quarta-feira, abril 16, 2008

Luta dos professores: balanço e perspectivas

Definitivamente, se foram 90 por cento de 50 mil os professores que ontem avalizaram a assinatura do acordo com o ministério, não se pode falar de uma maioria esmagadora, quer no universo de 145 mil docentes existentes em todo o país, quer tendo como referência os 100 mil que participaram na inesquecível Marcha da Indignação. Será uma maioria — porque em democracia só os votos expressos contam — mas apenas relativa, que não pode levar os dirigentes sindicais a ignorar o profundo descontentamento e a enorme desilusão de largos milhares de professores pelo magro resultado alcançado.
Nunca será demais repetir que o acordo (ou entendimento, se preferirem) apenas soluciona, no imediato e pontualmente, o problema dos docentes contratados ou em vias de progressão. Quanto ao resto, que é o principal, nada resolve. O Estatuto da Carreira Docente, fonte de todas as injustiças, continua intocável, e o modelo de avaliação do ministério, burocrático, subjectivo, iníquo e, por que não dizê-lo, antipedagógico, regressará já em 2008/2009. Isto para não acrescentar ainda o novo modelo de gestão e autonomia escolar, mais uma ofensa à dignidade dos professores e à sua importância na vida da escola.


Tenhamos, por isso, consciência que, apesar da grandiosa luta de massas que os docentes têm travado, mesmo que, por enquanto, não tenham sido derrotados, se alguém ganhou esta primeira batalha foi o governo: primeiro, porque resistiu à demissão, a certa altura inevitável, da incompetente Ministra da Educação; segundo, porque Maria de Lurdes Rodrigues pode repetir, até à exaustão, que a avaliação dos professores não foi suspensa. E, quando as eleições começam a emergir no horizonte, trata-se de uma preciosa vitória política de José Sócrates.
Não haja, portanto, quaisquer ilusões quanto ao entendimento — o essencial, ou seja, quase tudo, está por conseguir! Que ele não sirva para anestesiar e manietar os docentes! A luta recomeça em Setembro, mais intensa que nunca…
Até lá, é tempo de contar as espingardas e afinar a táctica. E continuar a protestar, às segundas à noite, para não se apagar a chama, como canta José Afonso.

4 comentários:

  1. Sábado, dia 12, às 9h56 escrevi no meu blogue um post com título: «Vitória importante… mas foi só uma batalha. A guerra ainda está para durar e vai ser muito dura!»
    http://fjsantos.wordpress.com/2008/04/12/vitoria-importante-mas-foi-so-uma-batalha-a-guerra-ainda-esta-para-durar-e-vai-ser-muito-dura/
    É porque tenho consciência da dureza da guerra e da sua duração que considero essencial a união de todo o exército e fico perplexo com a forma como muitos professores elegem como inimigo principal os únicos representantes legais que têm para negociar com o poder.
    Afinal o que é que se pretende? Alguém imagina que se consiga rever o ECD, o recém promulgado diploma da gestão ou o do Ensino Especial contra este 1º ministro? Alguém está à espera que a plataforma sindical faça o trabalho que tem que ser feito por todos os portugueses (e não só pelos professores) de mudar os partidos que governam há trinta anos, para poder mudar as políticas que prejudicam todos os portugueses?
    Afinal, que vitória queremos? Mudar de ministra, ou mudar de governo?
    http://fjsantos.wordpress.com/2008/04/16/que-vitoria-queremos-mudar-a-ministra-ou-mudar-o-governo-os-professores-nao-estao-sos/

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  2. Caro FJSantos

    Para que não subsistam dúvidas, o que me move, enquanto professor, não é tanto a queda deste governo ou a demissão da sua ministra da Educação, mas sobretudo a mudança da sua política educativa, ao menos no que a nós diz respeito. Por isso, ainda que a avaliação dos docentes seja o problema prioritário a resolver, não devemos descartar a necessidade de se rever o ECD, fonte de todas as injustiças, e questionar seriamente o novo modelo de gestão, objectivos que a própria Plataforma Sindical reconhece. Se conseguirmos mobilizar para esta(s) causa(s) o apoio ou a compreensão dos alunos, dos pais e da população em geral, tanto melhor. Mas, para isso, apesar da nossa diversidade de opiniões e posições, temos obrigatoriamente de estar unidos. Digo eu, que sou sindicalizado na Fenprof e conheço pessoalmente Mário Nogueira, por quem tenho uma enorme consideração, mas acho que o que se conseguiu é por demais insignificante em relação ao potencial de luta demonstrado pela nossa classe.
    E já agora, para acabar, é evidente que não estou à espera que a plataforma sindical faça o trabalho que tem que ser feito por todos os portugueses […] para poder mudar as políticas que [os] prejudicam, mas também não aceito que a luta dos professores seja dissociada do protesto mais geral da nossa população, contra uma política que não resolve os seus problemas mais essenciais. Mesmo que ela venha de um governo dito socialista. Sendo eu socialista.

