quarta-feira, outubro 21, 2009

O Evangelho Segundo José Saramago

Contestar as verdades da Fé e a sapiência dos doutores da Igreja foi, desde sempre, um acto de coragem perseguido pelo Tribunal do Santo Ofício e, quantas vezes, punido exemplarmente com o fogo da Inquisição. Galileu, por exemplo, foi condenado a abjurar publicamente as suas ideias e à prisão por tempo indefinido, e os seus livros foram incluídos no Index, censurados e proibidos, mas o teólogo e frade dominicano Giordano Bruno, por defender ideias semelhantes às de Galileu, teve menos sorte e foi parar à fogueira.
Bem sei que estamos hoje no século XXI e todos estes horrores pertencerão a um passado já distante. Mas também é verdade que só em 1992, mais de três séculos passados sobre a condenação de Galileu, é que a Igreja iniciou a revisão do seu processo e decidiu finalmente pela sua absolvição em 1999!


Dilúvio Universal


Destruição de Sodoma

Não admira, por isso, que hajam iluminados e detentores da verdade que, uma vez mais, queiram silenciar a voz de José Saramago e, se pudessem, quem sabe, censurar as suas obras e incluí-las num qualquer novo Index. Vontade não lhes falta, como se viu aquando do lançamento de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" e se está a assistir agora com "Caim". Iluminados e detentores da verdade que entendem que Saramago, pelos vistos, não tem direito a não acreditar em Deus e a achar que a Bíblia é "um manual de maus costumes e um catálogo de crueldade". Aposto até que muitos esperariam que o escritor, na conferência de imprensa que hoje deu, seguisse o exemplo de Galileu e abjurasse publicamente as suas ideias. Mas Saramago foi igual a si mesmo: coerente, frontal, livre. E acrescentou: "O Deus da Bíblia é vingativo, rancoroso, má pessoa e não é de fiar" — Não hesitou em afogar a humanidade num Dilúvio Universal e destruir cidades inteiras pelo fogo, fazendo os justos e os inocentes pagarem pelos pecadores.
Não. Deus, como o Diabo, é apenas uma criação do Homem, só existe na sua cabeça. E Saramago tem o direito de assim pensar. Enquanto não lhe demonstrarem o contrário.

1 comentário:

  1. "(...) MEÇAS, A QUALQUER PESSOA QUE AME TANTO ESTE PAÍS COMO EU!"
    José Saramago, 21 de Outubro de 2009
    -

    Homero

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