia). Um disco ao nível dos melhores, capaz de sobreviver aos tempos e às fronteiras. Viriato Teles
  1. Papuça (José Afonso)
  2. Utopia (José Afonso)
  3. A Nau de António Faria (José Afonso)
  4. Canção da Paciência (José Afonso)
  5. O País Vai de Carrinho (José Afonso)
  6. Canarinho (José Afonso)
  7. Eu Dizia (José Afonso)
  8. Canção do Medo (José Afonso)
  9. Verdade e Mentira (José Afonso)
  10. Altos Altentes (José Afonso)


Galinhas do Mato (1985)

Músicos: Júlio Pereira, Luís Represas, Helena Vieira, Janita Salomé, Né Ladeiras, José Mário Branco

Impossibilitado de cantar devido ao avanço progressivo e impiedoso da sua doença, José Afonso faz editar, em finais de 1985, um novo LP de originais. Dos dez temas que o compõem, apenas dois (Escandinávia Bar e Década de Salomé) são por ele interpretados. Aos restantes emprestaram a voz Helena Vieira (Tu Gitana), Né Ladeiras (Benditos), Luís Represas (Agora) Janita Salomé (Moda do Entrudo, Tarkovsky, Alegria da Criação), Catarina e Marta Salomé (Galinhas do Mato) e ainda José Mário Branco (Década de Salomé, de parceria com Zeca). Um vasto grupo de amigos decidiu apoiar o cantor neste disco novo - e renovado, apesar da doença - contribuindo para, de novo, dar corpo a um notável trabalho de José Afonso. Não é favor dizê-lo: Galinhas do Mato é mesmo um grande disco, e nem a impossibilidade física de o seu autor participar a cem por cento na sua feitura conseguiu retirar a este trabalho um grande brilho e uma grande sinceridade. A prova, afinal, de que as palavras e a música de Zeca são mesmo capazes de resistir a tudo. Mesmo à ausência da voz que uma doença estúpida conseguiu calar. Viriato Teles
  1. Agora (José Afonso)
  2. Tu Gitana (Cancioneiro de Vila Viçosa/José Afonso)
  3. Moda do Entrudo (Popular/ José Afonso)
  4. Tarkovsky (José Afonso)
  5. Alegria da Criação (José Afonso)
  6. Década de Salomé (José Afonso)
  7. Benditos (José Afonso)
  8. Galinhas do Mato (José Afonso)
  9. Escandinávia Bar-Fuzeta (José Afonso)
  10. À Proa (José Afonso)