País de Abril
São tristes as cidades sob a chuva
e as canções que se atiram contra as grades
— minha pátria vestida de viúva
entre as grades e a chuva das cidades.
É triste o cão que ladra no canil
quando é março ou abril e lhe prendem as pernas
é triste a primavera no País de Abril
— minha pátria perfil de mágoas e tabernas.
É triste: uns vestem-se de abril outros de trapos.
Tu ó estrangeiro é só por fora que nos olhas
— minha pátria bordada de farrapos
capa de trapos remendada a verdes folhas.
Abril tão triste no País de Abril. Por fora
é tudo verde. (Abril com máscaras de festa).
Por dentro — minha pátria a rir como quem chora
(A festa da tristeza é tudo o que lhe resta).
Abril tão triste no País de Abril. Aqui
a noite. Aqui a dor. Meninos velhos
— minha pátria a chorar como quem ri
em surdina em silêncio. E de joelhos.
Manuel Alegre, Praça da Canção, 1965
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