A tineta vem de longe pois já D. João V, ao ser informado do exorbitante preço do carrilhão que iria ser instalado no Convento de Mafra, não conteve o seu novo-riquismo e encomendou dois. Mais recentemente, para a realização do Euro 2004, foram construídos oito novos estádios de futebol, a maioria dos quais para nada mais serve senão para estar às moscas, e actualmente, chegou-se à conclusão que o país, afinal, já tem nove auto-estradas a mais, num total de quase setecentos quilómetros.
Apesar disto, os governantes não parecem querer aprender com os erros e dão mostras de não desistir de levar por diante mais obras faraónicas que não só agravarão irreversivelmente a nossa dívida mas comprometerão seriamente o futuro das novas gerações. Em todos estes casos, alguém se enganou nas contas ou com elas nos enganou.
E o nosso Nobel da Literatura, com a sua lúcida ironia, conclui:Onde as contas parece que batem certo é no número de pobres em Portugal. São dois milhões, segundo as últimas informações. Quer dizer, uma expressão mais da nossa histórica mania das grandezas…
Baseado em "Mania das grandezas", de José Saramago