Mário Soares, com outros, não esteve lá. Logo surgiram algumas almas incomodadas pela falta de sentido de Estado do antigo Presidente da República. Por não respeitar as instituições e a data. É o contrário. Soares não é deputado. Como os militares de abril, não ia falar naquela cerimónia. Como eles, a sua presença ou a sua ausência eram a única forma de expressar revolta por o que a maioria eleita está a fazer a este país. Com este gesto, não põe em causa a democracia. O Parlamento lá está, com toda a legitimidade. Não precisa da sua bênção. Mas o 25 de abril não é uma data sem conteúdo político. Exactamente: não é o 10 de Junho. Tem um significado. Sobretudo para aqueles que, como Soares, Alegre, os militares de abril e tantos outros, nele tiveram um papel activo. E há momentos em que escolhemos com quem os celebramos. E em que celebrá-los com quem tem pelos valores do 25 de abril um evidente desprezo pode ser insuportável.
Mário Soares e Manuel Alegre fizeram o que lhes competia: em nome próprio, disseram o que tinham a dizer sobre a destruição deste país. Sem terem de abrir a boca. Os militares de abril fizeram o que lhes competia: sem usarem o seu estatuto de militares, respeitando, como respeitaram desde que voltaram, por vontade própria, para os quartéis, deixaram claro que não se sentiam bem na companhia deste governo. E explicaram porquê.
Bem sei que há muita gente que gostaria de ver o 25 de abril transformado numa data vazia. Ainda não é. Ainda muitos se lembram ou, não se lembrando, lhe dão um sentido mais profundo do que o golpe de Estado que fez cair a ditadura. Terão de esperar mais um pouco para que seja indiferente como e com quem se celebra este momento. Daniel Oliveira (excerto)
Não se celebra Abril com os seus algozes. Por mais institucional que seja a celebração. Até porque, nos dias que correm, mais do que pompa e circunstância, mais do que festa, Abril é luta!
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