sábado, junho 30, 2012

Cegos, surdos e mudos

Ontem à noite, em Coimbra, milhares de pessoas fizeram fila contínua, durante mais de meia hora, para entrarem no recinto da Praça da Canção, onde assistiram ao espectáculo SOMOS NÓS OS TEUS CANTORES, homenagem a Adriano Correia de Oliveira e José Afonso com a participação de Sérgio Godinho, Vitorino, Janita, Brigada Victor Jara, Jorge Cruz, Manuel Freire, Raíses de Coimbra, Segue-me à Capela, Paulo Vaz de Carvalho e Mariana Alves da Costa.

No final, Luís Lobo, da organização, diria que "foi fantástico" e "talvez, sem errar, a maior homenagem que se fez a Zeca e a Adriano e logo na cidade que cantaram."
Apesar disso, como se não tratasse de homenagear os dois nomes cimeiros da música popular portuguesa, como se na homenagem não tivessem participado alguns dos mais destacados cantores e músicos portugueses no activo, como se o público não tivesse comparecido em massa no acontecimento, a comunicação social ficou cega, surda e muda: a televisão não viu, a rádio não ouviu e a imprensa nada disse. Assim se maltrata a cultura popular da nossa terra!

terça-feira, junho 19, 2012

Piadas, em bicos de pés

A actual crise do sistema capitalista começou, em 2008, nos EUA, mas rapidamente se desviou para a Europa, num ataque sem precedentes ao Euro por parte dos mercados, que é como quem diz, da acção concertada dos especuladores financeiros e das suas fiéis agências de rating.
Perante este furacão, em quatro anos, o que fizeram a União Europeia e os seus órgãos dirigentes? Rigorosamente nada. Ou pior, abdicaram das suas competências e responsabilidades, entregando a liderança ao eixo alemão-francês, e puseram-se a jeito dos grandes interesses financeiros adoptando uma política de austeridade cega, recessiva e anti-democrática (nalguns casos levou até à substituição de governos eleitos, por gestores nomeados por Bruxelas!).


Agora, quando finalmente até o G 20 (grupo das 20 maiores economias mundiais, de que também fazem parte a UE e, a título individual, Alemanha, França, Itália e Reino Unido) vem alertar para o fracasso da política de austeridade (seguramente com a preocupação que o afundamento da Europa se propague ao resto do mundo) e os países do euro se "dizem" determinados a defender a moeda única — ainda que, mais uma vez, tudo não passe de palavras e intenções daquelas que o inferno está cheio! — Durão Barroso apenas tem para dizer que a Europa recusa receber lições de democracia ou economia
É normal, para nossa desgraça! De um palhaço e anão (sem a mínima ofensa para os ditos!) só podemos esperar piadas (mesmo de mau gosto), em bicos de pés!

segunda-feira, junho 18, 2012

A utopia é amanhã!

Se eu pudesse riscava a palavra utopia dos dicionários. Mas claro não posso, não devo e nem o faria. Eu penso que nós, e há que reconhecer que os jovens são muito sensíveis à idéia da utopia. Mas como toda a gente sabe, digamos, a utopia é alguma coisa que não se sabe onde está. O próprio termo está a dizê- lo: U e topos. Portanto, algo que não se sabe onde está. Que se supõe que existe mas não se sabe onde está. Repara: há uma contradição interna no conceito de utopia, sobretudo no uso que se faz dele como algo que, de repente, toda a gente diz ou diz-se muitas vezes, todos nós precisamos de uma utopia. Eu acho que não precisamos de uma utopia. Então, quando digo que riscaria a palavra utopia e [....] se eu tivesse que substituí-la, então, enfim, substitui-la-ía por uma palavra que já existe: esta palavra é simplesmente amanhã. É para amanhã o trabalho que hoje se faz. Portanto, coloquemos aquilo que é utopia, aquilo que é o conceito, não o coloquemos em lugar nenhum. Coloquemos no amanhã e no aqui. Porque o amanhã é a única utopia [...]. fragmento de entrevista de José Saramago ao programa de rádio Mundo do Fórum, em 2005


José Saramago faleceu fez hoje dois anos. Mas, quem assim fala não morre! As suas ideias, as suas convicções, a sua luz, continuam connosco. 

domingo, junho 17, 2012

Contra a austeridade, a Esquerda perdeu mas não verga

Afinal a Direita pró-troika venceu na Grécia. Mas a vitória foi por pequena margem e não é clara ainda a composição do governo presidido pela Nova Democracia. Com este resultado, uma aliança dos partidos que apoiam a troika, a Nova Democracia e o Pasok, permite a formação de um governo maioritário – devido ao bónus de 50 deputados que a ND conquista por ficar em primeiro lugar. O Pasok, porém, já veio dizer que só aceita ir para o governo se a Syriza também for, o que já foi descartado pela coligação da Esquerda.


