domingo, outubro 23, 2005

Ainda bem que já não tenho filhos em idade escolar!…

É sabido que as escolas públicas não podem seleccionar os seus alunos, estando obrigatoriamente abertas a todos os jovens que nelas pretendam matricular-se. Naturalmente que, por esse facto, os seus resultados dependem da área geográfica onde estão situadas e são, em larga medida, condicionados pela situação sócio-económica das famílias dos seus alunos.

Acresce que as escolas públicas têm normalmente uma dimensão muito superior às escolas privadas, sendo o seu rácio alunos/ professor (ou sala) geralmente mais elevado que o das suas congéneres, o que também não funciona propriamente a favor de uma mais fácil aprendizagem dos seus alunos.

Dito isto, elaborar um
ranking das escolas supostamente “objectivo” e, pior do que isso, pretender analisá-lo “friamente” sem levar em linha de conta aqueles condicionalismos, parece-nos incorrecto, para não dizer que é pouco sério e que outra coisa não visa senão, mais uma vez, fazer um “julgamento popular” à escola pública, condenando-a como culpada de todos os males do ensino, no nosso país.

Pelas razões acima enunciadas, compreende-se perfeitamente que os primeiros lugares do ranking sejam ocupados por escolas privadas. O contrário é que seria de admirar.
Mas, nesta onda descabelada de ataque a tudo o que é serviço público, será que alguém quer saber que “se regista, ao longo dos anos, uma evolução positiva da representatividade das instituições públicas”? Que “este ano, no «top 10», constam três escolas do Estado, mais uma que no ano passado”? Que “enquanto em 2004 havia 29 escolas públicas nas 50 primeiras posições, este ano aquele número sobe para 31, o que traduz uma representação claramente maioritária de 62% de instituições estatais”? Que as escolas públicas, apesar de serem assim tão “más”, conseguiram alcançar os melhores resultados nas disciplinas de Física e de Português-B? Será que alguém quer saber que, apesar das vantagens que desfrutam, há imensas escolas privadas nos últimos lugares do ranking?


E, qual "cereja no cimo do bolo", a primeira classificada da lista é uma minúscula escola com apenas 25 candidatos submetidos a exame, exclusiva para meninas, que se dá ao luxo de ter turmas com apenas 8 alunas, papás da classe média alta que não têm problemas em desembolsar 400 € de mensalidade e mamãs “domésticas” cuja única tarefa é procriar e “educar” os filhos, Religião e Moral (Católica, bem entendido) obrigatória (que os santinhos também ajudam). Não sei se as meninas têm aulas de Lavores e Actividades Domésticas mas usam farda. Só não estão inscritas na Mocidade Portuguesa Feminina porque acabou em 1974, suponho eu!…

É esta a Educação e a Escola que querem para as nossas crianças e os nossos jovens? Se é — e desculpem o meu egoísmo — ainda bem que já não tenho filhos em idade escolar!…

1 comentário:

  1. Sim, de facto é de louvar a evolução positiva que refere por parte das escolas públicas, de centenas de escolas mais UMA no ranking face ai ano homólogo. Ufa.
    Agora quanto aos constrangimentos que refere, não esquecer que são para ambas tanto para a vertente pública como para a privada.
    Quanto ao nº de alunos por turma, se no privado são menos não é certamente para ganharem mais dinheiro, é sim para se conseguir melhores condições de ensino, ou seja a comparação tem de ser interpretada e não apenas lida. Está-se a comparar escolas e não turmas. O ME devia era olhar para estes rankings e aprender com eles, mas nem para os estudos sérios que se fizeram em 2003 relativamente ao abandono escolar olha, quanto mais. E os pais, mais importante do que dizerem mal do publico/privado deviam era estudar melhor o tema em vez de irem para a fila das matrículas no dia anterior só porque a televisão falou bem daquela escola.

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