sábado, março 20, 2010

O vendedor de banha-de-cobra

João César das Neves revela tudo menos ignorância quando afirma que "os que protestam [leia-se 'os funcionários públicos e os trabalhadores do sector empresarial'] não são as vítimas da situação". Um professor universitário de Economia deve saber que isso não é verdade. Deve saber que os salários reais da função pública, exceptuando 2008, têm vindo a cair desde 2001, que os salários reais dos trabalhadores das empresas seguiram a mesma trajectória descendente, que temos mais de um milhão e meio de trabalhadores precários, que o desemprego não tem parado de crescer atingindo agora cerca de 700 000 pessoas. Trata-se, isso sim, de desonestidade intelectual de César das Neves.

O vendedor de banha-de-cobra

Desonestidade que atinge a mais indecorosa má-fé quando o "professor" chega ao cúmulo de acusar os trabalhadores e as suas organizações de, com os seus protestos e reivindicações, serem "os responsáveis pela crise". "Esquecendo" que quem a causou foram especuladores financeiros, banqueiros sem escrúpulos e gestores milionários irresponsáveis, ao substituírem a economia real por uma "economia de casino". "Esquecendo" que os governos esbanjaram milhões para "salvar" o sistema financeiro sem cuidar do retorno do crédito às empresas e às famílias. "Esquecendo" que, ainda agora, o PEC continua a adoptar as "corajosas" receitas de sempre — congelamento de salários e pensões, redução do subsídio de desemprego (dos que o recebem!), extinção dos benefícios fiscais com as despesas de saúde e de educação — enquanto a fraude e evasão fiscal é premiada com o perdão fiscal e as mais-valias bolsistas continuam isentas de tributação.
João César das Neves pode vender a banha-de-cobra que quiser nas aulas mas isso não faz dele um verdadeiro professor. Antes um demagogo e propagandista escondido com o rabo de fora. Não vale a pena perder mais tempo com o homem.

1 comentário:

  1. De facto o tempo que se perde com os sabujos é como se diz "perolas a porcos" contudo, temos de conhecer com quem lidamos.
    Que o sonho de que um dia acordamos, nunca acabe
    luzia

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