Alexis Tsipras, líder da coligação, reconheceu a derrota eleitoral mas insistiu que a única maneira de sair da crise é reverter as medidas de austeridade e garantiu que a Syriza se oporá a uma aliança dos poderes do passado, dentro e fora do país.
“Centenas de milhares de pessoas hoje quebraram o medo. A Syriza enviou ao mundo uma forte mensagem contra a política do memorando. A Syriza garante uma forte oposição contra um governo fraco. Não trairemos a confiança do povo grego.”, declarou.

sábado, junho 16, 2012

Finalmente!

O futuro da zona euro joga-se na Grécia.


Finalmente, os chantagistas do Eurogrupo e do FMI perceberam que estamos todos no mesmo barco e que mantê-lo à superfície (e a navegar) depende, em grande medida, da decisão soberana do povo grego.

sexta-feira, junho 15, 2012

Quem censura (e quem está com) o "governo"?

Cerca de um milhão e duzentos mil desempregados, a queda imparável da economia e a destruição do tecido empresarial, mais de dois milhões de portugueses a (sobre)viverem abaixo do limiar da pobreza e a maioria a desenrascar-se como pode com salários e pensões de miséria e o agravamento brutal dos custos da saúde e da educação e dos preços dos bens de primeira necessidade, dos transportes, da energia, a que se acrescenta uma pesada carga fiscal, são motivos de sobra para censurar fortemente a "governação" responsável por esta tragédia económica e social que empobrece os portugueses e destrói o país.


Por isso, o PCP vai apresentar uma moção de censura contra o Executivo. E o Bloco de Esquerda, naturalmente, vai apoiar favoravelmente a iniciativa. Porque ambos rejeitam frontalmente a continuação da crise social.
O P"SD" e o P"P", que apoiam a política de destruição nacional, são contra a censura ao seu "governo". Compreende-se.
Já o P"S", afirma que não quer uma "crise política", preferindo, portanto, que a crise económica e social continue. Mesmo que se auto-proclame socialista, a sua atitude, por muito que possa doer ao povo de Esquerda, não admira vinda de quem subscreveu e aceitou o Memorando da Troika e a sua política de agressão.

terça-feira, junho 12, 2012

Falta de respeito



Não tenho qualquer respeito por quem não nos respeita e menos ainda por quem nos destrói às suas ordens!


O Governo ameaça a Educação

O diploma — Despacho Normativo 13-A/2012 —, publicado a 05 de junho, aliado à criação dos mega-agrupamentos, à revisão curricular, ao aumento de alunos por turma, ao encerramento dos Centros de Novas Oportunidades e a um conjunto de outras medidas vai ser demolidor.
De acordo com os cálculos e simulações já feitas por alguns directores de escolas, no próximo ano letivo seriam extintos cerca de 15 por cento dos horários docentes, mas com a aplicação deste despacho a percentagem daquela extinção ultrapassará os 20 por cento, garante a Fenprof.


Mas os sindicatos, tantas vezes injustamente acusados de nada fazerem, não desarmam e vão tentar travar nos tribunais o despacho de organização do ano escolar, interpondo uma providência cautelar contra a violação da lei pelo Governo. 