    Obrigado pelo seu comentário.
    Abraço solidário.
    Maio

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  3. Não sendo eu nem socialista, nem sindicalista, não conhecendo pessoalmente nenhum dirigente sindical, penso que no essencial estamos de acordo: só é possível alterar as políticas mantendo a união.
    Infelizmente, tendo estado em diversas reuniões de movimentos autónomos de professores, dei por mim a verificar que os colegas que até ao dia 8 de Março clamavam por uma união de todos os sindicatos, agora que finalmente temos uma plataforma sindical unida, resolveram pôr-se em bicos de pés e passaram a fazer o que antes criticavam aos sindicatos: julgarem-se donos dos professores que protestam. E o que é mais ridículo, imaginarem-se porta-vozes dos 100 mil manifestantes.
    É preciso ter cuidado, porque o ridículo mata tanto como o divisionismo que (em minha modesta opinião) desta vez está a ser promovido pelo governo com a ajuda (consciente ou inconsciente) destes movimentos.

    Finalmente quero dizer-lhe que não acredito que se mudem as políticas públicas de educação (nem as outras políticas sociais) com este governo e com este 1º ministro. Terá que ser outro PS a fazer essas mudanças, mas esse outro PS só terá alguma força se os partidos à esquerda crescerem o suficiente para o impedir de se aliar ao PSD.
    É por isso que os professores sozinhos nada mudarão.

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  4. À guisa de esclarecimento, reafirmo que sou socialista mas não sou militante do PS e muito menos me revejo nas políticas anti-sociais deste P"S"; e embora reconheça a importância do sindicalismo na organização das lutas dos trabalhadores e na defesa dos seus interesses de classe e desde sempre tenha sido sindicalizado, também não sou sindicalista.
    Apesar de considerar que a luta dos trabalhadores não se esgota no movimento sindical e que os movimentos autónomos de base podem dar um precioso contributo à mobilização e reforço da consciência colectiva — e a luta dos professores, que culminou na gigantesca Marcha da Indignação, é disso um exemplo insofismável —, e entenda que, do nosso lado, ninguém tem o direito de pôr em causa uma unidade tão indispensável como difícil de conseguir, julgo que ninguém — nem mesmo os dirigentes sindicais — pode ficar imune à crítica. Sobretudo, quando ela não passa, como no meu caso, de um modesto contributo para a necessária reflexão sobre o que (não) foi conseguido. É que, perante as palavras de satisfação do inimigo principal com a manutenção da sua ministra e a continuação do seu modelo de avaliação, não posso deixar de concluir que, pelo menos para já, fomos nós que perdemos uma batalha; e, mais grave, de recear que, após esta desilusão — para muitos, foi — não consigamos recuperar o entusiasmo, a força e, principalmente, a unidade, para a luta que teremos, forçosamente, de continuar a travar!…
    De resto, como você, também eu não acredito que se mudem as políticas públicas de educação (nem as outras políticas sociais) com este governo e com este 1º ministro. Terá que ser outro PS a fazer essas mudanças, mas esse outro PS só terá alguma força se os partidos à esquerda crescerem o suficiente para o impedir de se aliar ao PSD.
    Só não concordo consigo quando conclui que os professores sozinhos nada mudarão. Na minha opinião, insisto que poderíamos e deveríamos ter ido mais longe, não apenas em proveito próprio, mas também no contributo que, indirectamente, poderíamos ter dado para acabar com a maioria absoluta de um governo autista e arrogante que pouco ou nada tem feito para melhorar as condições de vida dos portugueses.

    Abraço solidário
    Maio

    PS — Desculpe o "lençol"…

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