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Vivemos numa dessas épocas tenebrosas. O País não está coeso, nem espiritual, nem social nem politicamente. A ética cívica e o sentido da solidariedade, bandeiras republicanas, decompuseram-se de tal modo que, perante as negações, aparentemente sem remédio, a prefiguração do salvador da pátria reemerge do pior dos nossos abismos ancestrais.
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Os crimes (porque de crimes se trata) cometidos em nome da "competitividade", do "desenvolvimento sustentado", da "modernidade", espezinharam quase todas as formas de benevolência e de compaixão. Católicos de genuflexão, rosário e reza, trepados aos diversos Governos, do PS e do PSD, tripudiaram sobre os preceitos mais rudimentares das suas crenças, e alimentaram a ganância, a busca do lucro, o crescendo da precarização do trabalho e do desemprego.
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Dir-se-á: mas os restaurantes estão cheios, as viagens são cada vez mais e para longes sítios, carros há-os por todo o lado. É verdade que há gente feliz. É verdade que há gente cheia de lágrimas. Esta última é a maior de todas as maiorias. O sinistro avejão que paira, medonho, representa um sistema de valores contrário às aspirações populares, e elimina, completamente, a possibilidade de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais comprometida com a própria noção de comunidade e de partilha. Não há sistema sem imposições.
Chegámos a um patamar onde a necessidade de mudança é um imperativo. No entanto, a "mudança" resulta de decisões governativas, nunca de iniciativas presidenciais, a não ser que, subrepticiamente, se pretenda alterações profundas ao regime. Seja como for, a situação tornou-se dilemática. E não está posta de parte a eventualidade de um golpe de Estado constitucional.
Dilectos: aconteça o que acontecer, cá estamos para o que der e vier. Independentemente da consciência das incertezas, Boas-Festas, um Bom Ano, e - por favor! - nunca deixem de lutar para ser felizes!