domingo, junho 10, 2012

Teimosia irresponsável e criminosa

Logo no início da crise, quando se verificou que a dívida externa irlandesa atingia a cifra incomportável de 30 por cento do PIB, em grande parte devido à exposição da banca ao investimento em produtos tóxicos, a Irlanda solicitou e recebeu apoio financeiro do BCE.
A Grécia, como todos sabemos, já aplicou o primeiro plano de resgate, que não resultou — como não resultará nenhum plano que não tenha por objectivo o fomento do investimento produtivo, o aumento do emprego e o crescimento económico — e luta desesperadamente, apesar das ignóbeis chantagens da União Europeia e do FMI, pela continuação no Euro e por um novo auxílio que privilegie o desenvolvimento e a solidariedade social, única forma de os gregos honrarem os seus compromissos.
Agora é a Espanha que, a braços com a maior taxa de desemprego da UE e o sistema bancário fortemente descapitalizado, solicita ajuda financeira.
Em Portugal, com mais de um milhão de pessoas no desemprego (que não pára de aumentar devido à queda vertical do investimento e à falência ininterrupta de empresas), um trambolhão do crescimento económico de cerca de 3 por cento do PIB, 2 milhões de portugueses a passarem fome e a viverem abaixo do limiar da pobreza, e a maioria a sobreviver como pode, com salários e pensões de miséria (ou congelados) e gastos com a alimentação, a energia, os transportes, a saúde e a educação cada vez mais insuportáveis, o Primeiro-ministro garante que não vai pedir renegociação das condições do empréstimo e que não há razão para pedir novas condições para Portugal.


Sejamos claros:
Num país em que a esmagadora maioria da sua população está a ser vítima de tamanha austeridade, de tanta malfeitoria — ao ponto de, provavelmente, haver quem já tenha pago com a vida por tal desumanidade! — a teimosia de Passos Coelho é  absolutamente irresponsável e criminosa. Num país decente ele não seria apenas julgado políticamente! Num país decente não se livraria de prestar contas à Justiça! 

quarta-feira, junho 06, 2012

Homens e homenzinhos

D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas, manifestou-se “profundamente chocado” com Passos Coelho, num discurso do Primeiro-ministro que faz lembrar “a União Nacional de má memória” e toma os portugueses como “um povo dócil e bem amestrado”, confessando ter ficado tentado a chamar o povo para a rua.


Destas importantes e desassombradas declarações ressaltam duas conclusões:

Apesar do histórico conservadorismo, alinhamento com o poder estabelecido e colaboração na perpetuação da ordem social, por parte da Igreja, sempre existiram e ainda existem na hierarquia eclesiástica homens capazes de denunciar frontal e publicamente a exploração, a injustiça e a desumanidade, o ataque à liberdade e à dignidade social. Desde João XXIII a Herder Câmara e Oscar Romero, de António Ferreira Gomes e Manuel Martins a Januário Torgal Ferreira!

Já Passos Coelho não passa de um homenzinho, um execrável neo-salazarista com (mais do que) o rabo escondido! No fundo, está "apenas" a pôr em prática os ensinamentos do seu mestre, que um dia afirmou que "somos um povo de brandos costumes" e que "aqui, para governar, um safanão a tempo é quanto basta".

sábado, junho 02, 2012

A tábua de salvação

A luminária Bernard Kouchner, ex-ministro francês, defendeu hoje que a saída da Grécia da Zona Euro poderá ser a única forma de salvar a Europa.
Errado!
A única tábua de salvação para a Europa, em geral, e para os países submetidos à ditadura da Troika, em particular, é a a continuação da Grécia na Eurozona, com a vitória eleitoral da coligação Cyriza e um governo de esquerda que rasgue o acordo de resgate imposto pelos agiotas e exija da União Europeia uma política solidária que promova o crescimento e o emprego.


Que o exemplo da declaração de independência dos gregos alastre e acorde os restantes povos da Europa! Enquanto há força!… 

O regresso à escravatura

filhos-da-p*ta, ditos economistas (cujos nomes me abstenho de pronunciar para não sujar a boca), que têm a distinta lata de defender que a crise e a competitividade da economia portuguesa só podem ser resolvidas com a redução dos salários dos trabalhadores portugueses, que já são dos mais baixos da Europa!


Por mais que lhes mostrem (vd. Teodora Cardoso) que o problema reside na estrutura de produção e na baixa qualificação (e não no corte dos salários, já de si miseráveis, o que nos levaria para o "terceiro" ou "quarto mundo"), o que aqueles c*brões estão a sugerir é o regresso à escravatura e a uma esmola que se limite a assegurar ao trabalhador/ escravo o mínimo de subsistência.
A Troika, de que eles não passam de meros propagandistas, só pode achar bem! Claro!…