Em nenhumas eleições desta espécie de democracia que é a portuguesa foi tão fácil escrever por antecipação como nas presentes.
E assim posso escrever à sexta-feira de manhã que, à margem de todas as sondagens, estas legislativas antecipadas constituíram a crónica de vencedores anunciados e coligados.
E os vencedores foram as agências de ‘rating', paradigma do império da manipulação sobre as regras de vida democrática, e também o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia presidida pelo dr. Barroso — que prega austeridade para os pobres e, ao que se diz, esbanja milhões em festanças. E porque é que são estes os vencedores? Ora ainda bem que me fazem essa pergunta. Porque os primeiros provocaram uma crise, elevando os custos de resgate da dívida para níveis insustentáveis; e os segundos, usando o pretexto da crise, impuseram uma mudança política e social radical e de longa duração em Portugal.
Os vencedores das eleições são efémeros: duram uma ou duas legislaturas e depois vergam-se à lei do alterne democrático porque, de algum modo, a actuação dos eleitos fica sujeita a um próximo escrutínio. No caso presente, não houve nem haverá escrutínio para a vitória do FMI e da Comissão Europeia de fundamentalistas neoliberais. As mudanças não ficam sujeitas às legislaturas. Isso será apenas para os gerentes da nova ordem das coisas em Portugal, capatazes que aceitam submeter-se às ordens de patrões não eleitos. As mudanças no plano político, económico e social são para ficar.
Estes são os vencedores. Quanto aos vencidos, o que mais perdeu foi o regime democrático. Pois se até a Constituição da República, em vez de mandar nas leis, vai ser adequada ao que os novos patrões de Portugal já decidiram...
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